O delegado-geral da PolĂcia Civil de Mato Grosso do Sul, LupĂ©rsio Degerone LĂșcio, enviou nesse sĂĄbado (15) mensagem em grupos reservados orientando policiais, escrivães e delegados a não conectarem mais o feminicĂdio da jornalista Vanessa Ricarte.
No Ășltimo dia 12 ela foi morta com trĂȘs facadas no coração pelo ex-novo Caio Nascimento, horas após procurar ajuda na Deam (Delegacia de Atendimento a Mulher) de Campo Grande.
Antes de ser morta dentro de casa, a vĂtima registrou em mensagens que mandou para amigas a pĂ©ssima experiĂȘncia queteve na Casa da Mulher Brasileira.
As reclamações de mulheres vĂtimas de violĂȘncia sobre o atendimento da Deam não são novidade e jĂĄ foram denunciadas em reportagem do Jornal Midiamax. Mesmo assim, nada foi feito.
Agora, com as denĂșncias que Vanessa deixou antes de ser assassinada e a repercussão nacional do crime, a PolĂcia Civil de MS mergulha em crise institucional comparada ao escândalo de quando um ex-delegado-geral acabou afastado após se envolver em briga de trânsito e atirar contra o carro de uns jovem porque ela mostrou o dedo para ele.
A PolĂcia Civil de MS tambĂ©m tem ficado enfrentado verdadeira crise institucional com denĂșncias que implicam servidores da instituição com o crime organizado em Mato Grosso do Sul. Segundo delegados, embora negue, a classe convive com o clima de racha interno.
Neste contexto, o atual chefe da DGPC foi aos grupos pedir para os colegas se calarem para tentar diminuir a exposição.
"Sugerimos a todos os Delegados de PolĂcia, Investigadores e Escrivães a se unirem nesse propósito, abstendo-se de qualquer tipo de manifestação sobre o feminicĂdio que vitimou Vanessa Ricarte em sites e plataformas digitais a tĂtulo de reação ou refutação de crĂticas e comentĂĄrios de qualquer ordem", diz a nota.
LupĂ©rsio ainda classifica como "desnecessĂĄria" a discussão entre policiais e crĂticos da atuação institucional da PolĂcia Civil. Nem todos concordam.
"Se a instituição se fechar para a sociedade, serĂĄ o fim. Como carreira de estado, temos obrigação de ouvir as crĂticas, discutir e melhorar sim", comentou delegada que lamenta a condução da crise.
"Ao invĂ©s de mandar textão em grupinhos, uma liderança tem que corrigir os pontos falhos e não tentar apelar para blindagem. Em tempos atuais não funciona mais assim. Não Ă© só parar de falar que as crĂticas vão sumir", crĂtica a delegada de polĂcia.
Segundo ela, colegas apontam pontos graves na conduta da instituição que teriam levado à situação de exposição. "Se uma colega sem perfil, furando ou não a fila, acaba numa especializada onde vocação Ă© crucial, temos sim que questionar os critĂ©rios do DG. Como ela chegou lĂĄ?", questiona.
A reportagem acionou o delegado-geral e a assessoria da Sejusp e da PolĂcia Civil sobre o teor da mensagem distribuĂda em grupos reservados e aguarda retorno.
Confira na Ăntegra o recado do DGPC
Senhores Diretores de Departamento, Coordenadores, Assessores e Delegados Regionais
Boa noite,
Venho por meio do presente, solicitar os bons prĂ©stimos de Vossas ExcelĂȘncias no sentido de encaminhar para conhecimento de nossos Delegados de PolĂcia, Investigadores de PolĂcia JudiciĂĄria e Escrivães de PolĂcia JudiciĂĄria esta breve reflexão e apelo.
O momento que atravessamos exige de todos nós um olhar atento e comprometido com a nossa missão institucional. O trĂĄgico feminicĂdio que vitimou a jornalista Vanessa Ricarte gerou uma comoção sem precedentes, tanto entre seus pares de profissão quanto na sociedade em geral.
Esse episódio, que culminou na perda irreparĂĄvel de uma vida inocente, requer uma profunda reflexão sobre nossos procedimentos, mĂ©todos e protocolos de atendimento às mulheres vĂtimas de violĂȘncia domĂ©stica, de forma a buscarmos o aperfeiçoamento dos serviços e a efetividade da rede de proteção à mulher vĂtima de violĂȘncia domĂ©stica.
Ocorre que nesse momento de luto e comoção social, são inĂșmeros aqueles que se levantam em severas crĂticas ao atendimento prestado pela PolĂcia Civil por meio da DEAM, bem como ao protocolo estabelecido e aplicado atualmente pela rede de proteção, solicitando providĂȘncias dos Governos Federal e Estadual para que fatos dessa natureza não mais ocorram.
Em meio a esse cenĂĄrio, temos presenciado embates desnecessĂĄrios entre policiais e crĂticos da atuação institucional, seja por meio de postagens, comentĂĄrios ou respostas em plataformas digitais.
Nesse diapasão, faz-se imperativo conclamar a todos para que direcionemos nossos esforços à anĂĄlise tĂ©cnica dos fatos e de todas as circunstâncias que o cercam, em busca de soluções efetivas para o aprimoramento dos serviços prestados às mulheres vĂtimas de violĂȘncia domĂ©stica. Este não Ă© o momento de embates, mas sim de respeito à dor, ao luto, à indignação pela perda de uma vida e de uma profunda reflexão para o aperfeiçoamento institucional.
Diante desse contexto, nosso compromisso, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança PĂșblica e do Governo do Estado estão voltados à identificação de pontos de melhoria e aperfeiçoamento, à revisão de protocolos e à implementação de estratĂ©gias que fortaleçam a proteção das vĂtimas, garantindo-lhes maior segurança e efetividade nas medidas adotadas.
Portanto, sugerimos a todos os delegados de polĂcia, investigadores e escrivães a se unirem nesse propósito, abstendo-se de qualquer tipo de manifestação sobre o feminicĂdio que vitimou Vanessa Ricarte em sites e plataformas digitais a tĂtulo de reação ou refutação de crĂticas e comentĂĄrios de qualquer ordem, estando certos de que a Administração Superior da PolĂcia Civil estĂĄ adotando as medidas necessĂĄrias em prol do aperfeiçoamento e fortalecimento da instituição e de suas carreiras nesse momento crĂtico.
(Texto editado às 7h de 16 de fevereiro de 2025)