A deputada federal Duda Salabert, eleita pelo PDT de Minas Gerais é uma das duas parlamentares transexuais eleites que vai atuar no Congresso Nacional e que estava no evento. A professora de literatura foi a vereadora mais votada em Belo Horizonte, nas eleições de 2020, e agora assume um desafio ainda maior: levar as pautas defendidas pela comunidade para a Câmara. “Independente da ideologia, ninguém concorda em morar num país extremamente violento para um grupo social. Em Belo Horizonte, por exemplo, 91% das travestis e transexuais não concluíram o Ensino Médio. Isso mostra que nós temos que repensar também o projeto educacional e de segurança pública e de empregabilidade pra de fato construir cidadanias no país. É essa expectativa que eu quero ter no Congresso, de mesmo tendo divergências ideológicas, nós temos pontos em comuns que é construir cidadanias no país.”, afirma Duda.
Além de duas deputadas federais transexuais, o Brasil elegeu pela primeira vez um deputade estadual intersexo. Carolina Iara, do PSOL de São Paulo, é a primeira parlamentar intersexo da América Latina. Durante os debates do evento que reuniu parlamentares eleites, ela ressaltou: “Nós queremos que essas pessoas (LGBTQIA+) sejam instrumentalizadas para fazer as decisões políticas desses partidos”.
A violência contra a comunidade LGBTQIA+ é uma das principais preocupações discutidas durante o evento. Apesar de a transfobia ser crime no Brasil desde 2019, ao país ainda é, pelo décimo quarto ano consecutivo, o que mais mata pessoas transexuais e travestis em todo o mundo. A expectativa de vida de transexuais no país é de apenas 35 anos - menos da metade da média geral, de 77 anos.
A deputada estadual Dani Balbi, eleita pelo PCdoB do Rio Janeiro foi a primeira transexual doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela conta que viu de perto inúmeros casos de violência contra a comunidade. “A gente tem muitos desafios para que a população trans e travesti efetive de fato a sua cidadania e que possam, a partir disso, superar esse ciclo de violências. E o poder público é fundamental, respondendo e construindo política pública pra que nós possamos ter um lugar dentro da sociedade.”
Durante o evento, a Secretária Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Symmy Larrat, primeira trans a ocupar um cargo na esfera federal, afirmou que reestruturar as políticas públicas voltadas à proteção dessas pessoas, é urgente. “O principal desafio é instituir as normativas. Para isso a gente vai construir também um processo de participação social, com os movimentos sociais, com as pessoas que vem elaborando nesse campo, estudando sobre esses assuntos. Já há muito acúmulo de pesquisas e de documentos, que a gente vai se basear para a gente entregar, ainda este ano as normativas que vão fazer com que a gente enfrente essa violência cotidiana.”
Em 2022, o Brasil teve 79 candidates transexuais e travestis que disputavam vagas nas Assembleias Estaduais e na Câmara Federal. Quatro foram eleitas - duas para o Congresso Nacional e duas se tornaram deputadas estaduais. Além da eleição de deputade estadual intersexo.
*A pedido dos parlamentares eleites, a repórter utilizou o gênero neutro nas construções