O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, que cogita renunciar ao cargo, permaneceu em silêncio nesta sexta-feira pelo segundo dia consecutivo, uma decisão inédita que deixou o país desconcertado. Sánchez anunciou na quarta-feira (24) em uma carta, de maneira surpresa, o cancelamento de todos os seus compromissos públicos até segunda-feira (29), quando anunciará se deixará o posto de chefe de Governo, irritado com os ataques da oposição contra sua esposa, Begoña Gómez, por uma suposta relação profissional com empresas que receberam ajuda pública. Um gesto que não tem precedentes na história do país e que deu lugar ao silêncio absoluto do líder socialista.
Se há uma região da Espanha que tem sido um reduto de Sánchez, tanto nas disputas internas como nas eleições gerais, esta é a Catalunha. Com a sua liderança, os socialistas recuperaram a prefeitura de Barcelona após um intervalo de 12 anos e parecem próximos de conquistar o governo da região nas eleições de 12 de maio. Por este motivo, Sánchez sempre foi muito ativo na Catalunha. Porém, o início da campanha para as eleições regionais, na quinta-feira, pareceu estranho sem a presença dele e transformou sua ausência em um tema dominante. “Da sua resistência individual, convocamos uma resistência colectiva e afirmamos, Pedro, que estamos contigo”, afirmou o candidato socialista ao governo da Catalunha, Salvador Illa. Os outros partidos catalães, no entanto, minimizaram os motivos apresentados por Sánchez para permanecer em silêncio, incluindo estar “profundamente” apaixonado pela esposa. “Também sou apaixonado pela minha mulher e não abandono”, disse Pere Aragonés, atual presidente catalão e candidato da Esquerda Republicana da Catalunha, em um comício. As reações à atitude de Sánchez foram divididas: os socialistas apoiaram um líder que consideram ter recebido um tratamento injusto, enquanto a oposição duvida da sinceridade de um gesto que acreditam responder a alguma estratégia. O Partido Popular (PP, conservador), o maior da oposição, acusou Sánchez de esconder algo e deixar o país em suspense, sem uma justificativa. Sánchez, 52 anos, fez o anúncio poucas horas depois de um juiz ter aceitado um pedido para investigar Begoña Gómez por suspeitas de tráfico de influência e corrupção, após uma denúncia apresentada por organização ligada à extrema direita. O Ministério Público pediu o arquivamento da denúncia. Não há pistas sobre o que Sánchez decidirá, mas analistas citaram a possibilidade de que ele convoque uma moção de confiança para que o Congresso reitere o seu apoio, ou que opte por renunciar. Caso decida pela segunda hipótese, a Espanha poderia seguir para novas eleições gerais nas quais nada impediria uma candidatura de Sánchez, mas que só poderão acontecer a partir de julho, um ano após as eleições de 2023, nas quais os socialistas ficaram em segundo lugar, atrás do PP, mas conseguiram governar graças a alianças parlamentares. Muitos espanhóis parecem cansados do clima político, como Mercedes Cano, uma professora de francês aposentada de 69 anos. “As pessoas estão cansadas e um pouco decepcionadas com o clima político em geral. Não é apenas se você é de esquerda ou de direita, acho que o desgaste e a desilusão são gerais”, afirmou.
*Com informações da AFP