PMNAS

Professora chamada de 'macaca' em escola de SP critica descaso

Por Midia NAS em 15/11/2022 às 16:43:27

A lista, que é coletiva e usada para várias turmas e professores durante o dia, havia sido encontrada por volta das 10h daquela segunda-feira por uma colega, que a entregou à direção da Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Professor Linneu Prestes, em Santo Amaro, na zona sul.

A docente, no entanto, só soube mais tarde da ofensa racista, por outro professor. "Ele me perguntou [sobre o caso] porque teria ouvido de estudantes daquela sala comentários a respeito. Fiquei surpresa, porque não fazia ideia, já eram 15h e ninguém havia falado nada", diz Koteban.

A professora começou a procurar pela lista na sala dos professores e na secretaria da escola, quando soube por uma funcionária que a lista já estava na direção. "Percebi o constrangimento porque todos já sabiam."

Às 16h30, um assistente da direção chamou a professora. Segundo Koteban, a proposta da chefia, que sugeriu uma conversa com os alunos, indica que o caso foi tratado como um episódio isolado e de menor gravidade.

"Como se o racismo não fosse estrutural e sistêmico, que precisasse ser combatido de forma institucional", afirma a professora, que diz não ser o primeiro caso de ódio e intolerância na escola.

Ela registrou um boletim de ocorrência na Decradi, delegacia especializada em crimes raciais e de intolerância, no dia 26, e pediu que a gestão da escola tomasse providências.

Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), o caso foi registrado como injúria, e a Polícia Civil já começou as investigações para identificar quem cometeu o crime.

A Prefeitura de São Paulo, por meio da pasta da Educação, afirma que a diretoria regional de ensino responsável pela Linneu Prestes abriu uma apuração interna e que um núcleo de apoio, com psicopedagogos e psicólogos, acompanha o caso.

"A administração municipal repudia qualquer ato de discriminação e racismo dentro ou fora do ambiente escolar", afirma a secretaria da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Ainda segundo a gestão, a Linneu Prestes trabalha a educação antirracista na rotina e em eventos específicos, como "rodas de conversa, apresentação de vídeos para discussão e elaboração de textos e, ainda neste mês, há na programação um seminário, onde alunos e professores irão participar".

A professora se queixa de que ninguém a procurou oficialmente até o momento. Alguns dias após a ofensa, ela voltou a dar aulas e esteve na escola na última sexta (11), mas a única novidade, segundo ela, é que a atividade de educação antirracista programada para quarta (16) não vai acontecer por um problema em uma das impressoras. A diretoria de ensino nega o problema no equipamento e diz que a atividade a ser realizada é coletiva e de conversa.

Koteban critica o que chama de gestão omissa em relação ao tema e afirma que as atividades existentes acontecem por iniciativa dos professores.

"Não se trata de um episódio pontual, mas de uma cultura de violência que não está restrita a esta escola. Só que a gente precisa enfrentar, como educadores", diz ela.

A secretaria de Educação diz que fez contato com a docente e que ela também será ouvida durante a apuração.

Para o fundador da ONG Educafro, frei David dos Santos, a prefeitura tem sido omissa na condução do caso. Segundo ele, a entidade avalia uma ação civil pública por danos coletivos contra a administração e uma queixa no Ministério Público de São Paulo para que a fiscalização seja reforçada.

"Estamos bastante preocupados com a omissão dos governos municipal, estadual e federal, porque conquistamos com muito suor e lágrimas a lei nº 10.639", diz frei David, em referência à lei que estabeleceu o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país. "Para nossa dor, nem 5% das escolas públicas e particulares estão levando a sério esta lei", conclui.

Tags:   Brasil
Comunicar erro
Camara Municipal de NAS

Comentários

Publicidade 728x90 2 Camara Vol 2