Será que estamos em dominância fiscal?
No artigo de ontem disse que seria possível o dólar chegar a R$ 7,00, porque o Brasil já poderia estar em dominância fiscal.
No artigo de ontem disse que seria possível o dólar chegar a R$ 7,00, porque o Brasil já poderia estar em dominância fiscal. A dominância fiscal caracteriza-se por uma situação em que a política monetária (elevações na Selic) não faz mais efeito para o controle inflacionário. Nesse cenário, a piora das expectativas fiscais tornam os aumentos de juros inócuos no combate aos aumentos de preço. Pelo contrário, o aumento de juros poderá elevar ainda mais a inflação.
Esse mecanismo ocorre porque, em dominância fiscal, a elevação dos juros aumentará o custo da dívida, elevando o risco de crédito. Com maior probabilidade de não receber o dinheiro emprestado para o governo, o dólar aumenta (incerteza vai para preço), o que potencializa a inflação, na medida em que no processo produtivo há componentes importados e cotados em dólar.
Essa é exatamente a perversidade da dominância fiscal: fica-se com todo o ônus da política monetária (elevação de juros e seus efeitos), sem o bônus – o controle inflacionário. Com a Selic em alta e as taxas dos títulos prefixados subindo, era para o dólar cair, devido ao aumento do diferencial de taxa de juros com os EUA. Com juros mais elevados no Brasil, deveria aumentar a demanda por real, derrubando a cotação da moeda norte-americana.
Mas não é isso o que acontece. O dólar ontem bateu R$ 6,20, mesmo com o Banco Central operando pesado com venda de dólares. A maior oferta de dólares no mercado brasileiro deveria derrubar a sua cotação. Entretando, o efeito foi inócuo. Selic em alta e leilão sem efetividade sinalizam que a piora fiscal tem dominado todas as outras variáveis. É possível que já entramos no modo "dominância fiscal".