Pantanal (MS)- Um estudo recente realizado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) revelou que 15% das estradas de Mato Grosso do Sul apresentam pontos críticos onde ocorrem frequentes atropelamentos de animais silvestres de grande porte.
A pesquisa, realizada entre os anos de 2017 e 2020, identificou 2.159 carcaças de animais mortos nas rodovias, sendo 425 antas, 766 tamanduás-bandeiras e 968 capivaras.
A publicação científica Austral Ecology, da Wiley (Austrália), destaca a importância da implementação de medidas de mitigação, a partir da indicação dos pontos mais críticos nas estradas e rodovias em todo o território de MS.
O mestre em recursos florestais e primeiro autor do artigo, Yuri Ribeiro, utilizou modelos espaciais para avaliar o uso do solo, a distância de rios e a topografia da região, além dos dados de colisões coletados pelo projeto Bandeiras e Rodovias, executado pelo ICAS, no período de 3 anos, em cerca de 2.000 quilômetros de rodovias no MS.
Segundo Ribeiro, “este estudo mostra que as colisões veiculares com fauna não é simplesmente uma fatalidade. Ela é sim uma tragédia anunciada”. A pesquisa evidencia a necessidade urgente de implementação de medidas para proteger a vida das pessoas e dos animais, principalmente nos pontos mais críticos identificados pela pesquisa.
Metodologia
O primeiro passo do estudo foi compreender a distribuição das colisões veiculares com as três espécies que representam maior risco à segurança humana e que são amplamente impactadas e atingidas no Mato Grosso do Sul.
Posteriormente, foi realizada a identificação das características do ambiente, como, por exemplo, a distribuição de áreas de vegetação nativa, se tem a presença de rios, córregos, relevo mais acidentado, altitude, entre outras informações.
Os dados foram analisados em grandes escalas no entorno de estradas, resultando na modelagem da probabilidade de ocorrência destes animais e o risco de colisões com cada uma delas ao longo das rodovias.
De acordo com o fundador do ICAS, Arnaud Desbiez, o monitoramento das rodovias serviram de base para a modelagem deste novo estudo, que classificou uma grande extensão da malha rodoviária de MS como prioritária para mitigação. Com isso, a pesquisa oferece importantes informações com o objetivo de proporcionar uma melhor segurança viária para as pessoas e à biodiversidade.
“É preciso que haja o diálogo entre os diferentes setores público, privado, instituições de pesquisas e sociedade civil, para que haja um consenso sobre a priorização, especialmente no que diz respeito a melhoraria no processo de licenciamento ambiental, que deve, obrigatoriamente, incluir informações e orientações embasadas cientificamente, sobre onde as medidas de mitigação devem ser implementadas primeiro”, ressaltou o presidente do ICAS.
Estrada Viva
Vale ressaltar que o Governo de Mato Grosso do Sul já vem implantando o programa “Estrada Viva – a fauna pede passagem” com monitoramento permanente e mantém ações de redução de atropelamento de animais silvestres nas rodovias MS-040, MS-178, MS-382, MS-339, MS-345 e MS-450, além da BR-359.
As ações são desenvolvidas desde 2016 em parceria com o Cemap/UEMS (Centro de Estudo em Meio Ambiente e Áreas Protegidas da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), que cataloga as espécies atropeladas e identifica os principais pontos de passagem dos animais para propor medidas preventivas e de mitigação dos incidentes.
Desde 2022, todos os novos projetos de rodovias passaram a seguir o “Manual de orientações técnicas para mitigação de colisões veiculares com a fauna silvestre nas rodovias de Mato Grosso do Sul”, que foi elaborado pelo Governo do Estado em parceria com ONGs (Organizações Não-Governamentais) ambientais.
O documento é utilizado como base na contratação de projetos viários para que novas obras tenham dispositivos de segurança para os bichos. O Mato Grosso do Sul é o único estado do Brasil que possui e segue um manual deste formato.