Um estudo realizado com apoio de especialista da Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, revela que 61% dos domicílios de Altamira, uma das principais cidades paraenses impactadas pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, apresentam algum nível de insegurança alimentar e nutricional.
O estudo coletou em julho de 2022, cerca de sete anos após o fim da construção de Belo Monte, a radiografia sócio econômica de 500 domicílios representativos, localizados na área urbana de Altamira. Foi verificado que os piores níveis de insegurança alimentar e nutricional estavam associados a domicílios mais pobres, com maior número de moradores, em que os responsáveis possuíam baixo nível de escolaridade e taxas mais elevadas de desemprego. E ainda, que as famílias deslocadas de suas antigas moradias, e posteriormente reassentadas, por causa da construção da barragem, enfrentam um maior grau de insegurança alimentar, como destaca o sociólogo e demógrafo Igor Cavallini Johansen, autor do estudo.
"Eles são uma área de grande concentração de pobreza na cidade de Altamira. Então eu acho que vale a pena olhar, principalmente para essa população e tentar entender não só as causas né disso e diagnosticar quem são essas pessoas, qual é a fonte de renda, o que está faltando pra conseguirem acessar o mercado de trabalho porque existem várias iniciativas, inclusive da Norte Energia, em termos de capacitação, qualificação, mas aparentemente elas não são suficientes elas precisam ser muito aprimoradas".
Igor reforça que o estudo não relaciona o fenômeno da insegurança alimentar em algum nível em 61% dos domicílios de Altamira com a construção de Belo Monte. Mas, apesar de não ser foco do estudo, o pesquisador diz que é preciso refletir como uma região que recebeu bilhões de reais em recursos nos últimos anos, possui índices de insegurança alimentar semelhantes aos de outras áreas urbanas do Brasil que não tiveram a mesma atenção em investimento.
"Entre 2016 e 2022 foram investidos cerca de R$ 6,5 bilhões na região em termos de ações socioambientais e de sustentabilidade. Entretanto a gente olha a a área urbana de Altamira, que era para ser a mais privilegiada, por ser tão central ali para a construção de Belo Monte, e a gente ainda vê níveis alarmantes de insegurança alimentar e nutricional, então isso chamou bastante a nossa atenção".
Segundo a pesquisa, durante a execução da obra, entre 2011 e 2015, o município concentrou a distribuição de bens, serviços e apoio logístico necessários para a construção de Belo Monte, justamente por sua posição estratégica. Mas algumas consequências negativas desse fluxo repentino de pessoas foram o crescimento populacional desordenado, a falta de planejamento adequado dos serviços públicos para a população local e para os migrantes em busca de trabalho.
*Com produção de Joana Lima