É uma mudança substancial para a Meta em muitos aspectos. Primeiro, apesar de o Facebook, em seu início, ter sido baseado em textos, o investimento maciço da empresa nos últimos anos foi em vídeos (para não falar na malfadada aventura no metaverso), principalmente após o boom do TikTok.
Segundo, e mais importante, será uma rede social descentralizada, algo inédito no portfólio da Meta -Facebook e Instagram sempre foram centralizadas. Uma plataforma descentralizada possui diversos servidores, criados e gerenciados por usuários voluntários, que definem as próprias regras de moderação de conteúdo. A matriz estabelece apenas regras básicas, como a proibição de discurso de ódio. O exemplo mais bem acabado é o Reddit. E o mais recente é o Mastodon.
Terceiro, ela quer pegar carona em uma possível derrocada do Twitter de Elon Musk. Desde que o dono da Tesla e da SpaceX pagou US$ 44 bilhões (R$ 228 bilhões), a rede social vive dias de caos, demissões, receita em queda, recrudescimento da desinformação, áreas paralisadas por falta de funcionários e servidores fora do ar.
A vida do usuário se tornou mais difícil (será preciso ser assinante para ter verificação em duas etapas via SMS, por exemplo, uma medida de segurança básica). E o lucro projetado com o Twitter Blue, o sistema de assinaturas, está abaixo do esperado. Por enquanto são apenas 300 mil pagantes em todo o mundo.
Apesar de a Meta ter anunciado esta semana mais uma demissão em massa, se existe uma empresa com condições de colocar isso em pé com sucesso, esta empresa é a Meta e seus mais de 2 bilhões de usuários diários ativos, algo que só ela possui. Até por isso o P92 permitirá o login com as credenciais do Instagram.
Não significa que será um sucesso. Primeiro porque inúmeros projetos da divisão de experimentação de novos produtos da Meta fracassam. Mesmo que saia da versão beta e seja lançado, ainda não existe um modelo de monetização eficiente nas plataformas descentralizadas, ao contrário do Instagram e Facebook, cujos anunciantes jorram dinheiro.
Mas é um movimento interessante não só pela descentralização, mas pela desfragmentação das redes que está acontecendo atualmente (TikTok, Kwai, Hello, Koo, Mastodon, Telegram, a todo instante surge uma nova plataforma).
Se na década de 2010 fomos dominados pela Meta, agora talvez ela tenha que se encaixar em um novo cenário -que inclusive pode nem passar pelas redes sociais e sim pelos chatsGPTs da vida.