O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Alexandre de Moraes, negou habeas ao conselheiro afastado do TCE-MS (Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul), Iran Coelho das Neves. Ele está impedido de exercer as funções por seis meses após a Operação Terceirização de Ouro, deflagrada pela PF (Polícia Federal) em dezembro de 2022.
Os advogados do conselheiro, André Borges e Julicezar Barbosa, sustentaram que não há risco de atos considerados criminosos se ele retomar as funções, além de ter aberto mão da presidência da corte ao renunciar, o que cancelou o pleito no qual poderia se reeleger.
"E não só o impetrante é com ela prejudicado, mas também o próprio TCE-MS, pois os auditores substitutos de conselheiros têm competências restritas, não podendo votar em matérias administrativas – o que inviabiliza atualizações normativas e legislativas, além da própria eleição para a presidência do órgão, que foi cancelada", argumentaram.
Assim, a defesa pediu a anulação do afastamento, a permissão para que Iran volte ao trabalho e possa se comunicar com os colegas e servidores do TCE, além de poder retirar a tornozeleira eletrônica.
Em sua decisão, Moraes observou que as medidas cautelares aplicadas contra o conselheiro foram autorizadas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), e um recurso da defesa foi negado pela presidência da corte.
"Esta Primeira Turma vem autorizando, somente em circunstâncias específicas, o exame de habeas corpus quando não encerrada a análise na instância competente, óbice superável apenas em hipótese de teratologia ou em casos excepcionais. No particular, entretanto, não se apresentam as hipóteses de teratologia ou excepcionalidade", escreveu.
Em 8 de dezembro, a PF (Polícia Federal) deflagrou a Operação Terceirização de Ouro, um desdobramento da Mineração de Ouro, realizada em junho de 2021. Com apoio da Receita Federal e CGU (Controladoria-Geral da União), foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão em Campo Grande e mais quatro cidades brasileiras.
As investigações apontaram uso de pessoas jurídicas vinculadas à participação no certame para contratação de empresas com licitações fraudulentas. Assim, entre as estratégias utilizadas para vencer as licitações, estava a agilidade na tramitação do procedimento.
Além de exigência de qualificação técnica desnecessária ao cumprimento do objeto. Por fim, faziam contratação conjunta de serviços completamente distintos em um mesmo certame e apresentação de atestado de capacidade técnica falsificado.
Um dos contratos investigados, com a Dataeasy Consultoria e Informática, supera R$ 100 mil. A corte suspendeu os pagamentos à empresa após a operação, que acabou não sendo renovado. Iran, Ronaldo Chadid e Waldir Neves estão afastados por 180 dias.
Investigações da PF apontaram o conselheiro Waldir Neves cobrando propina de um empresário dono de uma fornecedora de café e água mineral para o TCE-MS. A corporação teve autorização para monitorar conversas de dois assessores de Neves, João Nercy Cunha Marques de Souza e William das Neves Barbosa Yoshimoto. A dupla era responsável por receber a propina.
Para a PF, o conselheiro "tinha ciência de que seus assessores cobravam e recebiam recursos de empresário que fornece insumos ao TCE-MS". William Yoshimoto já tinha sido alvo da primeira fase da operação, a Mineração de Ouro.