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Ipea analisa alinhamento entre Brasil e EUA em cooperações militares

"Os Estados Unidos figuram como o principal destino dos postos e missões militares brasileiras no exterior", diz estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Por Midia NAS em 06/03/2024 às 09:02:43

"Os Estados Unidos figuram como o principal destino dos postos e missões militares brasileiras no exterior", diz estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).


Segundo a anĂĄlise do Ipea, relativa ao perĂ­odo de 2020 a 2023, "a alta recorrĂȘncia de capacitações e de cooperações militares nos Estados Unidos (EUA) aponta para um desalinhamento entre os objetivos gerais apresentados na PND [PolĂ­tica Nacional de Defesa] e na END [EstratĂ©gia Nacional de Defesa], uma vez que concentra as influĂȘncias polĂ­ticas, estratĂ©gicas e doutrinĂĄrias preponderantemente em um Ășnico paĂ­s."

De acordo com o texto para discussão O Setor de Defesa Brasileiro no Exterior: Desafios, Oportunidades e SubsĂ­dios para a Revisão dos Documentos de Defesa, a preferĂȘncia Ă© um resquĂ­cio do alinhamento do Brasil com os Estados Unidos como ocorria à Ă©poca da Guerra Fria (1947-1991).

"A presença norte-americana tem sido grande historicamente desde o Tratado Interamericano de AssistĂȘncia RecĂ­proca (TIAR), assinado em 1947, criação da OEA [Organização dos Estados Americanos], em 1948, a assinatura do Acordo Militar Brasil-Estados Unidos em 1952 - denunciado [extinto] em 1977 -, a existĂȘncia das Comissões de Aquisições do Brasil em Washington, e a expansão dos mecanismos institucionais regionais liderados pelos EUA na ĂĄrea de defesa como a ConferĂȘncia de Ministros da Defesa das AmĂ©ricas, criada em 1995, o William J. Perry Center for Hemispheric Studies, criado em 1997, e a própria Junta Interamericana de Defesa [criada em 1942, antes da OEA]."

CenĂĄrio multipolar

A predileção pelos EUA nas cooperações militares fica mais remissa quando considerado o cenĂĄrio internacional multipolar atual. "DaĂ­ defronte a um aumento da competição entre grandes potĂȘncias, com crescente influĂȘncia de China, Índia e RĂșssia, um excessivo e assimĂ©trico vĂ­nculo pode não ser tão produtivo quanto buscar diversificação de parcerias, caracterĂ­stica tradicional da polĂ­tica externa brasileira."

O estudo foi elaborado com base em registros publicados no DiĂĄrio Oficial da União, de informações coletadas na Biblioteca da PresidĂȘncia da RepĂșblica e da base de dados "Concórdia", acervo de atos internacionais do Brasil mantido pelo MinistĂ©rio das Relações Exteriores. A partir dessas informações, a anĂĄlise contempla mais de uma dezena de indicadores sobre a atuação internacional do setor de defesa.

Segundo o material apurado, os Estados Unidos são o paĂ­s em que os militares brasileiros mais fazem cursos de pós-graduação: 27 estudantes nos trĂȘs anos observados - o triplo do Reino Unido que fica em segundo lugar. No perĂ­odo, 134 militares brasileiros frequentaram algum curso nos EUA, e 97 eram oficiais superiores (com patente a partir de major).

Conselho de Segurança

A aglutinação das cooperações militares nos EUA desfavorece interesses da polĂ­tica externa do Brasil, assinala a publicação. "Ao concentrar em um Ășnico parceiro, da forma como verificamos nesse perĂ­odo, perdemos a oportunidade reunir conhecimento sobre paĂ­ses que são importantes no cenĂĄrio internacional e que estão em espaços de decisão multilaterais, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas", descreve o economista Pedro Silva Barros, tĂ©cnico de planejamento e pesquisa do Ipea, em nota publicada pelo instituto. O economista tambĂ©m tem formação na Escola Superior de Defesa (ligada ao MinistĂ©rio da Defesa) e escreveu o texto para discussão em parceria com os pesquisadores Paula Macedo Barros e Raphael Camargo Lima

Publicado no fim de fevereiro, o texto "busca contribuir para o debate pĂșblico", diz Pedro Barros à AgĂȘncia Brasil. AtĂ© o fim deste semestre, o Poder Executivo deverĂĄ encaminhar para apreciação do Congresso Nacional a nova PolĂ­tica de Defesa Nacional, a nova EstratĂ©gia Nacional de Defesa e o novo Livro Branco de Defesa Nacional - um documento pĂșblico sobre modernização das Forças Armadas, o suporte econômico da defesa nacional, a participação em operações de paz e ajuda humanitĂĄria e outras informações pĂșblicas, "que o Brasil apresenta ao mundo, sobre visão e os seus interesses e a sua polĂ­tica de defesa", informa Barros.

Após as conclusões, o estudo traz 14 recomendações polĂ­ticas para a atuação internacional do setor de defesa, entre as quais a de dar prioridade ao "entorno estratĂ©gico brasileiro", que inclui a AmĂ©rica do Sul, o Atlântico Sul, os paĂ­ses da costa ocidental africana e a AntĂĄrtica; a reativação sob novas bases, da Escola Sul-Americana de Defesa"; e "propor mecanismos de colaboração em ensino e capacitação de defesa no âmbito de outras ĂĄreas estratĂ©gicas para o Brasil", como a Comunidade dos PaĂ­ses de LĂ­ngua Portuguesa e paĂ­ses banhados pelo Atlântico Sul.

*A AgĂȘncia Brasil entrou em contato com o MinistĂ©rio da Defesa para se posicionar, mas não obteve resposta atĂ© a publicação do texto.

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