“Não é que está escrito nas estrelas, mas está mais ou menos escrito nas estrelas: vamos crescer pouco em 2023”, diz o sócio-diretor da consultoria MacroSector, Fábio Silveira. “Temos uma taxa de juros cavalar; os juros reais devem girar em torno dos 7,2% neste ano. Isso já pesou no crédito das famílias no ano passado e vai continuar pesando neste.”
Isso, explica o economista, deve enfraquecer o consumo, um dos principais motores da economia em 2022, que conseguiu avançar graças a alguns setores que cresceram enquanto outros ficaram para trás. A estimativa da MacroSector é de um PIB de 2,9% em 2022 e de 1% em 2023.
“O crescimento de 2022 foi bastante puxado pelo setor de serviços, que cresceu 8,3%, e por alguns segmentos do agronegócio, como milho, café e cana”, diz Silveira. “Já o varejo teve um avanço muito discreto, de 1%, e a produção industrial contribuiu negativamente, ela caiu 0,7%.”
Para a economista-chefe do HSBC, Ana Madeira, parte importante da história será contada pelo desempenho do consumo privado e dos investimentos no PIB do ano passado, e em quanto eles podem desacelerar.
“O consumo privado é a maior parte do PIB, e o investimento, embora seja uma parcela pequena, tem impacto importante na geração de emprego”, disse ela.
“O consumo privado tem mostrado uma desaceleração contínua e que vem se acentuando. Ele cresceu 5,7% no segundo trimestre [na comparação anual] e, no quarto trimestre, já deve crescer 3,1%”, acrescenta.
No primeiro trimestre de 2023 a expectativa do HSBC é que esse número seja ainda mais reduzido, para uma alta de apenas 1%. A desaceleração é resultado, principalmente, do efeito das altas dos juros, que, depois de uma escalada forte e rápida, chegaram aos 13,75% em agosto do ano passado.
O Banco Central vem mantendo a taxa Selic nesse patamar desde então, mas deve ser a partir do começo deste ano que os efeitos recessivos deles devem começar a pesar plenamente sobre a economia.
“Há uma defasagem no impacto do aperto monetário sobre a economia real de até cinco ou seis trimestres”, diz Madeira. “Então, se olharmos o momento em que o Banco Central começou a subir juros e quando eles começaram a ficar de fato restritivos, estamos falando de algo entre o quarto trimestre e o primeiro trimestre deste ano, para termos o peso completo desse ajuste.”
Nas contas do HSBC, o PIB cresceu 2,9% em 2022, com um avanço de 0,1% no quarto trimestre. Em 2023, deve crescer 0,7%.
Para o diretor de pesquisa econômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, fatores como uma recuperação rápida do mercado de trabalho e também uma retomada mais forte do que o esperado na saída da pandemia ajudaram a tornar o PIB de 2022 mais robusto.
“Mas isso ficou para trás”, diz, “o que temos pela frente é um cenário bem mais difícil para o crescimento por várias razões.”
A expectativa do Goldman Sachs, mais otimista que a média, é de um crescimento de 1,5% em 2023, depois de uma alta próxima dos 3% em 2022.
“Dá para ter um "pibizinho" acima de 1% neste ano, mas o crescimento será claramente mais modesto, porque o crescimento fácil, de recuperação ou normalização da economia, já aconteceu”, diz Ramos.
“Já recuperamos aquilo que perdemos na pandemia. Não há mais milhares de pessoas desempregadas e as empresas não estão mais operando com uma margem de utilização muito baixa. Uma vez que se exauriu essa margem de ociosidade, fica mais difícil crescer mais de 2%, e o Brasil vai ter que encontrar das pedras um crescimento mais robusto.”
Este conteúdo foi originalmente publicado em PIB de 2022 deve ser forte, mas indicará desaceleração em 2023, dizem economistas no site CNN Brasil.