Isabella recebeu o diagnóstico de dengue em um domingo e, ao longo da semana, os sintomas não mudaram. No entanto, na sexta-feira (16), apareceu prurido na região das mãos e dos pés, a famosa "coceira". No mesmo dia, a visão foi afetada.
A jovem narra que tudo começou com um embaçamento no campo visual do olho esquerdo, que foi piorando progressivamente. Dois dias depois, na segunda-feira (19), ela foi até a cidade de São Paulo para se consultar com um médico que já havia atendido um paciente com sintoma parecido. Neste ponto, Isabella estava com apenas 3% da visão de um olho e 20% do outro.
"Em São Paulo, o médico me informou que o vírus teve um tropismo pela retina dos meus olhos. O vírus se identificou pela retina e viu nela um ambiente favorável para se replicar, e por isso, meu sistema imune começou um processo inflamatório para tentar impedir a proliferação. Com o processo inflamatório, minha visão foi afetada. E por conta da grande inflamação que ocorreu na retina, teve alguns danos que podem ser irreversíveis", explicou.
Isabella está no último ano do curso de Medicina, na UFMS. Foto: Reprodução
"Hoje, minha visão não é a mesma de antigamente. Tenho dificuldade para diferenciar algumas cores, preciso usar o modo de acessibilidade do celular e do computador, onde as letras são maiores e as cores são mais nítidas, pois hoje, estou enxergando com melhor nitidez apenas cores fortes como preto e amarelo. Também, meu olho esquerdo ficou com um embaçamento na região central da visão, mas que é compensado pelo olho direito, que hoje está melhor recuperado", informou Isabella.
Isabella também foi informada que, atualmente, não existe um prognóstico da condição. Como a dengue é causada por um vírus, ainda não há tratamentos específicos que combatem ou impeçam a proliferação do invasor no organismo. A paciente só saberá se vai haver algum grau de sequela definitiva com o tempo.
Contudo, o quadro de saúde de Isabella é esperançoso. Com poucas semanas de tratamento desde o início do sintoma, ela está com 80% da visão.
"Hoje eu estou bem animada com o processo de recuperação, pois a cada dia eu estou melhorando um pouquinho mais, sem deixar essa situação me abalar", destacou a jovem.
O médico infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que a dengue é uma doença sistêmica, ou seja, ela comete vários órgãos e tecidos do organismo, em diferentes intensidades.
Mesmo que alguns órgãos não sejam afetados, há a circulação do vírus pela corrente sanguínea que pode provocar algumas alterações. Segundo o infectologista, fígado, coração, rins e até os olhos podem ser afetados, como foi o caso da Isabella.
"Eu já vi casos de comprometimento hepático bem, bem grave. A resposta imunológica provocada pela presença do vírus pode causar danos a alguns tecidos ou alguns órgãos específicos. Nós temos também comprometimento neurológico, por exemplo, síndrome de Guillain-Barre ou encefalite. Felizmente, são observações muito, muito, muito raras", destacou o médico.
Além de destacar que essas sequelas são raríssimas, Rivaldo ressalta que normalmente elas são revertidas.
"No entanto, infelizmente, não são 100% dos casos com comprometimento grave, como os envolvimentos de coração e fígado (principalmente), que se recuperam plenamente", completou.