Aplausos irromperam quando Orsi recitou o juramento de posse perante o Congresso. Do lado de fora, na praça principal da cidade, milhares de uruguaios que assistiam à sua posse em telões gigantes gritaram em apoio.
A cerimônia ocorreu três meses após a vitória de Orsi em uma corrida eleitoral notavelmente civilizada entre dois moderados, elogiada como um antídoto à polarização que assola a região. Em seu discurso, ele criticou a crescente desilusão com as normas democráticas na América Latina, o que resultou em uma mudança para a direita, da vizinha Argentina à El Salvador.
“Todos nós sabemos bem que temos que valorizar nossa construção democrática em tempos em que a lógica excludente e as expressões de desconfiança na política tradicional proliferam”, disse Orsi em seu discurso inaugural diante de uma reunião de líderes nacionais e estrangeiros no palácio legislativo em Montevidéu. Ele declarou: “Sejamos sempre adversários, mas nunca inimigos. E nos distanciemos o máximo possível do cinismo”.
Na noite anterior à cerimônia, Orsi jantou em Montevidéu com seus colegas regionais de linha semelhante, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e Gabriel Boric, do Chile. A cena amigável consolidou Orsi como o mais recente na faixa de líderes de esquerda aliados da região – muitos dos quais têm lutado nos últimos anos para combater a crescente desigualdade e o crescimento estagnado.
Muitos uruguaios viam Orsi como o candidato nostálgico, relembrando o governo de 15 anos da Frente Ampla, entre 2005 e 2020. Durante esse tempo, a coalizão presidiu um ciclo histórico de crescimento econômico que reduziu a pobreza e consolidou a reputação pró-negócios do país. A coalizão também lançou reformas sociais pioneiras que renderam ao Uruguai aclamação internacional, incluindo a legalização do aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e maconha recreativa.
Mas, em 2020, problemas emergentes como desigualdade crescente e aumento da criminalidade inauguraram o governo de centro-direita de Lacalle Pou com promessas de reforma do Estado inchado. No ano passado, a frustração pública sobre a persistência desses problemas ajudou a encerrar o mandato de Lacalle Pou, enquanto uma onda antisituacionistas varria o mundo. Orsi prometeu implementar uma “mudança segura” para os 3,5 milhões de habitantes do Uruguai. Agora ele enfrenta um difícil ato de equilíbrio – entre satisfazer as demandas de seus eleitores mais radicais, que pediram a descontinuação de algumas das medidas de corte de custos do governo anterior, enquanto aumenta a competitividade para estimular o tão necessário desenvolvimento econômico.
“O país precisa recuperar um caminho de crescimento que gere não apenas uma quantidade maior, mas também qualidade de trabalho”, disse. “Isso permite um piso salarial digno e, com isso, uma melhor distribuição de renda.” Com uma coalizão fragmentada, especialistas dizem que muitas das posições de Orsi ficarão claras somente depois que ele assumir o cargo e for forçado a fazer escolhas políticas difíceis. “A comunidade empresarial está adotando uma atitude de observar e ver até que fique claro se Orsi está no comando ou se sua base esquerdista mais agressiva está no comando”, disse o economista uruguaio Arturo C. Porzecanski, um membro global do Woodrow Wilson International Center for Scholars.
“Se Orsi não sair por cima e medidas que atrasam o relógio forem aprovadas, isso diminuirá a perspectiva econômica para os próximos anos.” Manter um orçamento apertado tornará difícil atender às expectativas dos unionistas que promoveram um referendo controverso para aumentar as pensões e reverter a decisão do antigo governo de aumentar a idade legal de aposentadoria de 60 para 65. Orsi reconheceu o desafio em seu discurso, dizendo: “Muito diálogo, uma mão estendida e a capacidade de entender as diferentes sensibilidades expressas por nossa comunidade serão necessárias”.
*Com informações do Estadão ConteúdoPublicado por Victor Oliveira