SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Martinho da Vila, 86 anos, falou sobre a polêmica evolvendo o show da cantora Ludmilla no festival Coachella, nos Estados Unidos. "Ludmilla não entende muito desse assunto de religiões africanas", disse o músico, que prepara um novo álbum, em entrevista à revista Veja.
Em sua apresentação no festival americano, a artista brasileira exibiu num telão a frase "Só Jesus expulsa o Tranca Rua das pessoas", o que foi interpretado como preconceito religioso por pessoas públicas e internautas. Em sua conta no X, a cantora disse que a imagem, parte de uma série de outras fotografias de favelas, foi tirada de contexto, e que respeita as pessoas de todas as fés.
"Tranca Rua é Exu. No passado, Exu era visto como o demônio pelas pessoas. E não é assim, Exu é mensageiro", disse Martinho. "Nós, católicos, temos anjo-da-guarda; e nós, da religião africana, temos Exu. Pegou mal. Parava por aí: 'só Jesus salva', na fala dos evangélicos. Sou religioso, acordo todos os dias e falo: 'Salve Jesus, Saravá meus orixás'. Misturo tudo. E vamos levando, devagar e sempre."
Martinho também falou sobre a Academia Brasileira de Letras. Disse que não se voltaria a se candidatar, porque acredita que os nomes escolhidos já têm apreço da diretoria, mas que, se fosse convidado, aceitaria fazer parte da ABL.
"Lá tem os intelectuais para trocar ideias, conversar. É sempre bom trocar figurinha. A Academia foi fundada por um negro e na história da academia poucos tiveram acesso. Sou ligado aos movimentos negros e eles dizem: 'você tem que ir para lá, temos que ocupar os espaços'. Mas não estou pensando nisso agora não."