A revelação conseguiu se destacar neste ano mesmo com a invasão de tropas russas no território de seu país, causando mortes, caos e drama. Regularmente, ele publica mensagens sobre o orgulhoso de ser ucraniano e em apoio aos militares do seu país.
Sua estreia no time principal do Shakhtar foi em 2018 aos 17 anos, mas ele demorou para entrar de vez na equipe. "O comportamento dele para mim não foi muito bom para um jovem", diz o capitão do Shakhtar, Taras Stepanenko, ao site The Athletic. "Ele às vezes não ouvia o que o treinador dizia para ele. Tentei falar com ele para enviar algo que Xavi, o técnico do Barcelona, disse sobre jovens jogadores. Foi uma entrevista muito boa sobre como esses garotos devem ter o comportamento certo)".
A mudança de atitude não veio de imediato. Mudryk foi emprestado a dois times e só assim que retornou mais focado. Era essa transformação que a joia precisava para subir de patamar. Mudryk ainda não é um jogador pronto. Aos 21 anos, ele tem margem para evolução e acredita que conseguirá isso em uma liga como a inglesa.
ARSENAL DE OLHO
O seu despertar foi justamente na atual temporada. Suas boas atuações na Liga dos Campeões atraíram ainda mais holofotes no seu futebol. O Shakhtar acabou na terceira posição do seu grupo, com Real Madrid, RB Leipzig e Celtic e "caiu" para a Liga Europa, mas seu desempenho não passou despercebido. Foram três gols e duas assistências em seis partidas. Os números traduzem o potencial de um jovem ansioso para jogar em uma liga de nível superior à ucraniana.
O Arsenal é quem lidera a corrida para contratá-lo. A proposta é de 40 milhões de euros (R$ 225 milhões), mais 20 milhões de euros (R$ 112 milhões) em cláusulas. Só que o Shakhtar faz jogo duro. O ex-jogador do time e agora dirigente, Darijo Srna, avisou que os grandes clubes da Europa vão ter que pagar o valor definido pela revelação: 100 milhões de euros (R$ 562 milhões)
"Quando descobri meu preço, não fiquei apenas surpreso - fiquei chocado. Todo jogador tem o sonho de atuar em um clube de ponta e em uma liga de ponta. Eu não sou exceção. Mas tenho 100% de certeza de que é improvável que um jogador seja comprado da Ucrânia por 100 milhões de euros", disse, chateado com os dirigentes do Shakhtar, à SportArena. Na última segunda-feira, ele publicou um vídeo assistindo a um jogo do Arsenal, atual líder do Campeonato Inglês.
A vontade do clube ucraniano em capitalizar ao máximo a venda de sua joia também tem outra explicação. Os efeitos da guerra afetaram gravemente as finanças dos clubes da Ucrânia e, com o Shakhtar, não é diferente. Os times também precisaram contornar o êxodo de seus principais jogadores, que deixaram o país em busca de segurança. Conhecido por atrair jovens talentos brasileiros na última década, o Shakhtar hoje não tem mais nenhum atleta do país em seu elenco.
Esse processo foi facilitado por uma decisão da Fifa de junho. Jogadores e treinadores estrangeiros ganharam o direito de suspender seus contratos de trabalho com times ucranianos até 30 de junho de 2023, a não ser que um acordo mútuo seja firmado entre atleta ou técnico e o clube.
A grande maioria dos jogadores deixou o clube por valores baixos ou sem gerar nenhum ganho ao time ucraniano. Além de cobrar um valor indenizatório da Fifa, o clube chegou a acionar a Corte Arbitral do Esporte para tentar anular a regra. Na ação, o clube ainda pede que a entidade máxima do futebol mundial cubra todos os custos relacionados aos procedimentos jurídicos na CAS porque está em situação financeira delicada desde o início da guerra. O Shakhtar cobrou uma indenização de 50 milhões de euros, equivalente a R$ 272 milhões, da Fifa, segundo o site The Athletic.