A favela é, a cada dia mais, reconhecida como potência econômica e como mercado consumidor em potencial, dos mais diversos tipos de produtos e serviços. Conforme o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil possui atualmente mais de 6,5 milhões de domicílios em favelas, abrigando aproximadamente 17 milhões de pessoas. Segundo a pesquisa realizada pela Outdoor Social Inteligência em 2022, a capacidade de dinheiro movimentado nas comunidades subiu de R$ 159 bilhões para R$ 167 bilhões em 2022, em comparação ao ano anterior.
Diante desse cenário, empreender na favela se mostra não apenas uma oportunidade de negócio de sucesso, mas também como uma forma de empoderar as comunidades e impulsionar o desenvolvimento econômico local. No entanto, além de oportunidades, esse ambiente único apresenta uma série de desafios que os empreendedores devem entender e estar preparados para superar.
A seguir, confira 5 lições essenciais para aqueles que almejam estabelecer negócios bem-sucedidos nessas áreas. Essas lições abrangem desde compreender as necessidades locais até construir parcerias estratégicas e adaptar-se à realidade econômica e social. As dicas são de Pedrinho Jr., CEO do Carteiro Amigo Express, logtech que atua na Rocinha e em mais 6 favelas cariocas. Ele nasceu e cresceu nessa que é considerada a maior comunidade do Brasil, com 67 mil habitantes.
Antes de iniciar qualquer empreendimento na favela, é importante realizar uma profunda pesquisa sobre a comunidade e suas necessidades. Isso envolve não apenas entender as demandas do mercado local, mas também compreender toda a dinâmica social, cultural e econômica da favela. Ter um negócio que resolva uma dor latente e tenha um modelo escalável.
Conversar com moradores, líderes comunitários e outros empreendedores locais pode fornecer ideias valiosas sobre as lacunas existentes e as oportunidades de negócios potenciais. “Ao conhecer bem o que a comunidade busca e [aquilo de que] precisa, os empreendedores podem desenvolver produtos e serviços que realmente resolvam problemas e atendam às demandas locais”, diz Pedrinho Jr.
Nas favelas, as conexões comunitárias desempenham um papel fundamental no sucesso dos negócios. “Construir parcerias estratégicas com cooperativas, associações ou grupos comunitários não apenas amplia a base de clientes, mas também constrói confiança e credibilidade, além de abrir portas para colaborações e oportunidades de crescimento”, diz Pedrinho Jr. Ao trabalharem em conjunto, os empreendedores podem superar desafios compartilhados e fortalecer a economia da favela.
Estratégias de precificação devem ser desenvolvidas considerando a capacidade de compra da comunidade Imagem: Andrey_Popov | ShutterstockA realidade das favelas brasileiras é diferente de quem vive no “asfalto” e frequentemente caracterizada por desafios como: acesso limitado a crédito, instabilidade financeira e informalidade do mercado e das relações de trabalho.
“Para ter sucesso nesse ambiente, os empreendedores precisam desenvolver estratégias flexíveis, que se adaptem às condições locais. Isso pode incluir a adoção de modelos de negócios inovadores, como o compartilhamento de recursos com outros empreendedores locais, e a implementação de estratégias de precificação que levem em consideração a capacidade de compra da comunidade”, explica Pedrinho Jr.
O acesso à educação e capacitação profissional pode ser limitado em muitas favelas brasileiras, mas investir no desenvolvimento pessoal e profissional dos membros da comunidade é essencial para o sucesso a longo prazo.
“Oferecer programas de treinamento em habilidades empresariais, gestão financeira e tecnologia pode capacitar empreendedores locais a administrarem seus negócios com eficácia e enfrentarem os desafios do mercado“, diz. Além disso, ao investir na educação da comunidade, cria-se um ambiente mais favorável ao crescimento econômico e ao desenvolvimento sustentável da favela como um todo.
Com certeza, empreender na favela demanda uma dose extra de resiliência e capacidade de adaptação. Os empreendedores enfrentarão uma série de obstáculos, desde flutuações econômicas até questões de segurança e mudanças na legislação. No entanto, aqueles capazes de se adaptarem rapidamente às mudanças têm mais chances de superar esses desafios e prosperar de forma sustentável.
Ao permanecerem abertos à mudança e dispostos a ajustar suas estratégias conforme necessário, os empreendedores não apenas sobreviverão, mas também prosperarão em um ambiente empresarial dinâmico e em constante evolução.
“Empreender nas favelas do Brasil pode ser desafiador, especialmente para aqueles que não têm acesso à educação formal, mas também é gratificante quando você consegue emergir. Seguir estas cinco lições pode capacitar empreendedores a liderar negócios bem-sucedidos que não apenas geram lucro, mas também impulsionam o desenvolvimento econômico e social das comunidades, inspirando outros a seguir o mesmo caminho. Com determinação, criatividade e um compromisso genuíno com o aspecto social, é possível alcançar os objetivos do negócio e gerar um impacto positivo em benefício das comunidades”, finaliza Pedrinho Jr.
Por Beatriz Bradley