O app lançou para esse período de festas uma página que simula informações sobre a folia de rua, a fim de despistar os agressores. Quando a vítima abre o aplicativo, surge na tela uma página colorida, com uma máscara de Carnaval e o título Bloquinho - Hoje é Dia. O balanço do celular, então, acionará o sistema de ajuda.
Para isso, é preciso se cadastrar previamente, indicando contatos de confiança, chamados de "anjo". Essas pessoas recebem o pedido de ajuda e a localização da vítima, que é atualizada a cada 30 segundos.
O aplicativo, que é gratuito, também permite marcar e pesquisar áreas de risco, entrar em contato com autoridades e obter informações sobre a delegacia da mulher mais próxima. As marcações das folionas vão mudar a cor das regiões de risco, que podem ficar amarelas, laranjas ou vermelhas, dependendo do número de registros.
O app foi criado em 2020, em meio à explosão de violência doméstica na pandemia, por um jovem da zona norte de São Paulo, Mateus de Lima Diniz, à época com 20 anos. Ele conhece esse drama porque, quando criança, presenciou a mãe ser vítima de agressões. O app começou a ser desenvolvido por Mateus quando ele estava no ensino médio, como trabalho de conclusão de curso da Etec Prof. Horário Augusto da Silveira.
Em 2022, o aplicativo venceu o ExpoFavela, voltado a empreendedores e startups de favelas, cuja fase final foi exibida pelo programa É de Casa, da Globo.
Desde o lançamento, de acordo com Mateus, o Todas por Uma já enviou mais de 1.500 mensagens de vítimas, foi disponibilizado em 30 países, entre eles o Canadá, os Estados Unidos, Moçambique e a Holanda. Atualmente, tem cerca de 30 mil usuárias.
O jovem trabalha agora no lançamento de um chip com inteligência artificial para ser instalado em acessórios femininos, como um relógio, que é acionado por um toque. A ideia de criar o chip, segundo Mateus, tem como base o fato de que, em muitos casos de violência doméstica, o agressor tirar o celular da vítima. O chip, que se conecta às informações do app, foi batizado de Nice, nome da mãe de Mateus.
A nova campanha do Todas por Uma é resultado de uma parceria com a Comissão Feminina do Carnaval de Rua de São Paulo, coletivo criado em 2019 e que reúne mulheres integrantes de cerca de 60 blocos da capital paulista.
Segundo Mateus, a sensibilidade do aplicativo foi testada e não há risco de ele acionar o pedido de socorro apenas com a mulher dançando no Carnaval, mas sim quando ela estiver balançando o aparelho com as mãos. Além disso, ele explica, é preciso também que o app seja aberto pela vítima, uma forma de evitar possíveis alarmes falsos.
NOVA LEI
No ano passado, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), sancionou uma lei que obriga bares, restaurantes, casas noturnas e eventos a adotarem medidas de auxílio a mulheres que se sintam em situações de risco.
Entre as regras está a de oferecer uma pessoa para acompanhar a vítima até um meio de transporte ou até que ela comunique o problema à polícia.
Já o Governo Federal, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e do Conselho Nacional de Justiça, lançou campanhas contra a violência no Carnaval, que pode ser denunciada pelo Disque 100.
Além disso, coletivos feministas têm divulgado nas redes sociais informações na tentativa de combater a violência contra a mulher no Carnaval. Entre elas, a de exemplos de atitudes que podem ser configuradas como importunação sexual, que é um crime, como beijo forçado, passada de mão e puxão de cabelo.