O espetáculo conta a história de amizade entre Elphaba, a Bruxa Má do Oeste, e Glinda, a Bruxa Boa do Norte, apresentando a relação das duas antes de conhecerem o Mágico de Oz. Em uma primeira montagem no Brasil, em 2016, Wicked levou 340 mil pessoas ao teatro. Neste ano, antes mesmo de estrear, a nova montagem brasileira já tinha vendido 40 mil ingressos.
“A questão feminina, nessa peça, é muito bonita. A rivalidade entre as mulheres, a qual é muito fomentada na sociedade machista que vivemos, é quebrada com essas personagens que são diferentes e complementares ao mesmo tempo. Isso é muito atual”, explica.
Médici, aliás, também atualiza o Mágico de Oz e o aproxima da história recente do Brasil ao imitar o ex-presidente Jair Bolsonaro em uma breve passagem em que fala sobre o caráter mentiroso e autoritário de sua personagem durante o espetáculo.
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O ator assistiu à primeira montagem de Wicked na Broadway, em Nova York, em 2003. Naquela época, já tinha ficado impressionado com a produção e com o enredo. Quando recebeu o convite para viver o personagem icônico do Mágico de Oz, ficou “lisonjeado”.
“É espetáculo que eu adoro. Fazer um musical é um ato de atletismo devido à demanda, mesmo fazendo um personagem menor como do Mágico nessa peça, a dedicação exigida é muito grande”, diz.
O ator começou a estudar canto e dança no início da carreira, nos anos 1990. Participou de montagens musicais de sucesso como “Sweet Charity” (2006), “The Rocky Horror Show” (2016) e “Se meu apartamento falasse” (2018).
Confira os principais trechos da entrevista concedida por Marcelo Médici ao Metrópoles:
Antes de ser convidado para viver o Mágico de Oz, em Wicked, você tinha alguma relação com a personagem?
Eu amava o filme, que assisti milhões vezes na Sessão da Tarde, e o livro, que li na infância. Demorei para ir à Nova York, porque não tinha grana. Em 2003, quando tive dinheiro para viajar, fui para Nova York e assisti a dois musicais. O primeiro foi “Billy Elliot” e o segundo, “Wicked ”, que havia estreado recentemente na época. Tomei um susto porque era uma produção muito grandiosa. E fiquei muito fascinado, porque eu achei a ideia genial.
Você acha que as redes sociais e o mundo que a gente vive hoje ressignificou a personagem do Mágico de Oz?
Totalmente. Wicked está mais atual do que nunca. Essa peça tem muitas camadas, cada cena tem zilhões de possibilidades de leitura. Eu estou fazendo um Mágico muito diferente do que eu vi na Broadway, interpretado por Joel Grey, que na época era um senhor (Grey tinha cerca de 70 anos). Com a ajuda do diretor John Stefaniuk (que também dirigiu o espetáculo em Nova York), fizemos uma revisão da personagem. Eu a deixei mais histriônica, mais má e cruel. Porque o Mágico é mentiroso e manipulador.
Como foi sua preparação para viver essa personagem?
Quando pintou o convite, eu fiquei lisonjeado, porque é um musical que eu já gostava. A Fabi (Bang, que vive a personagem Glinda) e a Myra (Ruiz, Elphaba) não deixam nada a desejar para Idina Menzel e Kristin Chenoweth (as primeiras progragonistas do espetáculo na Broadway). Eu fico aqui, na coxia, embevecido com o trabalho das meninas. O trabalho delas é uma coisa antológica. Quanto a preparação para essa personagem, em questão física, para mim, não é tão complicado quanto foi “Rocky Horror Show” e “Se meu apartamento falasse”, peças em que eu ficava mais tempo em cena. Mas fazer um musical é sempre um ato de atletismo devido à demanda, mesmo fazendo um personagem menor como o Mágico nessa peça, a dedicação exigida é muito grande.
Antes de começar os ensaios para Wicked, você estava com a peça “Teatro para quem não gosta”. Nesse momento de arrefecimento da pandemia, os teatros estão lotados. Ainda tem gente que não gosta de teatro?
Essa peça foi criada em 2018, naquele momento catastrófico de mudança de governo, em que eu estava sentindo que o teatro estava claudicando. Realmente, agora, o mundo parece estar querendo voltar ao que era antes. Nós íamos fazer uma nova temporada dessa peça no segundo semestre, mas percebemos que não era momento. Porque o teatro nunca acaba e nunca acabará. Ele é anterior ao cinema mudo, ao cinema falado, à televisão, aos serviços de streaming. A troca que existe entre o artista e o público é sempre mais bonita no teatro.
Você acha que esse grandes musicais, que atraem centenas de milhares de pessoas para o teatro, ajuda na atração de público para produções menores?
Eu, como ator, sempre fui na contramão de alguns colegas. Primeiro, nunca tive preconceito com televisão. Aliás, minha formação vem do desejo de fazer novela. Conheci o teatro depois. Fiz teatro pelo desejo de fazer novelas. O teatro não movimenta só o público. Parte da economia de Nova York vem da Broadway, ou seja, do teatro. As pessoas falam “isso é teatro comercial”, todo teatro é comercial a partir do momento que você cobra ingresso. Então, eu acho que contribui, sim. Claro que tem um público que só gosta do teatro musical, mas isso é melhor do que nada.
Quando surge o seu desejo em fazer um musical? Porque você começou muito antes dessa onda.
Quando comecei, nos anos 1990, quem cantava era cantor, quem dançava era bailarino e quem atuava era ator. Mas, com o pouco dinheiro que ganhava, fui fazer aula de canto e sapateado. Eu não sou um bailarino, não sou um cantor, mas eu me preparei na medida que eu podia naquela época. Eu sempre falo para o meu irmão, que é ator, faça aula de dança, faça aula de canto, porque está vindo aí um estilo de teatro com essa grandiosidade do musical. Os atores suplentes de Wicked são tão bons quanto os do elenco principal. É muito bonito ver esse crescimento do teatro musical no Brasil.
Teatro Santander (Shopping JK Iguatemi): Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041 — Cidade Jardim. Qui./sex.: 19h 30; sáb./dom.: 15h e 19h30. Site: teatrosantander.com.br. Ingressos a partir de R$ 50.
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