No palco do SxSW – um dos maiores festivais de tecnologia, empreendedorismo e cultura – Brockman foi entrevistado pela especialista Laurie Segall, que se tornou CEO da Dot Dot Dot após mais de uma década escrevendo sobre tecnologia para a CNN. E se a conversa pareceu milimetricamente combinada, houve espaço para alguns improvisos do homem por trás do ChatGPT.
“O mais importante aqui vai ser dominar essas habilidades de alto nível – julgar e saber quando se aprofundar nos detalhes. A verdade é que, como eu imagino, é o potencial para amplificar as habilidades humanas”, disse Brockman.
Outro momento que pareceu sair do script foi quando Segall questionou Brockman sobre um dos pontos mais críticos das interações com o ChatGPT: dar os créditos e citar as fontes de ondo a ferramenta sacou os dados. “As pessoas precisam entender que não é porque o ChatGPT falou que isso será verdade. Não funciona assim para os humanos e não haveria de funcionar assim para as inteligências artificiais”, explicou.
Ainda para Brockman, a questão crucial é que, como se espera de uma “inteligência”, a grande habilidade do ChatGPT é conectar informações e gerar conhecimento, através de algo que seja o mais próximo da sua conclusão.
Para ilustrar, seria como perguntar para a Alexa e para o ChatGPT algo relacionado a um fato histórico. Enquanto a assistente pessoal da Amazon vai apenas citar algum verbete da Wikipedia, a ferramenta da OpenAI vai conectar o que ela leu, aprendeu e assimilou sobre o assunto, elaborar sua própria resposta e tentar explicar para o usuário. Daí, possivelmente, a dificuldade de elencar as fontes.
Ainda sobre a “relação” com a Amazon, outro ponto que, embora já tivesse sido citado pelo próprio CEO algumas vezes, foi novamente lembrado no SxSW, com um grau maior de detalhamento.
“Em 2016, nós tínhamos um modelo que foi treinado nos reviews da Amazon, e que já conseguia prever a próxima letra, a próxima palavra, o que viria em seguida. E chegou ao estado da arte da análise de sentimentos. Você fornece uma frase e ele pode dizer se é positivo ou negativo. Pode não parecer muito impressionante agora, mas, na época, foi o momento que soubemos que era nessa direção que deveríamos seguir. Nós entramos no mundo da semântica, e começamos a forçar nessa direção”, afirmou Brockman.
Ainda sobre os limites éticos do ChatGPT, dois pontos foram extremamente debatidos por Segall e Brockman: a propriedade intelectual e a substituição de mão de obra humana pela inteligência artificial.
Sobre o primeiro ponto, Brockman não parece ter respostas – embora a apropriação de estilos, vozes e até mesmo de personalidades sejam algo que soam possíveis para o ChatGPT. E, basicamente, o CEO da OpenAI, se não jogou a responsabilidade para quem faz as leis, ao menos deixou claro que essa é uma tarefa a ser dividida entre a empresa e os políticos.
“Estamos prestando muita atenção aos legisladores. E penso que esta é uma conversa muito importante que teremos de ter em breve. Nossa companhia pretende fornecer toda a informação necessária para mostrar o que é possível ser feito e como deve ser conduzida a conversa sobre estes tópicos. Eu não tenho todas as respostas, mas é muito importante que conversemos sobre as perguntas”, apontou Brockman.
E, sobre o impacto da IA sobre o mercado de trabalho, Laurie Segall foi direta na pergunta: “O ChatGPT está vindo roubar nossos empregos?”.
Com certo grau de otimismo, que, por vezes beira a ingenuidade (e que nos faz até mesmo desconfiar se é isso mesmo que ele pensa), Brockman explica que, no fim, o objetivo da IA é que as habilidades humanas sejam cada vez mais amplificadas para que, no fim, todos sejamos promovidos.
“Imagino que vamos em direção de sistemas que irão nos tornar muito mais "gerentes", que vão preparar os "esqueletos", que pulem as checagens nos dicionários. Com o Chat, você pode ser mais ambicioso. "Eu quero que o software fique assim", e o sistema prepara o básico, compila e testa”, explicou.
Brockman lembrou que a IA não explora todo o potencial ainda. “Ainda não contemplamos todo o salto possível, mas eu penso que a lição que tiramos disso é que os humanos são muito mais capazes do que nós podemos imaginar. Muito mais do que simplesmente fazer seu trabalho, fazer o que você está fazendo agora mesmo”, concluiu Brockman.
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