De acordo com o texto para discussão O Setor de Defesa Brasileiro no Exterior: Desafios, Oportunidades e SubsĂdios para a Revisão dos Documentos de Defesa, a preferĂȘncia Ă© um resquĂcio do alinhamento do Brasil com os Estados Unidos como ocorria à Ă©poca da Guerra Fria (1947-1991).
A predileção pelos EUA nas cooperações militares fica mais remissa quando considerado o cenĂĄrio internacional multipolar atual. "DaĂ defronte a um aumento da competição entre grandes potĂȘncias, com crescente influĂȘncia de China, Ăndia e RĂșssia, um excessivo e assimĂ©trico vĂnculo pode não ser tão produtivo quanto buscar diversificação de parcerias, caracterĂstica tradicional da polĂtica externa brasileira."
O estudo foi elaborado com base em registros publicados no DiĂĄrio Oficial da União, de informações coletadas na Biblioteca da PresidĂȘncia da RepĂșblica e da base de dados "Concórdia", acervo de atos internacionais do Brasil mantido pelo MinistĂ©rio das Relações Exteriores. A partir dessas informações, a anĂĄlise contempla mais de uma dezena de indicadores sobre a atuação internacional do setor de defesa.
Segundo o material apurado, os Estados Unidos são o paĂs em que os militares brasileiros mais fazem cursos de pós-graduação: 27 estudantes nos trĂȘs anos observados - o triplo do Reino Unido que fica em segundo lugar. No perĂodo, 134 militares brasileiros frequentaram algum curso nos EUA, e 97 eram oficiais superiores (com patente a partir de major).
A aglutinação das cooperações militares nos EUA desfavorece interesses da polĂtica externa do Brasil, assinala a publicação. "Ao concentrar em um Ășnico parceiro, da forma como verificamos nesse perĂodo, perdemos a oportunidade reunir conhecimento sobre paĂses que são importantes no cenĂĄrio internacional e que estão em espaços de decisão multilaterais, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas", descreve o economista Pedro Silva Barros, tĂ©cnico de planejamento e pesquisa do Ipea, em nota publicada pelo instituto. O economista tambĂ©m tem formação na Escola Superior de Defesa (ligada ao MinistĂ©rio da Defesa) e escreveu o texto para discussão em parceria com os pesquisadores Paula Macedo Barros e Raphael Camargo Lima
Publicado no fim de fevereiro, o texto "busca contribuir para o debate pĂșblico", diz Pedro Barros à AgĂȘncia Brasil. AtĂ© o fim deste semestre, o Poder Executivo deverĂĄ encaminhar para apreciação do Congresso Nacional a nova PolĂtica de Defesa Nacional, a nova EstratĂ©gia Nacional de Defesa e o novo Livro Branco de Defesa Nacional - um documento pĂșblico sobre modernização das Forças Armadas, o suporte econômico da defesa nacional, a participação em operações de paz e ajuda humanitĂĄria e outras informações pĂșblicas, "que o Brasil apresenta ao mundo, sobre visão e os seus interesses e a sua polĂtica de defesa", informa Barros.
Após as conclusões, o estudo traz 14 recomendações polĂticas para a atuação internacional do setor de defesa, entre as quais a de dar prioridade ao "entorno estratĂ©gico brasileiro", que inclui a AmĂ©rica do Sul, o Atlântico Sul, os paĂses da costa ocidental africana e a AntĂĄrtica; a reativação sob novas bases, da Escola Sul-Americana de Defesa"; e "propor mecanismos de colaboração em ensino e capacitação de defesa no âmbito de outras ĂĄreas estratĂ©gicas para o Brasil", como a Comunidade dos PaĂses de LĂngua Portuguesa e paĂses banhados pelo Atlântico Sul.
*A AgĂȘncia Brasil entrou em contato com o MinistĂ©rio da Defesa para se posicionar, mas não obteve resposta atĂ© a publicação do texto.