SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A troca de empresas de segurança está levantando suspeitas no Corinthians. A substituição da Verssat Segurança pela Workserv Serviços Terceirizados, que prestou serviços até 27 junho, entrou na mira da Polícia Federal, mas também pesou nos cofres do clube. É o que apontam os relatórios feitos pela Comissão de Justiça e pelo Conselho de Orientação (Cori) do Timão.
O Corinthians elevou os gastos em cerca de 125% com segurança até junho. Enquanto a Verssat cobrava cerca de R$ 150 mil para realizar vigilância, escolta e segurança do clube, a Workserv passou a cobrar mais de R$ 340 mil.
Apesar de ser bem mais cara que a anterior, a Workserv não estava regularizada pela PF e nem tinha o CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) compatível com as atividades de segurança.
Em 8 de fevereiro, a Workserv emitiu nota referente ao mês anterior completo, mesmo estando em concorrência com outras duas empresas até o dia 12. A SAG Express Serviços Terceirizados e a RR Proteção Segurança Patrimonial LTDA enviaram orçamentos nos dias 10 e 12 de janeiro -a primeira empresa sequer tem segurança patrimonial entre suas qualificações. A reportagem teve acesso a essas notas.
O UOL apurou que a Verssat não foi convidada para a disputa com as concorrentes, nem recebeu a rescisão com o clube até maio, continuando a prestar seus serviços mesmo sem ser paga.
Em contato com a reportagem, o clube afirmou que as empresas prestavam serviços distintos. Porém, Comissão de Justiça e Cori apontam nos relatórios que uma foi substituída pela outra.
"O Sport Club Corinthians Paulista informa que as empresas Workserv e Verssat prestavam serviços distintos para o clube. A Workserv era responsável pela segurança no Centro de Treinamento, assim como pelo acompanhamento do elenco e comissão técnica, incluindo as viagens das equipes feminina, masculina e das categorias de base. Já a Verssat cuidava da segurança do Parque São Jorge, sede social do clube", diz nota oficial do Corinthians ao UOL.
TROCA DE EMPRESA POR ORIENTAÇÃO DA PF
Em 26 de junho, a Polícia Federal esteve no Parque São Jorge para questionar o departamento jurídico a respeito da contratação da Workserv. À época, o clube afirmou em nota que nenhuma irregularidade havia sido encontrada.
No dia seguinte, o Timão fez um distrato com Workserv, apesar de nunca ter assinado um contrato anteriormente. O presidente do Conselho Deliberativo, Romeu Tuma Jr., confirmou a inexistência do acordo documentado à reportagem.
"Essa informação foi enviada ao Conselho por ofício, inclusive acompanhada de um "distrato" entre o SCCP e a referida empresa, onde esse fato é confirmado. Essa situação não atende os comandos estatutários, inclusive porque coloca o Clube sob sérios riscos de demandas judiciais dentre vários outros. Não é uma prática de boa gestão", disse Romeu Tuma Jr., presidente do Conselho Deliberativo do Corinthians, ao UOL.
ÓRGÃOS DO CONSELHO APURAM IRREGULARIDADES
Após a repercussão das supostas irregularidades, além da falta de um contrato com a Workserv, os órgãos de fiscalização do Conselho Deliberativo passaram a apurar o caso. O tema já foi debatido em duas reuniões no mês de outubro, mas ainda não teve um desfecho.
"Nenhum órgão de fiscalização foi consultado e em tese não necessitaria, salvo casos excepcionais. Mas sempre se pressupõe que trocas de prestadores de serviços ou mesmo outros parceiros, serão feitas para melhor, face a qualidade, preços e atendimento de necessidades pactuadas", disse Romeu Tuma Jr.
No dia 30 de outubro, um grupo de conselheiros protocolou um requerimento para obter respostas quanto às supostas irregularidades. O documento engloba a antiga empresa, assim como a Kiara Segurança Privada, contratada na sequência, que teve restrições apontadas pelo compliance do Corinthians. O requerimento completou um mês, mas não teve resultados.
"Pelo que o Conselho tem conhecimento, havia restrições do compliance que não sabemos se foram ou não atendidas por providências da empresa e/ou porque a Diretoria resolveu assumir os riscos", disse Romeu Tuma Jr.
Para o diretor jurídico Vinícius Cascone, o papel do compliance é apontar possíveis "red flags", mas a decisão de contratar ou não é restrita à diretoria do clube. As "red flags" são sinais de alerta que indicam a possibilidade de irregularidades ou atividades antiéticas em uma empresa.
"A empresa de segurança, que presta serviço [atualmente], e teve algumas 'red flags' que a gente chama, é a empresa de segurança que presta serviços para o departamento de futebol profissional, principalmente, que acompanha nas viagens. E realmente, esse é um ponto aí que houve o apontamento do compliance, mas não se disse 'contrate ou não contrate a empresa'. O compliance não manda ou não manda contratar. Houve uma situação, a empresa já estava prestando o serviço", disse Vinícius Cascone, em entrevista à Rádio Bandeirantes.