Para algumas instituições financeiras, a certificação de soja da Mesa Global de Soja Responsável (RTRS) é uma garantia de que os produtores adotam práticas agrícolas responsáveis. Assim, para muitas dessas instituições, a certificação é uma ferramenta para que os produtores acessem condições de crédito e a outros produtos financeiros mais favoráveis.
O reconhecimento da certificação RTRS por parte das instituições financeiras se deve ao fato de que elas consideram o Padrão RTRS de Produção de Soja Responsável como uma ferramenta confiável que pode demonstrar que os produtores, além de implementar práticas agrícolas sustentáveis e ambientalmente responsáveis, também cumprem com as normativas legais vigentes. Dessa forma, os produtores certificados RTRS são vistos como clientes de menor risco, facilitando a concessão de créditos e de outros produtos financeiros.
As instituições financeiras além de promover a sustentabilidade e os produtores que produzem de forma responsável, também precisam cumprir com suas próprias metas de sustentabilidade. Nesse contexto, apoiar produtores com certificação RTRS contribui para que essas entidades alcancem seus objetivos, alinhando as finanças com a proteção do meio ambiente e práticas responsáveis.
Em suma, os benefícios financeiros desenvolvidos e oferecidos por essas instituições incentivam a adoção contínua de práticas agrícolas responsáveis; e um respaldo financeiro que tem um efeito multiplicador, estimulando outros produtores a buscar a certificação e motivando a expansão da agroatividade sustentável.
E, nesse mesmo sentido, o reconhecimento das entidades financeiras ao trabalho dos produtores certificados reforça a importância do selo RTRS como um diferenciador competitivo em mercados comprometidos com cadeias de abastecimento responsáveis.
Soluções financeiras para produtores certificados no Brasil
Beatriz Domeniconi, especialista em Ambiental, Social e Governança – ASG (Environmental, Social, and Governance – ESG) Agro do Itaú BBA, diz que a estratégia do banco de apoio à transição para uma agropecuária de baixa emissão de carbono está baseada na oferta de créditos que incentivem a adoção de boas práticas de produção – Produtos "Verdes"/ESG Agro.
O Itaú BBA possui uma linha específica de ESG que promove e reconhece duas certificações: RTRS para soja e Rainforest para café, citros e frutas. A linha financia o agronegócio anualmente para grandes agricultores com faturamento anual mínimo de five million reais.
"Incentivar a produção certificada é uma das práticas que consideramos em nossa prateleira de produtos ESG para o Agro", afirma.
No caso da soja, "entendemos que certificações como a RTRS, com protocolo amplo e boa governança, têm significativo impacto em manutenção de boas práticas já adotadas pelos produtores, orientação para a melhoria contínua e transparência para os demais elos da cadeia e valor, além de potencial agregação de valor, dado que o mercado consumidor está cada vez mais interessado em conhecer a origem e os processos para a produção do que consomem", acrescenta a especialista.
Ela ressalta que a linha não se destina ao financiamento dos custos associados ao processo de obtenção/manutenção da certificação, mas sim ao direcionamento de recursos àqueles que já adotam essa prática e que buscam vantagens comerciais para seus negócios.
A AGCO Finance, joint venture formada pela AGCO, Rabobank e DLL Bank, é o braço financeiro do grupo AGCO no apoio à compra de máquinas e equipamentos agrícolas das marcas Fendt, Valtra, Massey Ferguson, Challenger e Trimble Agriculture Solutions.
O grupo conta com um fundo destinado somente a financiar clientes que são classificados como "Green". Estão enquadrados clientes brasileiros com o selo RTRS, Pro Carbono, Sou de Algodão, entre outros.
"Desde 2022 é membro da RTRS e em 2023 trabalhamos com a associação concedendo taxas até 10% mais baixas para clientes certificados RTRS", conta Pablo Ruanoba, representante da AGCO Finance.
Segundo o coordenador regional de vendas da DLL, Ivan Carlos Metz, a ideia é que o mercado entenda que os clientes que se conscientizam ambientalmente possuem inúmeros benefícios e um deles é a redução em taxas na contratação de crédito. "Sabemos que esses clientes estão alinhados com um meio ambiente melhor", completa.
No Rabobank, membro da RTRS desde 2007, o head de sustentabilidade na América do Sul, Taciano Custódio, explica que a certificação RTRS é um importante indicador das melhores práticas adotadas por produtores rurais e auxilia no processo de crédito. "No caso das operações vinculadas a sustentabilidade (ou Sustainability Linked Loans em inglês), que são as linhas de crédito que incluem metas de sustentabilidade, os agricultores precisam monitorar os indicadores-chave de desempenho definidos em conjunto com o Rabobank" indica.
As fazendas certificadas RTRS, por exemplo, já possuem experiência na gestão de indicadores ambientais e sociais, possibilitando um processo mais fluido na aprovação das linhas. O recurso pode ser utilizado conforme o projeto do cliente, seja custeio de safra ou investimentos gerais, no Brasil e na Argentina, com condições e prazos mais competitivos que se adequam as necessidades dos clientes Rabobank.
Já a parceria entre o banco suíço UBS e o Banco do Brasil (BB) exige que grandes clientes corporativos adotem as melhores práticas e, assim, considerem a RTRS como um "padrão ouro", uma mitigação de risco na operação.
A certificação RTRS destaca o valor da abordagem multissetorial e reforça a importância de alinhar o compromisso com a sustentabilidade, reconhecendo que esta é uma responsabilidade compartilhada.
Diante da alta demanda global por produção sustentável e regenerativa, é necessário que os produtores tenham acesso a incentivos e sejam reconhecidos. A sustentabilidade é uma responsabilidade de todos, e cada ator desempenha um papel essencial para torná-la possível.
A RTRS celebra a existência desses incentivos que representam um exemplo por parte das entidades financeiras e espera sua expansão para cada vez mais países produtores de soja.