A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu à Justiça Federal de Minas Gerais que obrigue as mineradoras Samarco, Vale e BHP a depositar em juĂzo, no prazo de 15 dias, R$ 79,6 bilhões em reparação a prejuĂzos. As empresas respondem pelo rompimento da barragem de Fundão em Mariana (MG), ocorrido em novembro de 2015.
A quantia corresponde à atualização monetĂĄria da condenação das empresas por danos morais coletivos, no valor de R$ 47,6 bilhões. A sentença foi proferida pela 4ÂȘ Vara Federal CĂvel e AgrĂĄria de Belo Horizonte, em ação civil pĂșblica aberta pelo MinistĂ©rio PĂșblico Federal (MPF).
A AGU quer que a Justiça Federal determine o cumprimento imediato da sentença, mesmo que ainda haja recursos das empresas pendentes de julgamento. "JĂĄ Ă© hora do Estado e da sociedade brasileira receberem uma resposta concreta", diz a petição apresentada pela União.
"Este não Ă© um processo judicial ordinĂĄrio, que permite que aguardemos o trânsito em julgado da decisão para que ela tenha efeitos prĂĄticos. Não podemos esperar mais uma dĂ©cada. Ă premente a execução provisória do tĂtulo, pois o meio ambiente e as pessoas afetadas tĂȘm urgĂȘncia na reparação e as causadoras do dano não podem permanecer em situação de conforto, atuando de forma a procrastinar os processos e a responsabilização pelos efeitos de seus atos."
Se o valor não for depositado em juĂzo no prazo, a União pede que a Justiça determine o bloqueio de ativos financeiros das empresas e, caso a medida seja insuficiente para obtenção do valor cobrado, que seja ordenado: penhora de ações com cotação em bolsa de valores; bloqueio de bens imóveis; bloqueio da distribuição de lucros e dividendos a acionistas; e penhora de 5% do faturamento.
Passados mais de nove anos da tragĂ©dia, considerada o maior desastre ambiental causado pelo setor de mineração no Brasil, as mineradoras e as autoridades não alcançaram um entendimento para a reparação dos danos causados.
Ocorrido em 5 de novembro de 2015, o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco, localizada na zona rural de Mariana (MG), liberou no ambiente 39 milhões de metros cĂșbicos de rejeitos de minĂ©rio. Dezenove pessoas morreram. A lama devastou comunidades e deixou um rastro de destruição ambiental ao longo da bacia do Rio Doce, chegando atĂ© a foz no EspĂrito Santo.
Para reparar os danos causados na tragĂ©dia, um Termo de Transação e Ajustamento de Conduta (TTAC) foi firmado em 2016 entre o governo federal, os governos de Minas Gerais e do EspĂrito Santo, a Samarco e as acionistas Vale e BHP Billiton. Com base nele, foi criada a Fundação Renova, entidade responsĂĄvel pela gestão de mais de 40 programas. Todas as medidas previstas deveriam ser custeadas pelas trĂȘs mineradoras.
HĂĄ negociações em andamento para repactuar o processo reparatório. O objetivo Ă© selar um novo acordo que solucione mais de 80 mil processos judiciais acumulados. Nos processos, existem questionamentos sobre a falta de autonomia da Fundação Renova, os atrasos na reconstrução das comunidades destruĂdas, os valores indenizatórios e o não reconhecimento de parcela dos atingidos, entre outros tópicos.
Na semana passada, a União e o EspĂrito Santo rejeitaram uma nova proposta de R$ 90 bilhões para reparação integral dos danos provocados pela tragĂ©dia de Mariana (MG). A quantia englobaria tanto danos materiais como os danos morais coletivos e foi considerada insuficiente pelas autoridades.
O governo mineiro adotou posicionamento diverso e avaliou que houve avanços na nova proposta. Manifestou interesse em negociar com base nela, mas acrescentou que irĂĄ solicitar ajustes às mineradoras.
Nas negociações, mediadas pelo Tribunal Regional Federal da 6ÂȘ Região, os governos pleiteavam o total de R$ 126 bilhões e tinham o apoio das instituições de Justiça que tambĂ©m compõem a mesa: MinistĂ©rio PĂșblico Federal (MPF) e pela Defensoria PĂșblica da União, alĂ©m dos ministĂ©rios pĂșblicos e das defensorias pĂșblicas dos dois estados atingidos.
Edição: Denise Griesinger