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Para aliviar calor, Qatar faz torcedores passarem frio nos estádios da Copa


"Aqui dentro é muito gelado. Em um jogo à tarde, é mais agradável. Mas quando começa a cair a noite, fica mais frio, principalmente porque anoitece cedo, às 17h", diz o torcedor, enquanto acompanha a partida entre Polônia e Arábia Saudita, pelo Grupo C, no estádio Cidade da Educação, em Doha.

Ele não era o único vestido com uma blusa nas arquibancadas da arena. Um compatriota dele, Erick Noturi, 23, também se protegia da brisa forte que vinha das saídas de ar-condicionado instaladas sob todas as fileiras do estádio. "Lá fora eu vou tirar, mas aqui dentro e no metrô, sempre uso", diz. "É quase o tempo todo assim, frio e calor, frio e calor."

Quando o Qatar anunciou sua candidatura para receber a Copa do Mundo, além de pedir a transferência do torneio para o fim do ano, período em que as temperaturas são mais baixas do que os 50ºC registrados, em média, no meio do ano, o país também assegurou que equiparia seus estádios e locais públicos com um potente sistema de ar-condicionado.

A tecnologia foi desenvolvida junto com a Universidade do Qatar -no mesmo complexo em que fica o estádio Cidade da Educação. De acordo com o Supremo Comitê de Entrega e Legado, o aparato é alimentado por energia solar para manter ventiladores que puxam o ar externo e o resfriam.

A meta é deixar os espaços onde ficam localizados as torcidas, os jogadores e o campo com temperaturas médias de 18ºC a 24ºC. Dessa forma, não é raro encontrar pessoas com blusas ou agasalhos, até mesmo em lugares mais restritos, como o centro de mídia, de onde trabalham jornalistas de todo o mundo.

No final do duelo entre Polônia e Arábia, por volta das 18h, já sob a noite de Doha, os termômetros registravam 29ºC na área externa do estádio.

O uso da técnica de resfriamento foi projetado por Saud Abdulaziz Abdul Ghani, professor de engenharia mecânica na instituição de ensino e apelidado de Doctor Cool, um trocadilho, já que a palavra "cool" significa tanto "fresco" como "legal".

"Não estamos apenas resfriando o ar, estamos limpando-o", explica Ghani. "O ar pré-resfriado entra por grelhas embutidas nas arquibancadas e grandes brechas ao longo do campo. Usando técnica de circulação de ar, o ar resfriado é puxado de volta, resfriado novamente, filtrado e empurrado para onde é necessário."

O professor foi convidado para juntar-se ao projeto Qatar-2022 em 2009, quando o país, rico por suas reservas de gás natural e petróleo, ainda estava se candidatando para receber o Mundial.

Tão logo foi anunciado como sede, o Qatar passou a receber diversos questionamentos, sobretudo por seu histórico de desrespeito aos direitos humanos. Mas a questão climática também preocupava a comunidade internacional do futebol.

"A maioria dos países geralmente apresentaria seus estádios como uma ideia de design e não como uma tecnologia. Apresentamos nossos estádios de uma nova maneira", diz o professor sobre a forma como convenceu as federações de que era possível jogar no Qatar.

Segundo ele, a tecnologia de resfriamento é 40% mais sustentável do que as técnicas existentes, pois permite que as arenas só precisem ser resfriadas duas horas antes de um evento, reduzindo o consumo de energia em comparação a outras tecnologias

O Qatar é o maior emissor per capita de gases do efeito estufa, segundo o Banco Mundial. Emite quase três vezes mais do que os Estados Unidos e quase seis vezes mais do que a China.

O ranking, porém, é questionado pelos qatarianos, pois as enormes exportações de gás natural liquefeito do Qatar são consumidas em várias partes do mundo. A metodologia do Banco Mundial, então, cobraria essas emissões do país, não de quem usa o combustível.

Cerca de 60% da eletricidade usada pela nação é destinada à refrigeração. E, como a intenção do país com a Copa do Mundo é atrair não só mais turistas, mas também residentes, a tendência é que esse consumo aumente nos próximos anos.

Atualmente, a população local é de 2,7 milhões de habitantes, sendo apenas 380 mil qatarianos e os demais migrantes, muitos dos quais trabalharam na construção das arenas.

Dos oito estádios do Mundial, apenas o Khalifa já existia e passou por uma reforma para receber o Mundial. Por isso, também precisou de uma adaptação para implementar o sistema do Doctor Cool.

Já a Arena 974 é a única que não tem esse sistema de ar pois está localizada perto do mar e já recebe uma brisa natural. O estádio foi palco da estreia da seleção portuguesa, de Cristiano Ronaldo, contra Gana, na última quinta-feira (24).

A reportagem acompanhou a partida no local e, de fato, o estádio tem uma temperatura agradável, sobretudo à noite, horário do duelo.

Os estádios não são os únicos espaços que contam com sistema de refrigeração no Qatar.

Ventiladores equipados com ar úmido fazem, por exemplo, o resfriamento das estreitas ruas do Souq Waqif, o tradicional mercado ao ar livre de Doha. O mesmo sistema também é encontrado nas passarelas do shopping ao ar livre Galeries Lafayette, e nas estações de trens e metrôs.

Em alguns horários, a potência chega a fazer os passageiros sentirem frio em vez de alívio do calor. Curiosamente, um dos anúncios mais encontrados nas plataformas é justamente o de uma marca de remédio contra alergias respiratórias.

É quase uma venda casada.

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