Caso Sophia: mãe e padrasto da vítima devem ser ouvidos ainda hoje
O julgamento do caso Sophia, morta aos dois anos pela mãe e o padrasto em sessão de tortura e violência, deve ser concluído somente no final do dia de quinta-feira (05).
O julgamento do caso Sophia, morta aos dois anos pela mãe e o padrasto em sessão de tortura e violência, deve ser concluído somente no final do dia de quinta-feira (05). A previsão foi confirmada pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, responsável pelo processo, durante entrevista à imprensa ao término da primeira manhã de depoimentos, nesta quarta (04).
A expectativa é ouvir ainda hoje as versões dos réus, Stephanie de Jesus Silva, mãe da vítima, e Christian Campoçano Leitheim, o padrasto. "Até agora ouvimos três testemunhas apenas. Temos ainda uma grande jornada na parte da tarde. Acredito que até umas 20 horas encerramos o dia com o depoimento dos réus. Então os debates devem ficar para a quinta-feira", contou.
Ao longo de 4h30, a primeira parte do julgamento contou com os depoimentos de Cybelle Amaral Pires, amiga de Stephanie. Na sua fala, afirmou que a gravidez foi planejada e que ela ficou sem apoio após a separação do ex-casal. O pai biológico de Sophia se separou para ter um relacionamento com o então padrinho da menina, Igor Andrade. Os dois acompanham a sessão no Fórum de Campo Grande.
O segundo a ser ouvido foi o policial civil Babington Roberto Vieira da Costa, que atendeu a ocorrência no dia da morte da Sophia. Ele detalhou que estranhou o fato de a mãe estar calma, enquanto o padrasto dormia na viatura, logo após ser preso em flagrante. O médico legista Fabrício Sampaio, terceiro a depor, afirmou que a menina chegou morta na UPA e disse ainda que foi estuprada pelo menos 21 dias antes.
O caso
Padrasto e mãe foram presos em flagrante na noite do dia 26 de janeiro de 2023, acusados de espancar e matar a filha, de apenas dois anos e sete meses, em Campo Grande. A criança deu entrada, morta, na Unidade de Pronto Atendimento do Bairro Coronel Antonino.
A menina foi levada ao posto de saúde pela mãe com várias lesões pelo corpo, mais precisamente, nas costas, no braço, joelho, olho e também um inchaço ao ombro esquerdo, além de estar com abdômen inchado.
As médicas plantonistas fizeram o atendimento e constataram que a criança já estava sem vida, inclusive com início de rigidez cadavérica, calculando que a morte poderia ter ocorrido a cerca de quatro horas antes.
Diante do caso, a polícia foi acionada, sendo informado ainda pelas médicas que estranharam a calma e tranquilidade da mãe, após receber a notícia do óbito da filha. "Apenas demonstrou nervosismo, quando informada que seria acionada a polícia", relatou uma das médicas.
Ainda de acordo com registro policial, a mãe negou em primeiro momento as agressões, mas depois mudou a versão, passando a contar que trabalhava o dia todo e que seu marido, cadastro da criança, cuidava da menina e que ele dava tapas e socos para "corrigi-la". Ao final, também, a mulher acabou confessando que batia na própria filha.
Morte por violência
Conforme consta no processo, a menina morreu por violência e tortura, chegou até mesmo a ter a tíbia trincada e a cabeça machucada após apanhar dos responsáveis. Os registros no Sistema Único de Saúde (SUS) indicam que foram pelo menos 30 atendimentos em unidades de saúde ao longo dos dois anos de vida.
O laudo do Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), apontou que a causa da morte foi por traumatismo na coluna cervical e confirmou que violência sexual não recente. Já a declaração de óbito aponta como causa da morte um trauma na coluna cervical, que evoluiu para o acúmulo de sangue entre o pulmão e a parede torácica.
O casal está preso desde o crime, sendo que a mãe da vítima, Stephanie, está no estabelecimento penal de São Gabriel do Oeste. Ela responde por homicídio qualificado por motivo fútil, meio cruel, contra menor de 14 anos e homicídio doloso por omissão. Às vésperas do julgamento, a defesa disse que a ré sofre de síndrome de Estocolmo e, por isso, não conseguia assimilar a realidade violenta em que Sophia estava inserida.
Christian aguarda pela pena no Instituto Penal de Campo Grande e foi denunciado pela promotoria de Justiça por homicídio triplamente qualificado por motivo fútil, meio cruel e contra menor de 14 anos, além de estupro de vulnerável. Três meses após o crime, a defesa tentou reverter a prisão, alegando que o réu corria risco. O pedido não foi aceito.
Autor da denúncia contra o casal, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) utilizou mensagens dos celulares dos réus para refazer as últimas horas de vida de Sophia. Os aparelhos passaram por perícia que revelou diálogos e fotos que evidenciaram o ciclo de violência ao qual a menina foi submetida.