A quebra do sigilo telefônico do padrasto e da mãe da menina de 2 anos morta no dia 26 de janeiro, após ser levada para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), em Campo Grande, demonstrou que o casal estava arquitetando exatamente o que diriam para os policiais que apurariam a morte da criança. Detalhes sobre a investigação do caso que gerou repercussão nacional foram dados pela Polícia Civil durante entrevista coletiva nesta segunda-feira (6).
Pela mensagens trocadas entre o casal, o padrasto da menina dizia para a mãe da criança dizer que ela havia caído no parquinho e que se ela contasse a verdade, ele se mataria. Um computador e os celulares do casal foram apreendidos para análise de possíveis materiais pornográficos nos aparelhos.
Sobre os 30 atendimentos médicos na ficha da menina, a delegada titular da DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente), Anne Karine, falou que não foi levado a conhecimento da delegacia a quantidade de atendimentos médicos. No dia da morte da criança, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou que não constatou maus-tratos, mesmo após 30 atendimentos médicos em uma única UPA.
Em relação aos dois boletins de ocorrência que denunciavam maus-tratos e foram registrados pelo pai da menina, o Delegado-geral, Roberto Gurgel, explica que a criança não foi levada para fazer exames no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Geral). Ainda segundo o delegado, após a remessa da investigação ao Judiciário, o pai não quis solicitar medidas protetivas, já que "não tinha certeza" que a ex-mulher estava maltratando a filha.
A menina foi ouvida em depoimento especial, mas só conseguiu dizer seu nome e sua idade e nada mais. Foram feitos dois TCOs (Termo Circunstanciado de Ocorrência), no caso dos dois boletins registrados. Em um dos episódios, quando a mãe foi ouvida pela polícia, ela teria dito que o ex-marido queria a guarda da filha.
A investigação sobre a morte da menina segue em andamento. Ainda faltam três laudos para a conclusão do caso: resultados da perícia feita no local, do material apreendido - computador e celulares, e do material genético colhido das partes íntimas da menina.
Em relação a outra criança que vivia com o casal, um menino de 4 anos, que é filho do padrasto da criança morta, a polícia afirma que o menino foi ouvido em depoimento especial.
Um inquérito será instaurado a partir dos detalhes contados pelo menino, que não foram revelados pela Polícia Civil.
Conclusão do laudo
Segundo o resultado do laudo, a menina sofreu traumatismo raquimedular na coluna cervical e foi constatada violência sexual antiga na menina. O inquérito policial foi encaminhado ao Poder Judiciário, nesta sexta-feira (3).
A prisão preventiva do casal foi decretada no dia 28 de janeiro, e em sua decisão o juiz relatou que os autores teriam tentado alterar as provas do crime. "A prisão preventiva se justifica, ainda, para preservar a prova processual, garantindo sua regular aquisição, conservação e veracidade, imune a qualquer ingerência nefasta do agente. Destaca-se que, conforme noticiado nos autos, a criança somente foi levada para o Pronto Socorro após o período de 4 horas de seu óbito, o que evidencia que os custodiados tentaram alterar os objetos de prova."
O juiz ainda citou que caso o casal fosse solto, haveria a possibilidade de tentativa de alteração de provas "para dificultar ou desfigurar demais provas". O casal foi levado para unidades penitenciárias, sendo a mulher para o interior do Estado e o padrasto da menina para a Gameleira de Segurança Máxima.
A penitenciária para onde a mãe da menina foi transferida não foi informada por questões de segurança.
A menina passou por vários atendimentos em unidades de saúde, entre eles febres, vômitos, queimaduras e tíbia quebrada. Em menos de 3 meses, a criança foi atendida diversas vezes sem que nenhum relatório fosse repassado sobre os atendimentos.
Menina teve 30 atendimentos na UPA
A criança já tinha em seu histórico médico o registro de 30 atendimentos feitos e, em um deles, a menina havia fraturado a tíbia.
O pai da criança relatou que já tinha registrado dois boletins de ocorrência contra a mãe da menina por maus-tratos. Os registros dos boletins de ocorrência foram no dia 31 de dezembro de 2021 e 22 de novembro de 2022, na DEPCA (Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente).
Em depoimento, a mulher disse que tinha medo de denunciar o atual companheiro. Ela ainda alegou que percebia sinais de abuso na criança quando ela voltava da casa do pai, de quem está separada, mas não relatou ter feito denúncia.
Série de abusos e agressões foram reveladas na noite do dia 26 de janeiro, após a menina de dois anos dar entrada na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Coronel Antonino já sem vida. Assim, mãe e padrasto da criança foram presos.
Para a polícia, a mulher disse que a filha começou a passar mal na noite de quarta-feira (25), com dores no estômago e vômito. No entanto, deu remédio para a criança, que teria melhorado.
Já na quinta-feira (26), a menina acordou pedindo comida, mas acabou vomitando e relatou novas dores no estômago. Então, à tarde a menina dormiu, acordando pior já por volta das 15h30.
Ainda segundo a mãe, a barriga da criança inchou e ficou dura, quando decidiu levar a filha ao médico. Assim, a mulher alega que a menina começou a ter dificuldades para respirar.
Apesar do trajeto entre a casa e o posto de saúde durar 10 minutos, a médica que atendeu a criança confirmou que a menina já estava morta há pelo menos quatro horas.