A derrocada do time sub-23 comandado por Ramon Menezes não é a origem exclusiva de frustração envolvendo a Amarelinha nos últimos tempos. O cenário é mais amplo.
Mais do que resultados, o quadro aponta para uma tendência problemática ligada à gestão das seleções feita pela CBF.
Mas também é resultado de escolhas equivocadas por parte dos treinadores e erros de jogadores em momentos cruciais.
O trabalho de Ramon está sob análise e a CBF deve se manifestar sobre o futuro dele depois de uma reunião com o treinador na volta ao Brasil.
OS RESULTADOS
Na seleção principal masculina, 2023 trouxe uma esperança não concretizada na vinda do técnico Carlo Ancelotti, enquanto soluções paliativas -o próprio Ramon Menezes e Fernando Diniz- trouxeram derrotas em amistosos e nas Eliminatórias.
O Brasil está em sexto lugar nas Eliminatórias e viu tabus acabarem. Por exemplo, perdeu em casa pela primeira vez nas Eliminatórias, logo para a Argentina, no Maracanã, em jogo com pancadaria.
Na principal feminina, o Brasil caiu da Copa do Mundo ainda na fase de grupos, não passando por adversários historicamente mais fracos, como a Jamaica. A solução imediata foi demitir a técnica Pia Sundhage e trazer Arthur Elias do Corinthians.
Na base, o efeito positivo que a conquista do Sul-Americano Sub-20 trouxe, sob o comando do próprio Ramon, não se sustentou. A seleção sub-20 foi eliminada para Israel nas quartas de final do Mundial.
Ramon até conquistou o ouro nos Jogos Pan-Americanos, mas trata-se de uma medalha que não passa perto da prateleira mais alta do time sub-23.
No Mundial Sub-17, o Brasil também caiu nas quartas de final. Levou 3 a 0. De quem? Da Argentina.
QUESTÃO ESTRUTURAL
O Brasil passou recentemente por problemas de representatividade no comando da CBF: Ednaldo Rodrigues chegou a ser afastado da presidência pela Justiça. Um dos argumentos para a volta dele foi a necessidade de enviar a lista dos convocados do Brasil para o Pré-Olímpico, já que a Fifa e a Conmebol não reconheciam a administração interina de José Perdiz. Ironicamente, o Brasil não vai a Paris-2024 de qualquer jeito.
Na seleção principal, Ednaldo adotou a estratégia inicial de concentrar o poder e as decisões. Ele não contratou um diretor para o setor ou um coordenador técnico. O trato era direto com o treinador no cargo. Foi Ramon no começo do ano, quando o Brasil perdeu para Marrocos e Senegal -só ganhou da Guiné. Foi com Fernando Diniz, quando vieram os tropeços nas Eliminatórias (empate com a Venezuela e derrotas para Colômbia e Argentina).
O sonho era trazer o técnico Carlo Ancelotti, mas a saída temporária do cargo fez o negócio ruir e o italiano renovou com o Real Madrid. Ednaldo trouxe Dorival como solução definitiva, mas ainda não concluiu a reestruturação da seleção. Aguarda Rodrigo Caetano para ser diretor e tenta trazer Juan, do Flamengo, como coordenador.
Na base, a seleção tem Branco como coordenador. Mas a CBF, de modo geral, passou sufoco e não conseguiu negociar com antecedência a liberação de jogadores para as competições. O que fez com que as listas fossem alteradas de última hora. Ainda por cima, lesões aumentaram a dor de cabeça.
Ramon foi um nome trazido por Ednaldo para a estrutura da CBF, no primeiro ato como presidente eleito, em março 2022.
Na feminina, Ednaldo terminou a passagem da técnica Pia Sundhage, contratada na gestão Rogério Caboclo. A aposta é em Arthur Elias. A seleção feminina, pelo menos, tem vaga olímpica e estará em Paris.
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