Os mexicanos comparecem às urnas neste domingo (2) com duas mulheres como favoritas para se tornar presidente de um país devastado pela violência do tráfico de drogas, onde 10 mulheres em média são assassinadas todos os dias. Claudia Sheinbaum, física e candidata do partido de esquerda no poder, e Xóchitl Gálvez, senadora de centro-direita de raízes indígenas, são as favoritas para governar até 2030 a 12ª economia do mundo, de 129 milhões de habitantes. As duas votaram na Cidade do México.
Meios de comunicação locais divulgaram atrasos para a abertura de várias urnas no país devido a falhas de logística nas cabines eleitorais. Gálvez foi uma das pessoas que tiveram que esperar mais de uma hora e meia para votar. O dia foi marcado também por mortes em incidentes armados em seções eleitorais.
Segundo uma média de pesquisas da empresa Oraculus, Sheinbaum, de 61 anos e de origem judaica, está 17 pontos percentuais à frente de Gálvez, impulsionada pela popularidade do presidente Andrés Manuel López Obrador, seu padrinho político. É um “dia histórico”, disse Sheinbaum neste domingo, antes de votar no sul da Cidade do México. Depois de depositar seu voto, disse aos jornalistas que votou na líder histórica da esquerda mexicana Ifigenia Martínez para a presidência, em “homenagem” a seus anos de luta.
No México, as listas de votação incluem uma caixa em branco que permite votar em um candidato não registrado. Gálvez, também com 61 anos, ficou em uma longa fila para votar na Cidade do México e tirou fotos com apoiadores. “Que o povo decida (…) Fiz meu trabalho, deixei minha alma nessa campanha, não parei um único dia, com o sol, com 48 graus”, disse ela. “Viva a democracia!”, afirmou. Em terceiro lugar nas pesquisas, com 11%, está o centrista Jorge Álvarez Máynez, um ex-deputado de 38 anos.
Os apoiadores de Sheinbaum consideram que ela garante o legado de López Obrador, que foi eficiente em sua gestão como prefeita da Cidade do México (2018-2023) e que é uma “inspiração” para as mulheres neste país com altos índices de violência de gênero, no qual cerca de 10 mulheres são assassinadas diariamente, segundo a ONU. Ambas as candidatas se comprometeram a manter as ajudas sociais do atual governo.
Cerca de 100 milhões de eleitores foram convocados a votar neste pleito de turno único. No México, não há reeleição presidencial ou voto obrigatório. Com cerca de 20.000 cargos em disputa, essas são as maiores eleições da história do país. Além do cargo de presidente, que provavelmente será ocupado por uma mulher pela primeira vez na história do país, os mexicanos elegem governadores e parlamentares. O chefe do governo da Cidade do México também será escolhido. O cargo era ocupado pela presidenciável Claudia Sheinbaum até junho do ano passado.
A violência política prejudicou essas eleições, nas quais cerca de 30 candidatos foram assassinados, de acordo com a ONG Data Cívica. A vítima mais recente foi um candidato a um cargo local no estado de Michoacán (oeste), Israel Delgado, 35 anos, assassinado a tiros horas antes do início das eleições, informou o Ministério Público regional. “Fala-se de 25, 30 (candidatos assassinados), mas eles não estão aqui neste dia e isso é muito lamentável, declarou Gálvez.
Outras duas pessoas foram mortas neste domingo (2) em incidentes armados em seções eleitorais no Estado de Puebla, na região central do México. Uma mulher foi morta em um tiroteio que se seguiu a um ataque a uma seção eleitoral no município de Tlapanalá, onde agressores desconhecidos roubaram materiais eleitorais. Outra pessoa foi morta perto de uma seção eleitoral na cidade de Coyomeapan, também ligada ao roubo de documentos eleitorais, acrescentou a fonte do governo estadual. A vítima seria um militante do Partido Verde.
As autoridades estão investigando relatos de que o incidente teria sido resultado de um confronto entre movimentos políticos rivais. Cerca de 450 mil pessoas foram assassinadas no México e dezenas de milhares estão desaparecidas desde 2006, quando o então governo optou por adicionar os militares à luta contra as máfias.
No sábado (1), uma série de ataques e a presença de supostos criminosos obrigaram autoridades a suspender as eleições gerais nos municípios de Pantelhó e Chicomuselo, no estado de Chiapas, que faz fronteira com a Guatemala.
A expansão do crime organizado “é o problema mais assustador” para quem vencer as eleições, opina Michael Shifter, pesquisador do Inter-American Dialogue, um grupo de reflexão com sede em Washington. O vencedor ou a vencedora também terá o desafio de manter os programas sociais quando o déficit fiscal subiu para 5,9% e o crescimento médio nos últimos seis anos foi de apenas 0,8%.
Outro desafio será o relacionamento com os Estados Unidos, o destino de 80% das exportações mexicanas, especialmente se Donald Trump voltar ao poder. Trump ameaçou deportações em massa de migrantes que cruzam a fronteira binacional de quase 3.200 km. Além disso, em 2026, os dois países e o Canadá terão que renegociar seu acordo comercial T-MEC.
Nestas eleições, a esquerda também está buscando ampliar a maioria simples que tem no Congresso para aprovar reformas controversas, incluindo uma na esfera judicial, além da manutenção da prefeitura da Cidade do México, seu reduto.
*Com informações da AFP e do Estadão Conteúdo