Sua memória não deixa lembrar exatamente quando o samba entrou em sua vida, mas parece que o ritmo esteve com ele desde o nascimento, na rua Dona Clara, em Madureira, na zona norte da cidade do Rio, em 7 de dezembro de 1936.
Confete viu nascer a tradicional Império Serrano; brincou no carnaval de rua de Madureira entre as décadas de 1940 e 1950; e participou de desfiles na Rio Branco, na década de 1960, quando as escolas de samba só contavam com um carro alegórico e não reuniam nem 500 pessoas na avenida.
Ele também vivenciou a transformação do carnaval carioca de uma singela festa popular no "Maior Show da Terra" - expressão que ele tira do refrão do consagrado samba É hoje (Didi e Mestrinho) - a participar de coberturas por veículos como a Rádio Continental, a Rádio Nacional e a TV Globo.
Como compositor, nunca teve a satisfação de assinar um samba-enredo em um desfile de carnaval carioca, mas criou algumas canções de relativo sucesso, como Pagode do Exorcista, que foi primeiro gravado pelo parceiro Nei Lopes, em 1974, e regravado no mesmo ano por Wilson Simonal em seu disco Dimensão 75.
No ano seguinte, foi a vez de Xangô é de Baê, uma parceria com João Donato e Sidney da Conceição, gravado inicialmente por João Donato e depois regravado por Caetano Veloso e também por Joyce Moreno.
Confete é também uma referência na cultura afro-brasileira, tendo participado da criação da escola de samba Quilombo, com Candeia, e do Centro Cultural Pequena África, que funciona na zona portuária carioca.
A reportagem da Agência Brasil conversou com o Griô do Samba. Confira a entrevista:
Agência Brasil: Como você foi parar no samba?
A primeira vez que eu fui a uma escola de samba, foi na Paz e Amor, em Bento Ribeiro. Eu devia ter uns 15 anos. Era uma sala. O seu Galdino, mestre-sala, dançando, os compositores cantando. Depois eu fui no Independente da Serra, fundada pelo sogro da dona Ivone Lara [Alfredo Costa]. Aí eu fui já na condição de poeta. Eu fazia lá umas letras e o Ernani Monteiro musicava. Eu conheci a dona Ivone naquela época, em 1954, 1955. Mas a escola não prosperou. Chegava um cara, dava dois tiros pro alto e acabava o samba. Depois eu descobri que aquela escola não podia vingar, porque quando foi fundado o Império Serrano, em 1947, foi acordado que a escola de samba que melhor se colocasse seria a escola de samba do local. Mas era um negócio muito pequeno. Escola de samba saía com 30, 40 pessoas. Quando saía com 100 pessoas, era um absurdo. Éramos um tanto quanto marginalizados. Para você oficializar uma escola de samba, você tinha que ir a uma delegacia local. Era assim que funcionava.
Agência Brasil: Mas mesmo sendo de Madureira, reduto do Império Serrano e da Portela, você acabou indo parar na Mangueira. Como isso aconteceu?
As escolas de samba eram pequenas. Tinha só um carro alegórico, que representava o enredo da escola. Era uma luta pra chegar no local do desfile. Saíam empurrando aquilo desde a Mangueira. Acho que, se tivessem 300 a 400 pessoas, era muito. Mas tinha bateria, ala das baianas, mestre-sala e porta-bandeira e algumas escolas já começavam a ter algumas alas. Um dia, seu Natalino José Nascimento, o Natal da Portela, chegou pra mim e falou: “pois é. Não sei como você foi parar naquela escola”.
Agência Brasil: Nesses primeiros desfiles, você saiu como passista. Mas você chegou a ter algum samba seu na avenida?
Agência Brasil: Mas já tinha disputa de samba-enredo naquela época?
Agência Brasil: Você teve algumas composições que foram bem-sucedidas. Como foi sua experiência como compositor?
Assisti a muita humilhação de compositores. Isso me afastou muito desse negócio de compor. Eu tinha muito receio das gravadoras. Eu tinha uma coluna de música popular no [jornal] A Tribuna da Imprensa. Eu vivia dentro de gravadoras. Eu ouvia o que eles falavam de sambistas. Era um preconceito tremendo. Pensei: “não vou ficar nisso, não”.
Agência Brasil: Como foi que o senhor chegou ao João Donato e compôs Xangô é de Baê?
Agência Brasil: Teve também o Pagode do Exorcista, que foi regravada pelo Wilson Simonal...
A Xangô é de Baê [gravada por Caetano Veloso] a Joyce também gravou lá pro Japão. De vez em quando pinga um dinheirinho. Rende pouco, mas ainda rende. O compositor tinha que viver de produção. Tinha que produzir muito.
Agência Brasil: O que o carnaval representa hoje pra você?
Agora só desfilo quando sou convidado. Este ano, não fui convidado, mas no carnaval de 2024, vou estar na Intendente Magalhães. Porque sou presidente de honra de uma escola que está surgindo, América Samba e Paixão. Eu vou ser o presidente de honra e o [tema do] enredo.