Musk testa sua força na Europa

É inegável que a campanha política muito bem-sucedida de Donald Trump, deve também parte dos louros ao bilionário Elon Musk, que através de sua influência no mundo digital trouxe ainda mais destaque às propostas do futuro presidente norte-americano.

Musk testa sua força na Europa

É inegável que a campanha política muito bem-sucedida de Donald Trump, deve também parte dos louros ao bilionário Elon Musk, que através de sua influência no mundo digital trouxe ainda mais destaque às propostas do futuro presidente norte-americano. Desde a compra do X por Musk, o debate político travado nas redes ganhou uma nova roupagem, já que a remoção da checagem de fatos da plataforma e a reativação de certos perfis, fez com que o ambiente digital, já muito nocivo, se tornasse ainda mais voraz em sua busca por tempo de consumo.
As falas de Elon Musk a respeito da política migratória falha nos Estados Unidos, somadas às críticas e memes compartilhados sobre Joe Biden e Kamala Harris, fizeram com que a linguagem dinâmica e até mesmo infantil das redes dominasse a campanha eleitoral na reta final, conversando bem com um público, outrora desinteressado em política.

Na Europa as redes sociais não funcionam como o ópio das massas, assim como é no Brasil ou nos Estados Unidos. No velho continente o tempo de tela dos usuários é consideravelmente menor que nas Américas, mas indubitavelmente, as campanhas políticas acontecem também, em grande parte, no mundo digital.
Após a queda do governo alemão no final de 2024 e do chamamento para novas eleições gerais em fevereiro de 2025, os partidos da Alemanha se organizam de forma rápida para do lado governista diminuir o tamanho da crise e do vexame eleitoral previsto, e do lado da oposição, conseguir triunfar com uma votação ainda mais expressiva.
Na Alemanha temos três grupos partidários tradicionalmente associados à direita. Os liberais clássicos da FDP, de centro direita, prezam pela austeridade e pelo livre mercado, mas nas pautas dos costumes são progressistas, também defendendo a União Europeia e a OTAN.

Os conservadores tradicionais da CDU/CSU, partindo da centro-direita até a direita, defendem o livre mercado, mas apoiam um estado forte de bem-estar social, onde as suas bases cristãs, os afastam do progressismo cultural, além de defenderem fronteiras mais rígidas e a manutenção das boas relações transatlânticas.

Por fim temos a AfD, partido que parte da direita até a ultradireita ou extrema-direita, que defende um estado mais austero, uma economia mais moderna, mas na agenda de costumes são bastante conservadores, defendendo a manutenção das tradições europeias, refutando o aumento do islamismo na Europa, também apoiando uma maior aproximação com a Rússia e China, enquanto defende a saída alemã da OTAN e da União Europeia.
Segundo as últimas pesquisas, os liberais nem mesmo entrariam no parlamento por pontuarem abaixo dos 5%. Os conservadores clássicos venceriam as eleições com mais de 32%, enquanto a AfD ultrapassaria 20% das intenções de voto, sua melhor votação na história. Muitas falas da AfD no passado foram amplamente consideradas xenofóbicas e racistas ao vilipendiar grupos étnicos específicos dentro da sociedade alemã. Talvez a declaração mais desastrosa e preocupante foi feita por Maximilian Krah, membro do partido, dizendo que na SS "não eram todos criminosos".

A SS foi a maior organização paramilitar de Hitler e responsável por executar planos que culminariam com o holocausto e a morte de milhões de inocentes na Segunda Guerra Mundial. Nesse cenário de enorme anacronismo e declarações lamentáveis, surge uma voz mais introspectiva e sóbria, Alice Weidel.

Alice Weidel é uma deputada alemã há duas legislaturas, economista e membro da AfD desde 2013, e ganhou fama nacional ao se opor à imigração em massa, ao multiculturalismo pregado na Alemanha e às políticas verdes.
Mesmo defendendo as principais causas do partido, é considerada, alguém mais moderada dentro da AfD, o que lhe deu projeção eleitoral e mais espaço no debate público.

Declaradamente lésbica, Weidel vive um relacionamento estável com sua parceira Sarah Bossard, cidadã suíça, mas nascida no Sri Lanka, tendo uma vida pessoal fora dos holofotes por contrastar explicitamente com muitas de suas posições defendidas no parlamento.

Hoje, Alice Weidel é a candidata oficial do partido para o cargo de Chanceler nas próximas eleições e espera elevar a AfD a uma vertente política impossível de se ignorar a partir da próxima eleição.

Elon Musk que já vinha tecendo elogios à AfD nas últimas semanas, realizou uma entrevista com Alice Weidel no X por mais de uma hora. Ambos discutiram a política migratória falida da Alemanha, a recente desativação de todas as usinas nucleares do país, além da excessiva burocracia e atraso tecnológico da primeira economia europeia.

Após a conversa, o homem mais rico do mundo, concluiu, dizendo "eu acho que Alice Weidel, é uma pessoa muito sensata. Nada absurdo está sendo proposto". O espaço cedido à candidata e o endosso formal a seu programa de governo, causaram enorme irritação em Berlim e em outras capitais europeias, onde chefes de estado e governo acusam Musk de estar minando a democracia do continente.

As chances da AFD fazer parte do novo governo alemão são extremamente remotas, já que nenhum outro partido até o momento cogitou uma coalizão com Weidel para formar uma base governista.
De qualquer maneira, as recentes pesquisas mostram uma tendência de crescimento para os ultradireitistas, o que garantiria a melhor votação nacional para a sigla desde a sua fundação. Seja qual for o resultado, o jogo proposto por Musk fora de seu habitat natural, parece que não será vencido da mesma forma como se deu em Washington DC, mas terminará mais próximo de suas pretensões do que seus inimigos gostariam.