"As mães brasileiras estão pedindo ajuda para vacinar seus filhos. Sozinhas, elas não estão dando conta do desafio de manter seus filhos vacinados respeitando o calendário vacinal", sintetizou o diretor do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles, durante o evento de divulgação da pesquisa, na manhã desta quarta-feira (19), em São Paulo.
O estudo "Escola: uma aliada da vacinação infantil", que se baseia nas respostas de 2.000 mulheres com filhos de até 15 anos entrevistadas nas diferentes regiões do país, e mostra que 66% das mães já atrasaram a vacinação dos filhos ou deixaram de imunizá-los por não lembrar a data da vacinação (50%), falta de tempo (38%), morar longe do posto (35%) ou ter perdido a carteirinha de vacinação (25%).
As entrevistadas também indicaram outros motivos que atrapalham a vacinação: falta de conhecimento sobre o calendário vacinal (45%), horário de funcionamento dos órgãos de saúde (39%) e dificuldade de acesso aos postos de saúde (39%).
Para elas, a escola poderia ajudar a lembrar do calendário vacinal e seria prático se os filhos fossem vacinados nas unidades de ensino porque isso evitaria deslocamentos e gastos.
Entre as mães consultadas, 85% afirmaram que, se houvesse vacinação nas escolas, a cobertura vacinal infantil poderia ser maior e, para 82%, se as escolas ajudassem no controle das datas de vacinação, mais crianças estariam com a carteirinha em dia.
Elas também indicaram que ficariam seguras com a vacinação na escola se soubessem que seria realizada por profissionais de saúde qualificados (81%), que a medida evitaria o atraso nas vacinas de seus filhos (77%) e, para 76%, "a escola é o lugar ideal para ter a possibilidade de vacinação infantil".
Segundo a pesquisa, a imunização nas escolas também ajudaria parcela das mulheres que precisam perder um dia de trabalho para levar os filhos aos postos.
Na região Norte, 51% das mães afirmaram que já faltaram ao trabalho para poder imunizar os filhos, taxa acima da média nacional, de 45%. Também nesses estados, 66% das mulheres relataram ter dificuldades para gerenciar a carteirinha de vacinação.
"O que faz alguém não se vacinar no Pará, na Bahia, não é o mesmo observado nos Jardins ou no interior do Rio Grande do Sul", lembrou o pediatra Renato Kfouri, presidente do departamento de imunologia da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Kfouri destacou que, enquanto para as classes mais baixas questões de acesso e conveniência interferem na taxa vacinal, nas mais altas a hesitação geralmente está relacionada a uma falta de percepção de risco da doença e mesmo de confiança nos imunizantes.
"Pela primeira vez, vemos pais vacinados que não querem vacinar seus filhos", comentou o médico.
A baixa percepção de risco das doenças foi apontada por 9% das mães como um motivo que atrapalha a vacinação infantil, mesmo índice da falta de profissionais para aplicação das doses. Em seguida, aparecem falta de algum documento que impede a vacinação (10%) e a falta de confiança nas vacinas (17%).
Na terça-feira (18), a AMB (Associação Médica Brasileira) e o Ministério da Saúde realizaram uma reunião para alinhar ações em conjunto visando à conscientização da população sobre a importância de se vacinar e à retomada das altas taxas de vacinação.