A letra narra a história de um homem que deixa sua mulher com os filhos para pecar num prostíbulo. "Unholy" virou um hit quase instantâneo e pescou Smith do mar de mesmice que vinha inundando seus últimos discos. O problema é que há pouco dessa audácia no resto do álbum.
O disco começa bem com a despretensiosa "Love Me More", o primeiro single do álbum. No clipe, Smith sai para uma noitada gay enquanto canta sobre autoamor e aceitação. É um tema que atravessa a sua carreira e a vida pessoal. Smith já disse em entrevistas ter enfrentado preconceito e resistência quando afirmou ser uma pessoa não binária.
Há um adendo sobre a solidão que jovens gays sentem quando enfrentam uma desilusão romântica e não podem desabafar com familiares. É como se Smith quisesse cutucar uma ferida aberta desde a sua adolescência.
Smith está mais gay do que nunca. Além de incluir frases da drag queen RuPaul no disco, tem vestido looks extravagantes. No clipe lançado nesta sexta, por exemplo, usa uma luxuosa capa cor-de-rosa felpuda e muito volumosa. Quer virar um ícone fashion.
Mas quer amadurecer também. "Os 30 quase me pegaram e cansei de canções românticas", brada nos versos de "I'm Not Here to Make Friends". O que não é bem verdade, já que várias das outras faixas falam justamente sobre suas desilusões. É uma canção pop genérica, dessas que são lançadas aos montes.
Com autoconfiança, Smith também dá pitadas de sensualidade ao disco. O primeiro gostinho apimentado se ouve em "No God", em que Smith embala seu vozeirão numa melodia quase erótica -ainda que de forma tímida se comparada a "Unholy". Na canção, toma as rédeas de um relacionamento para pôr na linha um amante.
É sexy também quando adocica a voz para cantar "Six Shots". "Eu sou como uísque, você pode sentir/ bate tão forte, mas tem um gosto tão doce/ não há como me amar, de jeito nenhum", canta, enquanto enumera as goladas que dá numa bebida que desce queimando pela garganta.
"Lose You", por sua vez, é menos criativa. Apesar de agitar o começo do disco com batidas eletrônicas, soa parecida demais com canções que Smith já lançou no passado, como "Dance", do disco "Love Goes", e "Promises", uma parceria com Calvin Harris.
Aliás, Smith traz outros parceiros para "Gloria" também. Depois de cantar em "Unholy", a alemã Kim Petras se tornou a primeira artista transexual a atingir o topo da Billboard Hot 100, uma das principais paradas musicais dos Estados Unidos. Outra colaboração interessante é "Perfect", com a canadense Jessie Reyez, que empresta seu jeitão descolado à canção. Combina bem.
É uma parceria com Ed Sheeran que encerra o álbum. "Who We Love" soa velha, como se viesse do primeiro disco de Smith, é verdade, mas pelo menos une dois dos maiores românticos do cenário pop numa bela canção. Smith recorre ao passado para coroar a sua glória. Até que dá certo.
GLORIA
Avaliação Bom
Quando Lançamento nesta sexta-feira (27)
Onde Nas plataformas de streaming
Gravadora Universal