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Perda do valor: em 30 anos, um real se transformou em oito centavos

'Tivemos um período muito longo para conseguir estabilizar a moeda em patamares decentes', explica a economista Carla Beni Quando aplicado o fator de correção, R$ 1 de 2024 equivale a apenas R$ 0,08 de 1994, ano em que foi implementado o Plano Real no Brasil.

Por Midia NAS em 29/06/2024 às 08:51:34

'Tivemos um período muito longo para conseguir estabilizar a moeda em patamares decentes', explica a economista Carla Beni

Quando aplicado o fator de correção, R$ 1 de 2024 equivale a apenas R$ 0,08 de 1994, ano em que foi implementado o Plano Real no Brasil. A correção foi feita utilizando a calculadora do Cidadão do Banco Centrale indica uma perda de valor da moeda nacional no período de 30 anos. Entretanto, esse é um processo natural, como explica Carla Beni, economista e professora de MBAs da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Em todo esse tempo, o Brasil também mudou. A população saltou de 146,8 milhões de pessoas, de acordo com o Anuário Estatístico do Brasil, 1994, divulgado pelo IBGE, para 203 milhões, segundo o Censo de 2022. Em termos de alfabetização, o país chegou a 93% de letrados saindo de 81,6% nos anos 1990. A esperança de vida ao nascer também foi ampliada: de 69 para 75,5 anos. Já a taxa de mortalidade infantil caiu de 69,1 para 12,9 para cada mil nascidos vivos.

Todas essas mudanças ocorreram após um contexto de estabilização da moeda e contenção da inflação, como explica Beni. Em quatro perguntas, a especialista contextualizou a importância de se ter um Real com valor estável para a resiliência econômica do país. Confira os pontos principais da entrevista.

Economista e professora da FGV comenta as três décadas do Plano Real (Foto: Jean Menezes de Aguiar/FGV)

Fizemos uma consulta à Calculadora do Cidadão do Banco Central, com correção pelo IGP-M, e encontramos que R$ 1 de 1994 equivaleria a R$ 12,22 de 2024. Isso significa que nossa moeda sofreu uma perda de valor ao longo do período?

Todas as moedas perdem valor ao longo de um tempo como esse, que são 30 anos, então isso é natural, até o dólar perde valor nesse período. Então, comparando com o nosso cenário anterior do Plano Real, que nós chegamos a ter 2200% de inflação em um ano, nós estamos com um ganho muito grande perto do que nós tínhamos como realidade. Mas sim, a moeda perdeu o valor ao longo dos 30 anos.

“Os países precisam de uma moeda minimamente estável para que você possa fazer políticas públicas que melhorem a qualidade de vida da população”.

A memória da inflação alta dos anos 1980 continua sendo um pesadelo para muitos brasileiros, mas tivemos três décadas relativamente estáveis desde então. Quais são os principais fatores que contribuem para uma maior resiliência do atual sistema econômico do Brasil?

Não vou concordar que a inflação da década de 1980 continua sendo um pesadelo. Não, ela não continua sendo um pesadelo mais para ninguém porque há uma construção nossa ao longo desses 30 anos. Lembrando que o plano real levou um bom tempo para ser implementado. Nós, em 1999, com 5 anos de Plano Real, iniciamos o cálculo da taxa Selic. Ela era 45% ao ano. Tivemos um período muito longo para conseguir estabilizar a moeda em patamares decentes, foi um processo com várias etapas. Desde que a moeda se estabilizou num patamar mais normal, mesmo tendo períodos com inflação maior até do que outros países, nós nunca mais voltamos para aquele cenário. Isso é realmente um feito do Plano Real, da forma como ele foi feito e de como ele foi implementado.

Outros índices, como a taxa de desemprego e indicadores de desenvolvimento humano e alfabetização, também melhoraram no período. É possível fazer uma correlação entre esses indicadores e uma moeda mais estável?

Os países precisam de uma moeda minimamente estável e crível do ponto de vista interno para que você possa, em seguida, fazer políticas sociais, políticas públicas que melhorem a qualidade de vida da população. Imaginando que você sai de um cenário no qual a inflação chegou a 50% ao mês, você não consegue fazer nenhum tipo de trabalho a esse respeito. Primeiro, é preciso estabilizar a moeda e depois fazer os planos todos, como foi criado o Bolsa Família [por exemplo], que inclusive iniciou no governo Fernando Henrique com outro nome, e outros programas posteriores para que, justamente, você consiga retirar o processo inflacionário que acentua nos desequilíbrios, acentua na distribuição de renda. A inflação piora a vida dos mais necessitados porque quem tem sobra de renda coloca seu dinheiro no mercado financeiro, faz aplicações e consegue corrigir a distorção do processo inflacionário e quem tem menos renda, num país inflacionário, literalmente come menos.

“Quem tem menos renda, num país inflacionário, literalmente come menos”.

Países vizinhos, como a Argentina, tiveram crises mais pronunciadas que as brasileiras nessas últimas décadas. Existe algum fator especial que torne a nossa moeda mais estável que a dos vizinhos?

O processo inflacionário da Argentina está fortemente atrelado a ele não ter reservas cambiais e não ter dólares provenientes do superávit do saldo total do Balanço de pagamentos. Então, o Brasil ter estabilizado a moeda, ter feito políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população, ter pagado a sua dívida com o FMI e ter credibilidade Internacional e conseguir fazer reservas internacionais, é fundamental para você poder estabilizar o câmbio e não sofrer um problema como a Argentina tem hoje.

Fonte: R7

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