Lambretas, mexilhões, ostras, sururus e vieiras são adquiridos em mercados públicos e feiras locais pela equipe formada com apoio da Voz dos Oceanos, projeto liderado pela família Schurmann, e enviados ao laboratório do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP).
Durante 70 dias, as pesquisadoras devem percorrer mais de 6.000 km de estrada ao longo de 20 cidades litorâneas. A parada mais recente foi na Bahia e a previsão é de que a expedição termine em 14 de julho.
BIVALVES. Formados por uma concha de duas partes, chamadas de valvas, os animais bivalves "filtram" materiais poluentes do oceano, incluindo microplásticos. E quem se alimenta deles também ingere o material. Um dos motivos para a escolha por esses animais é que o seu consumo ocorre de forma integral. Dos peixes, por exemplo, descartamos as vísceras, o que diminui a concentração de microplásticos.
Um total de 410 bivalves foi adquirido durante a expedição até o momento. Os organismos são processados, congelados e enviados a análise laboratorial. Até 12 de junho, foram enviadas ao IOUSP as primeiras amostras coletadas: 32 mexilhões e 30 ostras em Itajaí; 30 ostras em Paranaguá; 30 mexilhões e 19 ostras em Santos; 30 mexilhões em São Sebastião; 30 mexilhões e 29 ostras em Angra dos Reis; 31 mexilhões no Rio; 30 mexilhões e 30 sururus em Vitória; 31 ostras em caravelas; e 28 lambretas e 30 sururus em Salvador. Os próximos destinos são: Aracaju (SE); Maceió (AL); Recife (PE); João Pessoa (PB); Natal (RN); Fortaleza (CE); São Luiz (MA) e Belém (PA).
O tempo médio de processamento das amostras é de quatro a seis horas, dependendo do tipo e da quantidade de bivalves, diz a bióloga marinha Marília Nagata, doutoranda em Oceanografia pelo IOUSP e uma das tripulantes da expedição. "Esse projeto é o mais amplo e mais ambicioso, do ponto de vista de abrangência geográfica, para se estudar os microplásticos em animais consumidos por nós", diz o líder do estudo, professor Alexander Turra, do IOUSP, coordenador da Cátedra da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) de Sustentabilidade Oceânica.
Ao investigar as diferentes características dos microplásticos, a iniciativa também deve rastrear a origem desse material, o que pode abranger fibras e derivados de apetrechos de pesca. "Com isso, poderemos propor sugestões específicas para combater as diversas fontes de poluição marinha no País", diz Turra.
A partir da padronização internacional das coletas e métodos de análise, será possível comparar os dados não só entre as cidades brasileiras, mas entre outras partes do globo. "Isso vai ajudar a indicar como o Brasil está em relação a outros países e regiões do planeta, nas quais temos uma quantidade variável e diferentes tipos de poluição", observa o pesquisador. Uma das hipóteses é de uma maior concentração de poluentes em áreas mais urbanizadas.
LABORATÓRIO. O projeto prevê ainda a criação de um laboratório de quantificação e tipificação de microplástico no IOUSP, com o apoio do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e a Shimadzu, empresa de instrumentos analíticos e de medição. A ideia é de que alunos da USP e de outras universidades sejam capacitados no local, onde poderão analisar amostras de microplástico, fomentando a produção científica sobre o tema e sua aplicação prática. "Num futuro não muito distante, esse tipo de análise vai acabar se tornando rotineira na análise de água, nas estações de tratamento de água e de esgoto, e no selo de inspeção federal para comercialização segura de alimentos", diz Turra.
Segundo David Schurmann, CEO da Voz dos Oceanos, em expedições marítimas nos últimos dois anos, a iniciativa registrou a presença de plástico e microplástico em cerca de 100 destinos de mais de 10 países das Américas e da Oceania. Esta é a primeira expedição terrestre realizada pelo projeto.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.