Palco de um conflito entre indígenas e policiais militares na semana passada, a sede da Fazenda Inho, em Rio Brilhante, voltou a ser ocupada pelos guarani-kaiowá nesta quarta-feira (08). O grupo está pedindo para que a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e o Ministério Público Federal (MPF) assumam a interlocução com o Estado antes de que uma nova reintegração de posse seja deflagrada.
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O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) noticiou que na terça-feira (7), após remontarem sua retomada, os Kaiowá passaram a ser assediados pelos arrendatários da fazenda, que insistiam em colher e plantar monocultura de soja e passaram a provocar as famílias acampadas, jogando os maquinários sobre seus barracos, enviando drones sobre a comunidade e fazendo movimentos que buscavam incitar os indígenas a tomar posturas agressivas.
Diante da situação, os indígenas decidiram ocupar mais uma vez a sede da fazenda, porém, respeitando a integridade do “barracão” existente no local. O Cimi pontuou que o grupo fotografou a propriedade e as benfeitorias e enviaram à Funai, afim de evitar uma ação policial baseada na suposta violação dos imóveis, um dos argumentos usados como justificativa para a ação policial ocorrida na última sexta-feiar (03) e que resultou na prisão de três indígenas por desobediência.
“Os Kaiowá e Guarani solicitam que a Funai e o MPF passem a realizar uma interlocução com o Estado. As famílias estão cientes de seu pleno direito de acesso a seu terriório tradicional e solicitam aos órgãos que coordenem a retirada dos bens da casa e dos maquinários”, diz o Conselho Indigenista. Além disso, também querem o fim da colheita da soja no local e que novos plantios não serão permitidos.
O Cimi explica que há décadas os Kaiowá e Guarani do tekoha Laranjeira Nhanderu aguardam pela demarcação de seu território. A área chegou a ser incluída, em 2007, no Termo de Ajustamento e Conduta (TAC) firmado entre Ministério Público Federal (MPF) e a Funai que estabeleceu um plano de estudos para a demarcação de terras indígenas Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul.
O tekoha Laranjeira Nhanderu está incluído nos estudos da Terra Indígena (TI) Brilhantepegua, ainda em processo de identificação e delimitação – que deveria, segundo o TAC, ter tido sua demarcação concluída no máximo até 2009.
A fazenda Inho está sobreposta à área reivindicada pelos indígenas como parte de seu território de ocupação tradicional e, em 2022, esteve no centro de uma manobra de fazendeiros, sindicatos rurais e dos governos estadual e federal, que tentaram implementar um “assentamento rural” no local.