No próximo dia 22 de novembro, 20,4 mil advogados de Mato Grosso do Sul irão às urnas escolher o próximo presidente da Ordem dos Advogados do Brasil. Com certeza não serão todos que irão votar, já que a entidade exige que a anuidade esteja em dia para exercer o direito de voto. O valor da anuidade é de R$ 1.018.
A OAB/MS tem orçamento de aproximadamente R$ 20 milhões anuais e tem o mesmo grupo político no comando há quase 10 anos. A eleição também ocorre no momento em que a Polícia Federal deflagrou uma operação que afastou cinco desembargadores, juiz e investiga advogados por esquema de compra de sentenças. Dos desembargadores, dois são oriundos do quinto constitucional, as vagas que a OAB escolhe para ocupar o Tribunal de Justica. Um deles, Alexandre Bastos, foi indicado no final de 2016, pela atual gestão. O outro, Sérgio Martins, foi indicado em 2006.
A filha dele, Camila Bastos, era vice-presidente da OAB/MS e pediu afastamento do cargo após ser investigada na mesma operação. Ela também concorria à reeleição com o atual presidente, Luiz Claudio Bitto.
A oposição é liderada pelo advogado Lucas Rosa, cujo grupo ocupou a presidência da entidade de 2010 a 2014, quando renunciaram coletivamente para abandonar a gestão de Júlio César Rodrigues, por desentendimentos quando o então presidente advogava para o ex-prefeito Alcides Bernal. Desde então, nunca mais tiveram êxito eleitoral.
Ambas as chapas têm em suas cabeças advogados de grandes bancas e famílias tradicionais do Direito, sem grandes representantes da advocacia do dia a dia.
Estagnação
Em Mato Grosso do Sul, a maioria da classe é formada por advogados de 24 a 44 anos, auge do pleno vigor profissional, com 61% da classe nesta faixa etária.
Os anos recentes mostram que também é quando o desencanto pela profissão fica mais evidente. Não apenas pela concorrência, complexidade das leis, alteração de regulamentos e demandas digitais e automatizadas.
A operação Ultima Ratio, da Polícia Federal, escancarou como funciona o esquema que sempre se ouviu pelos corredores dos tribunais e atormenta a grande massa de advogados.
De acordo com levantamento do Conselho Federal da OAB em Mato Grosso do Sul, realizado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), quase 30% dos advogados em atividade precisam de atividades complementares para conseguir pagar as contas e anuidade. E da grande maioria dos profissionais, 70% são autônomos, trabalham artesanalmente e sozinhos, sem ligação com os grandes escritórios. A pesquisa também aponta desencanto com a entidade, nos últimos dois anos, 62% dos entrevistados disseram não ter utilizado ou procurado nenhum serviço da OAB.
Mesmo os que trabalham em grandes bancas, passam por sufocos de salário defasado e denúncias de assédio moral. A grande fatia do bolo dos operadores do Direito em MS ganha até R$ 6.600. Enquanto os advogados príncipes, apontados na operação da Polícia Federal, fazem saques de R$ 300 a 500 mil em dinheiro vivo, em um mês.
Denis Matos, para o InvestigaMS