SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cerca de dois anos e meio depois de tornar pública sua acusação de plágio contra Adele, o compositor brasileiro Toninho Geraes processou a cantora britânica. Ele pede R$ 1 milhão de indenização a ela, seu produtor e três gravadoras que representam a obra da artista, entre as quais Sony e Universal, que têm sedes no Brasil.
O processo diz respeito à música "Million Years Ago", que o compositor afirma ter a mesma melodia de "Mulheres", mais conhecida na voz de Martinho da Vila. Geraes quer receber todo o valor que Adele lucrou com a faixa, que faz parte de seu penúltimo álbum, "25", lançado há nove anos.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa da cantora e de seu produtor, Greg Kurstin. A Sony afirmou que não comenta o caso, e a Universal, contatada na tarde de segunda-feira por e-mail, não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Advogado do compositor, Fredímio Trotta diz que, antes de processar Adele, tentou um acordo extrajudicial, mas a artista não se manifestou, e suas gravadoras disseram não ter responsabilidade sobre a composição da obra, apenas sobre sua distribuição.
Segundo o advogado, no entanto, as empresas têm de ser responsabilizadas porque também lucraram com o suposto plágio, ainda que possam não ter tido essa intenção.
Trotta também atribui o tempo levado para ingressar na Justiça à produção de análises das partituras de ambas as canções, que são suas principais evidências para sustentar o plágio, junto de vídeos que sobrepõem uma faixa à outra.
Há ainda outros indícios em sua petição, como o produtor de Adele ter estudado MPB e uma das professoras de educação física da artista ser brasileira, o que levaria, em sua visão, a artista ter conhecido "Mulheres".
A indenização diz respeito apenas a danos morais. O valor relacionado aos direitos autorais que teriam sido violados ainda são incalculáveis, por depender de dados sigilosos de vendas e audiência, aos quais ele só terá acesso mediante a um mandado da Justiça.
O processo foi protocolado no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em fevereiro e está em tramitação de uma vara para outra, onde Geraes já move um processo contra a Universal, responsável por "Mulheres", sob a acusação de não o ajudar a cobrar seus direitos autorais da britânica.
Segundo Trotta, não há uma previsão para a Justiça analisar a petição e marcar uma audiência, mas ele diz ter pedido urgência, conforme previsto na legislação, por seu cliente já ser idoso -Geraes tem 62 anos.
Ele afirma ainda que decidiu processar Adele no Brasil, e não no Reino Unido, porque o compositor não teria condições de arcar com as custas processuais no exterior.
Trotta diz não ter dúvida de que ganhará o processo. Seu cliente, ele lembra, não é o primeiro a processar um artistas estangeiro por plágio.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Rod Stewart, processado por copiar a melodia de "Taj Mahal", de Jorge Ben Jor, em "Do Ya Think I'm Sexy". Stewart teria composto o hit após passar um Carnaval no Rio de Janeiro, na década de 1970, e Ben Jor saiu vitorioso dos tribunais.
O inverso também já aconteceu, principalmente na era dos samples -como é chamada a reprodução do trecho de uma música já existente noutra, seja no puro copia e cola, seja a partir de novos arranjos.
Ainda no ano passado, Nelly Furtado pediu dinheiro à cantora Treyce, recém-alçada à fama, por copiar a melodia de "Say It Right" no refrão de "Lovezinho", um dos hits do Carnaval retrasado.
Antes, em 2021, a dupla Ávine e Matheus Fernandes teve de compartilhar o valor que ganharam com seu hit "Coração Cachorro" com James Blunt, por terem copiado o uivo de "Same Mistake", que ficou famosa no Brasil nos anos 2000 por ter feito parte de trilha sonora da novela "Duas Caras", de Aguinaldo Silva, na TV Globo.