De acordo com os relatos, o homem negro, um motoboy de 40 anos, foi esfaqueado próximo ao pescoço por um homem de 72 anos quando estava sentado em frente a um restaurante, no bairro Rio Branco.
Após um desentendimento entre a vítima da agressão e policiais que chegaram ao local da ocorrência, o motoboy foi algemado e levado para a delegacia no camburão, enquanto o suspeito seguiu no banco de trás de outro veículo.
Em nota, a Brigada Militar afirmou que o Comando de Policiamento da Capital abriu "sindicância para apurar as circunstâncias da abordagem".
Nas redes sociais, o governador Eduardo Leite (PSDB) disse que determinou "absoluta celeridade" na investigação.
Na delegacia foram feitos três boletins de ocorrência. A Brigada Militar registrou um BO de resistência contra o motoboy, que por sua vez comunicou ter sido vítima de lesão corporal por parte do idoso e de abuso de autoridade pelos policiais. Ambos acabaram liberados.
Imagens gravadas por testemunhas mostram que o motoboy foi puxado pela camisa por um policial quando a situação já estava sob controle. Neste momento, o motoboy diz: "Quem está errado é ele!", apontando para o suposto agressor. O policial então responde "dá uma segurada", e em seguida empurra a vítima contra a parede, ordena que ele coloque as mãos na cabeça e o algema.
O suspeito tenta deixar o local, em meio à revolta das pessoas que assistem à cena. "Isso é racismo puro", alguém diz, no vídeo.
A psicanalista Marina Pombo, integrante do Conselho Estadual de Direitos Humanos, afirmou ter visto quando o suspeito desceu do prédio e foi em direção a um grupo de motoboys que estava em frente a um restaurante.
"A gente estava na fila do restaurante. Vimos esse senhor sair do prédio em direção aos motoboys. Não vimos bem o que aconteceu, mas esse rapaz deu um pulo para trás. Os motoboys começaram a gritar e nos aproximamos para ver o que tinha acontecido", disse ela.
O professor Renato Levin Borges, que também estava no local, filmou as cenas logo no início da confusão. Segundo ele, o motoboy foi esfaqueado no pescoço. "Quando a gente chegou perto, viu que ele estava com uma faca. A gente começou a tentar separar e ligar para a polícia. O agressor tentou esfaqueá-lo de novo", afirmou.
"Os colegas dele [motoboy] contaram que estavam conversando e que esse senhor, que mora bem em frente do restaurante, vive implicando com ele."
Marina Pombo afirma que, ao chegar ao local, o policial foi direto em direção ao motoboy para revistá-lo. "O agressor não sofreu abordagem nenhuma", afirmou. Ela disse ainda que o idoso subiu ao apartamento para vestir uma camisa e só foi algemado após protestos das testemunhas.
"Ele subiu sozinho para o apartamento e desceu vestindo uma camisa, bem tranquilo. Todo mundo começou a gritar que tinha que algemar. Algemaram com as mãos para a frente. Começaram a gritar e aí um policial virou ele de costa. Ele foi no banco de trás da viatura", disse a psicanalista.
"Na delegacia havia cinco ou seis policias conversando com o agressor no banco de trás da viatura, dando risada. Enquanto isso a vítima estava na sala de custódia", acrescentou.
O advogado Ramiro Goulart, que acompanhou o motoboy na delegacia, afirmou que se trata de um "caso paradigmático de racismo estrutural". "Os policiais têm um comportamento e uma leitura de mundo que protegem o branco e partem do pressuposto que a conduta ilícita é do negro, do que tem menor poderio econômico."
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