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AmĂ©rica do Sul tem destaque no combate à fome no mundo, diz FAO

A AmĂ©rica do Sul tem um papel de destaque no combate à fome no mundo.

Por Midia NAS em 24/07/2024 às 15:56:48
Foto: Cultura e Saúde - WordPress.com

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A AmĂ©rica do Sul tem um papel de destaque no combate à fome no mundo. Programas de proteção social e de transferĂȘncia de renda altamente desenvolvidos colocaram os paĂ­ses em posição de destaque, na avaliação do economista-chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o peruano Maximo Torero.

"A pandemia nos fez retroceder 15 anos em relação à fome. São 15 anos de regressão e pobreza. O que aprendemos? Aprendemos que regiões como a AmĂ©rica do Sul tiveram transferĂȘncias de renda, programas sociais que ajudaram muito a recuperar mais rapidamente e Ă© por isso que esta região do mundo conseguiu reduzir os nĂ­veis de fome em 5,4 milhões [de pessoas] num perĂ­odo de dois anos", analisou.

Para Torero, as transferĂȘncias de renda com condicionantes - caso do Brasil - ajudam a melhorar o capital humano e a educação e saĂșde das crianças.

AlĂ©m disso, segundo ele, a AmĂ©rica do Sul Ă© uma região que não tem conflitos e que decidiu investir mais nos sistemas agroalimentares.

Para ele, a vanguarda de paĂ­ses como o Brasil no desenvolvimento de programas sociais tem apresentado resultados. "A AmĂ©rica Latina tem vantagem sobre outros continentes porque possui um sistema de proteção social altamente desenvolvido. Começou hĂĄ muitos anos com o Brasil e o MĂ©xico e Ă© um sistema que foi sendo aprimorado ao longo do tempo", disse Torero em entrevista à AgĂȘncia Brasil.

Relatório da FAO - divulgado nesta quarta-feira (24) - aponta que uma em cada 11 pessoas pode ter passado fome no mundo em 2023. No Brasil, a insegurança alimentar severa caiu de 8,5% no triĂȘnio 2020-2022 para 6,6% no perĂ­odo 2021-2023, o que corresponde a uma redução de 18,3 milhões para 14,3 milhões de brasileiros nesse grau de insegurança alimentar.

Entrevista

Confira a entrevista do economista-chefe da FAO:

AgĂȘncia Brasil - É improvĂĄvel que o mundo cumpra os objetivos estabelecidos para 2030. Quais são, na opinião do senhor, os principais alertas que o estudo da FAO fornece?

Maximo Torero - O que o estudo mostra Ă© que o nĂ­vel de fome se manteve após a pandemia de covid-19, o que significa que estamos estagnados nos Ășltimos trĂȘs anos. No entanto, este nĂșmero global incorpora diferenças regionais. Por exemplo, temos a África, que se deteriorou e continua a se deteriorar nos Ășltimos trĂȘs anos. E o caso da AmĂ©rica do Sul, que melhorou substancialmente, reduzindo a fome em 5,4 milhões de pessoas.

Assim, embora o nĂșmero global seja, em mĂ©dia, de 733 milhões de pessoas, acreditamos que ainda hĂĄ oportunidades para aprender com as regiões que melhoraram.

Claramente, se projetarmos este nĂșmero para 2030, estamos falando de 583 milhões de pessoas que estariam no escuro. Ou seja, não estarĂ­amos atingindo a meta dos ODS. Grande parte desse nĂșmero elevado deve-se à pandemia. É um evento que ninguĂ©m esperava. Mas conhecendo regiões que conseguiram melhorar, o objetivo Ă© aprender. E tambĂ©m em concentrarmos muito em como podemos melhorar o financiamento da segurança alimentar.

AgĂȘncia Brasil - E quais seriam as recomendações?

Maximo Torero - O que trazemos no relatório são trĂȘs recomendações centrais: a primeira Ă© como podemos coordenar melhor o financiamento que existe hoje de forma a ganhar complementariedades e evitar perdas de eficiĂȘncia.

A segunda Ă© que os doadores tĂȘm de compreender que o setor agroalimentar enfrenta muitos riscos e incertezas, especialmente devido às alterações climĂĄticas e, como consequĂȘncia, tĂȘm de correr mais riscos para poder ajudar neste processo.

