A pesquisa apontou que 86,7% dos entrevistados consideram as vacinas importantes para proteger a saĂșde pĂșblica, 75,7% como seguras e 69,6% como necessĂĄrias. Apesar disso, 46,4% acham que elas produzem efeitos colaterais que são um risco. Outros 40% desconfiam que as empresas farmacĂȘuticas esconderiam os perigos das vacinas. Para 46,7% dos entrevistados, o governo federal forneceu informações falsas sobre a vacina contra a covid-19.
Mesmo com o patamar de confiança nas vacinas, cerca de 13% dos entrevistados indicaram que não pretendem tomar doses de reforço da vacina contra a covid-19 e quase 8% dos que tĂȘm filhos ou menores sob sua responsabilidade declararam não ter a intenção de vacinĂĄ-los. Conforme a pesquisa, o perfil dessas pessoas é que além do acesso ao conhecimento, eles são profundamente diferentes por sexo e valores. Os pesquisadores observaram que a chance de recusar vacinas aos filhos é muito maior entre os homens e cresce entre as pessoas que declaram que "o crescimento econômico e a criação de empregos devem ser prioridades mĂĄximas, mesmo quando a saĂșde da população sofra de algum modo".
Segundo a pesquisa, pessoas que "declaram que os avanços econômicos devem ter prioridade sobre polĂticas de combate à desigualdade, ou que o mercado deve ter prioridade sobre a saĂșde, tĂȘm maiores chances de considerar elevado o risco das vacinas". Outro fator apontado estĂĄ entre as que participam menos da polĂtica, ou que expressam valores de tipo sexista, como os homens são melhores que as mulheres na polĂtica, ou na ciĂȘncia, ou devem ter prioridade nos empregos. Este grupo inclui também os que tĂȘm maiores chances de expressar cautela ou medo sobre a vacinação ou segurança das vacinas, mesmo controlando pelo efeito da renda e da escolaridade, conforme indicou o estudo do INCT-CPCT.
De acordo com a pesquisa, a hesitação vacinal estĂĄ associada, "em parte, à escolaridade, à familiaridade com conceitos cientĂficos e ao conhecimento de instituições cientĂficas, sendo fortemente influenciada pelo grau de engajamento dos entrevistados na sociedade civil e na polĂtica, pelos posicionamentos econômicos e pelos valores".
Segundo a Fiocruz, entre agosto e outubro deste ano, foram entrevistadas 2.069 pessoas com 16 anos ou mais. A margem de erro da pesquisa é 2,2%, em um intervalo de confiança de 95%. As entrevistas foram domiciliares, pessoais e individuais. O estudo apontou ainda que a maioria dos brasileiros acredita que as mudanças climĂĄticas estão acontecendo e tĂȘm como causa a ação humana.
O trabalho foi coordenado pelos pesquisadores Luisa Massarani, da COC/Fiocruz, Vanessa Fagundes, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), Carmelo Polino, da Universidade de Oviedo (Espanha), Ildeu Moreira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Yurij Castelfranchi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Isso indica um cenĂĄrio de desafios para gestores, cientistas, educadores e profissionais de comunicação, que precisam desenhar estratégias de comunicação pĂșblica da ciĂȘncia que levem em consideração as especificidades de local, perfil de pĂșblico e contexto", chamaram a atenção, os pesquisadores no resumo executivo do estudo Confiança na ciĂȘncia no Brasil em tempos de pandemia.
Na visão dos pesquisadores, "a percepção majoritariamente positiva do pĂșblico sobre a ciĂȘncia e os cientistas, bem como a falta de evidĂȘncias da existĂȘncia de um movimento organizado de negacionistas da ciĂȘncia no paĂs, são achados importantes para orientar estratégias mais efetivas de combate à desinformação, direcionadas a grupos especĂficos de pessoas, que reagem de forma diferente aos diversos tipos de comunicação", apontaram, destacando que "o interesse pelo tema e a expectativa de benefĂcios para a população a partir da ciĂȘncia, como qualidade de vida, oportunidades de emprego, equidade social, podem facilitar processos de aprendizado e apropriação social do conhecimento."
A maioria da população brasileira (91%) acredita que estão ocorrendo as mudanças climĂĄticas, enquanto que para menos de 6% elas não existem. Nesta Ășltima parcela, hĂĄ diferenças significativas. "Modelos de regressão mostram que a chance de um entrevistado declarar que não hĂĄ mudança climĂĄtica aumenta muito entre pessoas que também dizem não confiar na ciĂȘncia ou cuja confiança na ciĂȘncia diminuiu durante a pandemia".
Os brasileiros e brasileiras também acreditam que as mudanças climĂĄticas estão prejudicando a qualidade de vida no Brasil (78,3%), elas podem prejudicar a si e a suas famĂlias (81%) e, também, as próximas gerações (82,8%).
Para 85,8% dos que acreditam na existĂȘncia das mudanças climĂĄticas, a causa é a ação humana, enquanto 12,4% acreditam que elas são provocadas por mudanças naturais do meio ambiente. O estudo apontou também que "é mais forte a sensação de consenso na comunidade cientĂfica sobre a causa das mudanças climĂĄticas do que de divergĂȘncias: 68% dos entrevistados afirmam que a maior parte dos cientistas concorda sobre a relação causal com a ação humana". Mas quando se trata da opinião sobre os esforços nacionais para preservação do meio ambiente a avaliação se divide: 30,6% concordam que o Brasil é um dos paĂses que melhor preserva o meio ambiente e 42,8% discordam da afirmação.