Em um mês, o Reino Unido passará por eleições legislativas que podem dar ao país o quarto primeiro-ministro em menos de dois anos. Isso porque o Partido Trabalhista, segundo as pesquisas, aparece à frente, com 45% das intenções de votos, o que indica uma posição imbatível para acabar com 14 anos no poder do Partido Conservador, do primeiro-ministro Rishi Sunak, também candidato nas eleições de 4 de julho. De acordo com as pesquisas, os conservadores estão com 20% das intenções de voto, seguido pelo Reform UK, liderado por Nigel Farage, arquiteto do Brexit, com 15%. Sunak chegou ao poder em outubro de 2022, assumindo o lugar de Liz Truss, que renunciou ao cargo. Ela tinha substituído Boris Johnson, que também tinha desistido de ser premiê após uma série de polêmicas. O primeiro-ministro britânico de origem indiana antecipou as eleições e dissolveu o Parlamento. A decisão foi tomada após uma reunião do conselho de ministro. As eleições, que deveriam ocorrer até janeiro de 2025, foram antecipadas para 4 de julho, devido à pressão sobre Sunak, agravada por pesquisas desfavoráveis aos conservadores.
No começo de maio, após as eleições locais no Reino Unido que deram vantagem para o Partido Trabalhista e um revés para os conservadores — que aparentam estar divididos e desgastados, com dificuldades em cumprir algumas das promessas feitas antes do Brexit, especialmente no combate à migração e em relação ao crescimento econômico —, os vencedores tinham pedido para que Sunak adiantasse as eleições gerais para o este ano, e não mais para o segundo semestre de 2025. Algo que foi “atendido” pelo premiê. “Blackpool fala por todo o país, estamos fartos após 14 anos de fracasso, 14 anos de declínio, queremos virar a página e começar de novo com o trabalhismo”, declarou o líder do partido, Keir Starmer, apontado há meses pelas pesquisas como futuro primeiro-ministro. A derrota em Blackpool South, noroeste da Inglaterra, foi a 11ª eleição local que os conservadores perderam desde o pleito de dezembro de 2019, no qual haviam triunfado liderados por Boris Johnson.
Apesar na vantagem nas pesquisas, as perspectivas também não apontam um cenário perfeito para o Partido Trabalhista, que perdeu apoio em comunidades com uma grande população muçulmana, num contexto de críticas à sua posição no conflito entre Israel e Hamas em Gaza. Contudo, eles receberam apoio de 120 personalidades do mundo empresarial, em uma medida que parece confirmar a confiança dos círculos econômicos no favorito para as eleições. “Nós, diretores e investidores de empresas britânicas, acreditamos que chegou o momento da mudança”, argumentam os signatários, entre os quais estão diretores atuais e anteriores do banco JPMorgan, do aeroporto de Heathrow e do fabricante de carros Aston Martin.
“Durante muito tempo, nossa economia sofreu com a instabilidade, falta de crescimento e falta de foco a longo prazo”, analisam, argumentando que os trabalhistas, um partido de centro-esquerda, “demonstraram que mudaram e querem trabalhar com as empresas para alcançar todo o potencial econômico do Reino Unido”. Para angariar votos, o primeiro-ministro conservador Rishi Sunak busca atrair os aposentados prometendo cortes de impostos de 95 libras em 2025-2026, até alcançar as 275 libras em 2029-2030. “Essa medida ousada demonstra que estamos ao lado dos pensionistas”, argumentou Sunak.
Favorito para vencer as eleições, Keir Starmer, de 61 anos, nasceu em Londres e foi nomeado Cavaleiro da Ordem do Império Britânico pela rainha Elizabeth II, por seus serviços à Justiça criminal, embora não costume se apresentar como “Sir”. Ele é líder da oposição trabalhista, ex-advogado especialista em direitos humanos e atuou na Procuradoria da Inglaterra e de Gales. Desde sua chegada à liderança trabalhista em 2020, tenta equilibrar o partido mais ao centro, após anos mais esquerdistas com Jeremy Corbyn, acusado de deixar o antissemitismo prosperar em suas bancadas. Para seus apoiadores, é pragmático, confiável e preparado para colocar o Reino Unido, em declive econômico, nos trilhos. Seus críticos denunciam suas mudanças de direção, sua falta de carisma e dificuldades em estabelecer um plano claro para o futuro do país.
Aos 44 anos, Rishi Sunak, atual premiê, aparece na segunda posição das pesquisas das eleições britânicas. Ele está no cargo desde outubro de 2022, quando sucedeu Liz Truss, forçada a deixar o cargo 49 dias após assumi-lo com um projeto orçamentário que gerou pânico nos mercados, e tentará ser eleito ela primeira vez pelos britânicos. Sunak, contudo, possui o índice de popularidade mais baixo da história dos primeiros-ministros britânicos, segundo as pesquisas. O ex-ministro da Economia, de origem indiana, é o primeiro chefe de governo com raízes asiáticas no Reino Unido e o mais jovem dos últimos 200 anos. O empresário levou estabilidade ao caos dos anos Boris Johnson e reduziu a inflação à metade, em plena crise do aumento do custo de vida. Não cumpriu, porém, várias de suas promessas, como o envio de imigrantes irregulares para Ruanda e a redução da espera no serviço de saúde pública NHS.
Apesar de ter dito no final de maio que não concorreria às eleições legislativas, Nigel Farage mudou de opinião e anunciou sua candidatura a no dia 3 de junho, alegando que o pleito precisar ser mais “animado”. Aos 60 anos, o ex-deputado de extrema direita é uma das personalidades políticas mais controversas do Reino Unido. O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump chamou-o de “Sr. Brexit”, após convencer a maioria dos britânicos a votar a favor de uma ruptura com a União Europeia em 2016. Farage é novo líder do partido Reform UK, legenda eurofóbica, anti-imigração e hostil às políticas ambientais.
O líder do Liberais Democratas (LD, Liberal Democrats), Ed Davey, não tem chances de ser eleito, mas tanto ele como a formação do primeiro-ministro escocês John Swinney, o Partido Nacional Escocês (SNP, Scottish National Party), podem ter a palavra final. Davey, de 58 anos, espera que o seu partido conquiste algumas vagas no sul da Inglaterra, o que permitiria aos centristas permanecerem à frente do SNP, o terceiro maior partido no Parlamento. Swinney, embora não concorra nestas eleições, também pode influenciar o resultado. Uma das líderes dos ambientalistas do Partido Verde (Green Party), Carla Denyer, de 38 anos, espera conquistar uma vaga em Bristol (sudoeste de Inglaterra) para reforçar a presença deste grupo, que tem apenas quatro deputados no Parlamento.
*Com informações da AFP e EFE