A afirmação foi feita em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, exibida na noite deste domingo (14).
O menino, de Santa Catarina, foi encontrado pela Polícia Militar paulista em um carro no Tatuapé, zona leste de São Paulo, na tarde de segunda-feira passada (8).
No carro com a criança estavam Marcelo Valverde Valeze, 52, e Roberta Porfírio de Souza Santos, 41, que estão presos preventivamente. Eles negam a acusação de tráfico de pessoas.
De acordo com a Polícia Civil de Santa Catarina, o marido de Roberta Santos também está sendo investigado. Uma das hipóteses é que o casal tentava adotar a criança de forma clandestina.
Outra investigada é a esposa de Marcelo Valeze. A jovem de 22 anos contou que conheceu Valeze durante a gravidez, em 2021, em um grupo de apoio a mães. A informação foi confirmada pela defesa do homem na semana passada. Não há registro do pai do menino na certidão de nascimento e ela é mãe solo.
A partir daí começaram a trocar mensagens. "Ele contou a história dele, que é tentante [para engravidar] com a mulher dele, que tiveram diversos abortos, que eu tive uma gravidez inesperada e dessa situação foi gerando uma confiança", afirmou. E começaram propostas.
"Ele falava que seu botasse uma criança no mundo para sofrer, aquilo iria me gerar um carma, gerar carma na criança."
Segundo ela disse à TV, no mês passado os dois voltaram a trocar mensagens com mais frequência, que o homem afirmou que não queria mais ficar com o bebê, mas contou que conhecia uma mulher que poderia ficar com a criança.
Eles combinaram um encontro com Roberta Santos, no dia 30 de abril, na praça de alimentação de um shopping em São José (SC), porém a mulher se atrasou, conforme a TV.
A esposa de Valeze, conforme contou, teria feito um Pix de R$ 100 para a mãe do menino pagar alimentação e transporte. A polícia confirmou que está investigando a transferência do dinheiro.
Em seguida houve o encontro, no estacionamento de um supermercado. De dentro do carro, onde estava Roberta Santos e o marido, a mãe afirmou ter sido pressionada a entregar a criança, segundo ela falou à TV.
"Eu teria que tomar a decisão ali mesmo, então, por pressão e manipulação, que eu já estava ali, acabei cedendo, tive um surto e resolvi entregar a criança a ele, mas sem pensar que poderia ser uma quadrilha de tráfico ou algo do tipo", afirmou.
A mãe ficou hospedada em um hotel, pago por Santos, segundo as investigações, e voltado para casa no dia seguinte, 1º de maio, quando o menino estava em Balneário Camboriú -imagem do garoto brincando com outras crianças na areia foram mandadas para ela.
A jovem disse ter se arrependido quando Santos afirmou que iria embora -o garoto acabou sendo levado para São Paulo, onde mora a mulher. "Foi naquele momento começou o arrependimento e a cair a ficha do que tinha feito."
A avó, que deu falta da criança, começou a procurar o menino, com a ajuda do tio do garoto.
A criança está em uma casa de acolhimento em São Paulo e deve retornar nesta segunda-feira (15) para Santa Catarina, onde inicialmente ficará em um abrigo institucional em São José, na Grande Florianópolis. Os avós maternos da criança querem a sua guarda.
A Polícia Civil de Santa Catarina vai pedir a quebra de sigilo bancário dos envolvidos no caso.
O pedido será feito após a polícia ter recebido a informação de que a mãe recebeu R$ 100 para o deslocamento para entregar da criança. A quebra de sigilo poderá identificar outras possíveis transações financeiras entre os suspeitos.
Ainda de acordo com a investigação, mensagens de celular indicam que a mãe sofreu assédio para dar o filho desde o nascimento dele, há dois anos. A defesa de Valeze nega.
Em 2 de maio, a mãe foi internada na UTI de um hospital, por motivos não informados, o que impediu que familiares soubessem o que aconteceu com o menino, que não viam desde 30 de abril. Em 5 de maio, a avó e um tio maternos fizeram um boletim de ocorrência na Polícia Civil e o menino foi incluído no programa SOS Desaparecidos da Polícia Militar de Santa Catarina.
Em 8 de maio, a criança foi encontrada dentro de um carro em São Paulo, junto com um homem e uma mulher, presos em flagrante sob suspeita de tráfico de pessoas.
As defesas dos presos negam a acusação. Segundo a advogada Fernanda Salvador, que defende Roberta Santos, o menino foi entregue pela mãe para que fosse cuidado "por um tempo" por sua cliente devido à situação de vulnerabilidade da mãe.
Salvador afirmou que os dois foram presos quando levavam a criança para o Fórum do Tatuapé, onde pretendiam entregar para um promotor da Infância e Juventude.
"A gente achou prudente entregar [a criança] no fórum porque [a mãe] nos disse que estava em um ambiente tóxico, de vulnerabilidade", afirmou a advogada. "Como ela é habilitada para processo de adoção, achamos prudente entregar a criança no fórum."
Marcelo Veleze confirmou ter conhecido a mãe do menino em um grupo de mulheres com interesse em doar crianças e a apresentado a Roberta, segundo as advogadas Laryssa Nartis e Khatarine Grimza.
"Ela falou que, caso ele não pegasse a criança, ela poderia cometer uma loucura", disseram. "Ele não tinha mais contato com a mãe, ela é que veio procurá-lo agora."
De acordo com as defensoras, Veleze não assediou a mãe do menino.
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