Na manhã de hoje, o Posto Avançado de Atendimento Humanizado ao Migrante, equipamento da prefeitura instalado no aeroporto, informava que 33 afegãos aguardavam acolhimento no local. Desde o ano passado, eles começaram a chegar no país, mas, como não tinham onde se instalar, ficavam nas aéreas comuns do terminal.
Enquanto os refugiados permanecem no local, a prefeitura fornece a alimentação – café da manhã, almoço e jantar –, além de água, cobertores e atendimentos socioassistenciais e de saúde. “Em Guarulhos, são cinco residências para acolhimento de migrantes e refugiados, quatro geridas pela prefeitura, somando 127 vagas, e uma gerida pelo governo estadual, com 50 vagas. Todas estão no limite”, diz a prefeitura, em nota.
De acordo com Aline Sobral, a prefeitura, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e a organização humanitária Cáritas procuram conseguir abrigo para os imigrantes, mas a falta de vagas dificulta a alocação dessas pessoas. Segundo Aline, o prazo para abrigá-las tem variado de cinco a sete dias e, até lá, elas permanecem no aeroporto. O Coletivo Frente Afegã tenta manter a oferta de café da manhã e jantar.
“Não dão cobertores, não dão colchonetes, e o café da manhã chega às 10h, com um suco pequeno e um bolo daqueles da Ana Maria. Eles estão no jejum do Ramadã e, na hora de iniciar o jejum, não têm o que comer. Se não fossemos nós, da sociedade civil, eles não teriam nem os pães. Para quem está de jejum, tem que esperar até as 19h, para jantar. O almoço para os que não fazem jejum chega após as 14h. Me entristece ler nas outras matérias que eles estão fornecendo o que não estão”, disse Aline.
O Ramadã é o nono mês do calendário islâmico, em que os muçulmanos ficam em jejum, do nascer ao pôr do Sol.
O posto humanizado do aeroporto de Guarulhos fecha às 19h, e a maioria dos voos chega depois desse horário. “Então, se não fosse o coletivo, e nossos amados voluntários, eles [refugiados] dormiriam no chão e no frio.”
Segundo a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, nos últimos 12 meses, o estado de São Paulo atendeu, acolheu e encaminhou cerca de 3 mil afegãos. Somente neste ano, foram feitos 700 atendimentos e abrigamentos com recursos próprios do estado e dos municípios de Guarulhos e de São Paulo.
Em fevereiro, com a construção da Casa de Passagem Terra Nova Guarulhos, com 50 vagas, que já estão ocupadas pelos afegãos, a secretaria informou que havia zerado o número de refugiados que acampados na ocasião. Além disso, os sete equipamentos para migrantes e refugiados do estado, com 200 pessoas acolhidas, estão com capacidade esgotada.
Em nota, a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo informou que estuda novos cofinanciamentos para atender refugiados em parceria com a capital paulista e municípios da região metropolitana. “[A secretaria] aguarda coordenação e orientação do governo federal para ampliar o acolhimento aos refugiados afegãos e de outras nacionalidades.”
No dia 23 de fevereiro, a prefeitura de Guarulhos protocolou, no Ministério de Portos e Aeroportos, um pedido para que a cidade seja reconhecida como fronteira aérea do país por causa da chegada de pessoas refugiadas no terminal. A solicitação visa a facilitar o recebimento de recursos para o atendimento de migrantes e refugiados na cidade, que conta com o maior aeroporto da América do Sul.
“A crise humanitária que ocorre devido ao alto número de afegãos que aterrissaram no Brasil pelo aeroporto internacional e que, sem ter para onde ir, permaneceram acampados no local, revelou uma deficiência do país na recepção de refugiados e imigrantes. O prefeito Guti [Gustavo Henric Costa] defende que, como fronteira, Guarulhos poderá desenvolver junto ao Estado e à União uma política permanente de recepção a esse público”, diz nota divulgada pelo município, que informou ainda não haver prazo para devolutiva.