Mato Grosso do Sul tem média de 56 vítimas de violência doméstica por dia em 2025
Mulheres não estão seguras dentro de casa e nem com aqueles que um dia confiaram, conforme os dados.
Em menos de dois meses de 2025, quase 3 mil mulheres procuraram a polĂcia para relatar serem vĂtimas de violĂȘncia domĂ©stica em Mato Grosso do Sul. O principal local onde os crimes acontecem, mostra que mulheres não estão seguras dentro de casa e nem com aqueles que um dia confiaram.
Os dados do Painel de ViolĂȘncia DomĂ©stica em MS, mostram que 2025 soma 2.987 vĂtimas de violĂȘncia domĂ©stica. A mĂ©dia, de 56 vitimas por dia Ă© tambĂ©m a de 2024, quando mais de 20,3 mil mulheres sofreram algum tipo de agressão dentro de casa.
Em Campo Grande, o nĂșmero de vĂtimas passa de 1 mil só este ano. Figueirão, de apenas 3,5 mil habitantes, Ă© o Ășnico dos 79 municĂpios de Mato Grosso do Sul que não registrou nenhum caso de violĂȘncia domĂ©stica este ano. No ano passado foram 13 vĂtimas.
ViolĂȘncia domĂ©stica evolui para as estatĂsticas de feminicĂdio. E só esse ano, quatro mulheres foram assassinadas por seus companheiros. Na prĂĄtica, campanhas de conscientização surtem pouco ou quase nenhum efeito, visto que os crimes continuam acontecendo.
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Mutirão para desafogar processos
Procurar ajuda, denunciar o autor das violĂȘncias Ă© o primeiro passo. Mas hĂĄ um longo caminho atĂ© que ele seja punido pelos seus atos, caminho este cheio de falhas de uma rede que deveria proteger as mulheres
A morte da jornalista Vanessa Ricarte, no dia 12 de fevereiro, foi a segunda do ano em Mato Grosso do Sul. Depois dela, outras duas mulheres perderam a vida em crimes de gĂȘnero. Mas a repercussão do caso foi suficiente para movimentar a rede de proteção à mulher do Estado.
Ăudios de Vanessa gravados poucas horas antes de morrer, relatavam frieza e descaso no atendimento da Casa da Mulher Brasileira. Mais que isso, ela foi orientada a ir para casa onde o então noivo estava. Ao chegar lĂĄ, sem escolta policial, foi morta a facadas.
Uma semana após a morte de Vanessa, a DGPC/MS (Delegacia-Geral da PolĂcia Civil de Mato Grosso do Sul) instituiu um GT (Grupo de Trabalho) para analisar quase 6 mil boletins de ocorrĂȘncia registrados na DEAM (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) de Campo Grande que não resultaram em instauração de procedimento ou que possuem providĂȘncias pendentes.
Sistema deficitĂĄrio
Campo Grande tem 80 oficiais de Justiça para cumprir todos os mandados emitidos pelo Tribunal de Justiça de MS. Mas os nĂșmeros são piores quando envolvem a Lei Maria da Penha, visto que apenas 10 oficiais estão designados a cumprir estes mandados, incluindo a retirada de agressores de dentro de casa.
O fórum de Campo Grande gera, em mĂ©dia, 400 medidas protetivas por semana. Essas medidas chegam às mãos dos Oficiais de Justiça, com determinações que incluem notificar agressores, feminicidas ou atĂ© mesmo retirĂĄ-los de casa.
Se cada oficial de Justiça da Maria da Penha precisa cumprir, em mĂ©dia, 40 mandados por semana, Ă© preciso efetividade em cinco deles por dia. Considerando 18 horas diĂĄrias (6h às 22h), o oficial tem em torno de 3h30 horas cumprir cada mandado de prisão.
"AĂ vocĂȘ chega na casa para retirar um agressor, a pessoa se nega a sair, precisamos acionar a polĂcia via 190, esperar a viatura chegar para então tirar ele da casa. Ă desesperador, porque ainda tem a pressão de que todos os casos são graves e precisam de celeridade", afirma um dos oficiais de Justiça ao Jornal Midiamax.
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Um mĂȘs sem medida protetiva
Recentemente, o Jornal Midiamax contou o relato de uma vĂtima de violĂȘncia domĂ©stica que mora em Campo Grande e que tem o agressor como vizinho. Apesar da denĂșncia e do pedido de medida protetiva, atĂ© o momento ele não foi intimado.
A campo-grandense contou que denunciou o ex-companheiro por agressão no dia 13 de janeiro. Na ocasião, ela buscou a Deam, registrou boletim de ocorrĂȘncia, pediu por medidas protetivas, mas atĂ© o dia 13 deste mĂȘs não teve a medida validada.
"AtĂ© agora não consegui (a medida protetiva), ontem o agressor veio atĂ© minha casa e fez novas ameaças. Não vou mais atrĂĄs, se eu morrer e virar estatĂstica, fica aĂ minha denĂșncia", desabafou.
Sobre o caso, o TJMS explicou que não pode repassar dados sobre casos sigilosos. Por isso, não confirma se a medida protetiva estĂĄ ou não vigente.