Em 2 meses, motorista recebe R$ 18,9 mil em diárias de Câmara alvo de inquérito do MPMS
Diárias da Câmara de Iguatemi foram alvo de investigação
Diárias pagas ao motorista da Câmara de Iguatemi geraram questionamentos no município, a 456 quilômetros de Campo Grande. Neste ano, o servidor recebeu R$ 18.928,00 em diárias da Casa de Leis, que foi alvo de investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).
O valor é o total de oito lançamentos de diárias, conforme o Portal da Transparência da Câmara de Iguatemi. Os valores são de 16 de janeiro a 22 de março deste ano.
Ao Jornal Midiamax, o presidente da Câmara, vereador Genesio Neto (PP), disse que os valores estão de acordo com a Lei Orgânica. "O que tiver no Portal da Transparência é verdade. Ele acompanha todas as viagens oficiais, o motorista é que leva os vereadores", afirmou.
"A gente está cumprindo aquilo que rege a Lei Orgânica. Se estiver ocupado o carro já com o motorista, o próximo carro pode ir o vereador conduzindo. Mas o primeiro carro oficial que sair tem que ser conduzido pelo motorista. Isso é a lei que determina isso", detalhou.
Ao Jornal Midiamax, ele afirmou que a Câmara também pagou estes valores em anos anteriores. "Nunca tivemos nenhum problema, isso vem acontecendo há alguns anos já".
Diante disso, a reportagem consultou o Portal da Transparência e constatou que o mesmo motorista recebeu R$ 32.874,84 em diárias durante o ano de 2022 e R$ 14.475,00 em 2021.
Reajuste de diárias
A Câmara de Iguatemi é alvo de inquérito civil no MPMS, instaurado em 24 de agosto de 2022. O procedimento apura regularidade e licitude da lei que regulamenta a concessão de diárias aos vereadores e servidores da Casa de Leis.
Contudo, o inquérito partiu de um procedimento preparatório com denúncia anônima. O cidadão alega que a diária paga aos vereadores antes da lei era de R$ 450. Porém, a norma aumentou o valor para cerca de R$ 940.
Na lei nº 2.373/2021, o município define que serão pagas 20 Uferms (Unidade Fiscal de Referência de Mato Grosso do Sul) — que são alteradas a cada mês — aos vereadores em viagens até Campo Grande.
A legislação municipal prevê ainda que, em caso de afastamento da sede do município, o motorista receba o mesmo valor pago ao vereador.
Recomendações
Assim, o MPMS fez recomendações para a Câmara. Uma delas é a diferenciação no valor das diárias para servidores e vereadores que utilizam carros próprios. Como resposta, o município acrescentou 6 Uferms no valor das diárias pagas.
Além disso, pediu o preenchimento dos relatórios de forma detalhada. "Exija que o relatório de viagem não seja preenchido com descrição genérica dos serviços executados e pessoas contatadas". Anotações do horário de saída e chegada dos eventos deverão ser obrigatórias e comprovadas.
Por fim, o MPMS recomendou, urgentemente, que todos os vereadores de Iguatemi fiscalizem o pagamento de diárias. "As diárias não devem ser vistas como meio de complementação de rendas dos servidores municipais", destacou.
A Câmara afirmou que as alterações e adequações foram feitas em alteração à lei. Os ajustes foram publicados no Diário Oficial da Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul). No entanto, o artigo que dispõe sobre o pagamento igualitário de diária para motoristas segue na matéria.
Denúncias
Sobre os questionamentos do valor das diárias ao motorista, Genesio acredita ser o início de "um momento de futuro político". Segundo ele, "existe uma pessoa dentro da Câmara, que tem um pensamento divergente dos outros oito vereadores".
Então, o presidente da Câmara afirmou que "o marido dela está fazendo esse sensacionalismo em tudo que acontece na cidade, com o prefeito, com o presidente da Câmara". Contudo, voltou a ressaltar que "não tem nenhuma irregularidade" nas diárias pagas.
Ao Jornal Midiamax, a vereadora Juliana Ruiz (MDB) disse estranhar o valor das diárias. "Acho que o valor do motorista é um valor muito alto. Ele recebe a diária conforme a diária do vereador, não tem uma diária menor", afirmou.
A vereadora disse que as denúncias não partiram dela ou do marido. "Me mandaram isso hoje, e hoje eu fui averiguar esse valor", justificou. "Eu por exemplo não uso o motorista da Câmara, sei dirigir a vida inteira e não tem porque eu pegar um motorista para mim", acrescentou.
O Jornal Midiamax tentou contato com o motorista da Câmara, Dyego Lopes de Figueiredo. Contudo, não houve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.