A terceira recomendação Ă© que temos de continuar a inovar na forma de financiar. Hoje, o financiamento apresenta lacunas muito importantes, mas tambĂ©m hĂĄ possibilidades de aumentar esse financiamento com as ferramentas que temos hoje.

AgĂȘncia Brasil - Como exemplo..

Maximo Torero - Por exemplo, um aumento no financiamento misto, um aumento no financiamento climĂĄtico aos sistemas agroalimentares poderia nos ajudar a acelerar este processo.

Hoje, financiamos apenas 3% da transformação dos sistemas agroalimentares com financiamento climĂĄtico.

Este valor deveria ser muito superior porque, embora seja um setor que gera emissões e afeta a biodiversidade, Ă© um setor que nos dĂĄ direito à alimentação.

É um setor que tem muito espaço para melhorias. Isso deveria, portanto, nos envolver na mudança da forma como operamos e na aceleração do financiamento climĂĄtico para a agricultura.

AgĂȘncia Brasil - Como o relatório mostra, a pandemia da covid-19 mudou a dinâmica global da luta contra a fome. Quais regiões fizeram mais progressos no financiamento da luta contra a fome, de acordo com a avaliação da FAO?

Maximo Torero - A pandemia nos fez retroceder 15 anos em relação à fome, basicamente. São 15 anos de regressão e pobreza. O que aprendemos? Aprendemos que regiões como a AmĂ©rica do Sul tiveram transferĂȘncias de renda, programas sociais que ajudaram muito a recuperar mais rapidamente e Ă© por isso que esta região do mundo conseguiu reduzir os nĂ­veis de fome em 5,4 milhões num perĂ­odo de dois anos.

Em segundo lugar, Ă© uma região que não tem conflitos, que conseguiu reduzir os seus conflitos. É uma região que decidiu investir mais nos sistemas agroalimentares. Por outro lado, temos uma região como a África onde os conflitos aceleraram com dois principais impulsionadores de dois paĂ­ses em crise neste momento, que são muito mais vulnerĂĄveis ??às alterações climĂĄticas porque são menos resilientes. E, por Ășltimo, hĂĄ paĂ­ses que são muito afetados pelo aspecto macroeconômico.

São paĂ­ses que não tĂȘm um crescimento econômico estĂĄvel e com bancos centrais que não são muito fortes. Portanto, não conseguem gerir ou fazer face aos impactos do aumento da taxa de juro global levado a cabo pelos paĂ­ses desenvolvidos.

Então, quem Ă© importador desses alimentos estĂĄ pagando não só o aumento do preço dos alimentos, mas tambĂ©m o que se perde com a desvalorização cambial. São dois problemas. E o terceiro Ă© que eles estão muito endividados.

[Eles] tiveram de contrair muitas dĂ­vidas para conseguir se recuperar da covid-19 e os seus nĂ­veis de endividamento são enormes, o que significa que não tĂȘm capacidade de financiamento e tambĂ©m enfrentam um endividamento mais elevado devido ao aumento das taxas de juros. Portanto, existem algumas diferenças, mas tambĂ©m existem boas lições que podem ser aprendidas. E Ă© por isso que estamos lançando este relatório no Brasil porque a aliança contra a fome e a pobreza, a aliança global, estĂĄ sendo lançada.

AgĂȘncia Brasil - O senhor aponta, então, que as prĂĄticas de transferĂȘncias de renda tĂȘm sido eficazes na AmĂ©rica Latina.

Maximo Torero - Sim, a AmĂ©rica Latina tem vantagem sobre outros continentes porque possui um sistema de proteção social altamente desenvolvido.

Começou hĂĄ muitos anos com o Brasil e o MĂ©xico e Ă© um sistema que foi sendo aprimorado ao longo do tempo.

São transferĂȘncias, fundamentalmente transferĂȘncias de dinheiro e transferĂȘncias de dinheiro condicionais. A diferença Ă© que o condicional tambĂ©m ajuda a melhorar o capital humano e a educação e saĂșde das crianças.

Então, penso que ter esse sistema em funcionamento, ter um sistema com capacidade de atualizar constantemente as listas dos beneficiĂĄrios [isso] ajuda a tornar as intervenções muito mais eficazes e muito mais focadas.

E isso fez com que a recuperação da covid-19 fosse muito mais rĂĄpida nesta região do que em outras partes do mundo.

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