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Investimentos de clubes em atletas crescem, mas dívidas preocupam; Flamengo é ponto fora da curva

Os investimentos dos clubes da Série A na contratação de atletas atingiram o maior valor da série histórica em 2022.

Por Midia NAS em 17/06/2023 às 09:01:25

Investimentos

Os clubes da Série A de 2022 gastaram um total de R$ 1,758 bilhão no ano passado com contratação de atletas, categorias de base e infraestrutura. Um aumento de 29% em relação aos R$ 1,358 bilhão investidos em 2021.

Quando coloca-se a lupa sobre esses valores é possível perceber que o grande responsável por isso foi a prioridade pela aquisição de novos atletas nos elencos. O montante destinados às categorias de base e infraestrutura permaneceu praticamente o mesmo de 2021. Confira mais no gráfico abaixo:

O aumento dos gastos com o elenco profissional em 2022 foi puxado por dois times cariocas: Botafogo e Flamengo – 64% do valor incremental veio da dupla. Quase todos os clubes aumentaram os investimentos com o time principal no ano passado, com exceção de Atlético-MG, Bragantino, Grêmio e Palmeiras.

É importante ressaltar, porém, que alguns clubes gastaram além do que podiam. A preocupação por uma melhora no desempenho esportivo no ano é um dos motivos para os dirigentes assumirem mais compromissos financeiros do que o recomendável. Veja o panorama abaixo:

Relação entre investimentos e EBTIDA — Foto: Reprodução

Dívidas dos clubes brasileiros

O somatório da dívida dos clubes da elite ultrapassou a casa dos 10 bilhões de reais no último ano. Um aumento de 8,9% em relação aos 9,178 bilhões de 2021. São R$ 3,338 bilhões de passivos onerosos, R$ 3,233 bi de dívidas operacionais e mais R$ 4,147 bilhões em impostos e acordos. Isso tudo descontando os 718 milhões disponíveis em caixa.

O ponto positivo foi um pequeno aumento percentual no alongamento das dívidas. Houve uma redução de dois pontos percentuais das obrigações imediatas, de curto prazo. Confira:

Composição das dívidas — Foto: Reprodução

A situação dos débitos de cada clube brasileiro varia bastante. A maioria aumentou o passivo de 2021 para 2022. Apenas Avaí, Coritiba, Cuiabá, Flamengo, Goiás e Juventude fugiram da regra e conseguiram diminuir o quanto cada um deve. Por exemplo, As dívidas do Coxa foram reduzidas graças ao processo de Recuperação Judicial ao qual o clube passou.

Na outra ponta, o Atlético-MG segue com a maior dívida do Brasil: R$ 1,498 bilhões de reais – número que cresceu 14% em 2022. Outro clube com passivos na casa do bilhão é o Corinthians, que viu suas obrigações aumentarem 7% de 2021 para 2022.

Maiores dívidas de 2022

Clube 2021 (em milhões) 2022 (em milhões) Variação Var. %
Atlético MG 1315 1498 183 14%
Corinthians 963 1029 66 7%
Cruzeiro 723 800 77 11%
Vasco 710 715 5 1%
São Paulo 632 698 66 10%
Botafogo 465 614 149 32%
Fluminense 501 612 110 22%
Internacional 578 604 27 5%
Athletico 450 601 151 34%
Bragantino 331 526 195 59%
Santos 448 482 35 8%
Palmeiras 449 462 13 3%
Grêmio 236 330 94 40%
Flamengo 450 327 -123 -27%
Bahia 176 276 100 57%
Coritiba 225 188 -37 -16%
América MG 101 133 32 32%
Avai 96 73 -23 -24%
Fortaleza 43 60 18 42%
Ceará 49 56 6 12%
Juventude 29 24 -5 -17%
Goias 44 24 -20 -45%
Atlético GO 7 12 5 71%
Cuiabá 11 3 -8 -73%
Fonte: Convocados, Galapagos e OutField

Vale destacar que os números acima são feitos com base nos próprios balanços dos clubes, mas analisados com critérios técnicos específicos, como a exclusão da posição de disponibilidades (caixa) da soma total das dívidas. O São Paulo discorda dos valores apresentados e relata que a dívida caiu de R$ 642,4 milhões para R$ 586,5 milhões em 2022.

Os números das SAFs são a soma entre suas dívidas e as dívidas das associações. Especialista em gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti ponderou os riscos desses grandes passivos:

– Alguns clubes precisam de maior atenção ao endividamento. Há riscos de clubes ficarem insustentáveis por conta da necessidade de honrar dívidas. Infelizmente, os exemplos de Botafogo, Cruzeiro e Vasco parecem pouco. Os clubes viraram SAF, e ainda assim mostram como é complexo recuperar a competitividade perdida. Quem não se atentar a isso e acreditar que haverá uma saída mágica pode ter problemas insolúveis.

O estudo fez ainda uma projeção para avaliar quantos anos cada clube levaria para conseguir acabar com as dívidas, caso as equipes utilizassem 20% das receitas médias anuais do últimos quatro anos (2019 a 2022) para pagá-las.

Atlético-MG (20,9 anos), Cruzeiro (19,9), Botafogo (18,8), Vasco (17,5) e Bragantino (12) são os clubes que levariam mais tempo para concluir a árdua missão de zerar o passivo. Cuiabá (0,2), Atlético-GO (0,8), Goiás (1,2), Flamengo (1,6) e Fortaleza (1,8) seriam os mais rápidos a conseguirem tal feito. Veja a lista completa abaixo:

Para Grafietti, a solução para uma melhor gestão financeira dos clubes passa por uma maior eficiência nos gastos.

– Gastar melhor o pouco que tem. Aumentar as receitas é difícil, então melhorar seu uso é o ideal. E reestruturar as dívidas para que caibam no bolso. Leva tempo, sacrifica a competitividade atual, mas é uma forma de pensar no clube a longo prazo – destacou o sócio da consultoria Convocados.

Receitas

 

Os clubes da elite do Brasil arrecadaram um total de R$ 6,915 bilhões em 2022. Número ligeiramente inferior aos R$ 6,939 bi de 2021 e 0,7% maior que 2019 (R$ 6,867 bi), quando se vivia um cenário pré-pandemia.

Houve evolução nas receitas recorrentes (aquelas que não dependem de eventos extraordinários como vendas de atletas). Foram R$ 5,757 bilhões em 2022 contra R$ 5,298 bi de 2019. O aumento da participação das receitas recorrentes indica que houve uma menor presença das cifras com negociação de jogadores. De acordo com o relatório, houve um aumento nas receitas com publicidade (de 11% em 2019 para 19% em 2022) e com o torcedor (14% para 15%). Confira:

Detalhamento das receitas dos clubes — Foto: Reprodução

Entre os clubes, Flamengo e Corinthians se destacaram com as duas maiores receitas recorrentes da temporada: R$ 1,043 bilhão e R$ 633 milhões, respectivamente. Com bom desempenho na Libertadores e no Brasileirão, o Fortaleza também demonstrou bons números, com aumento de 36% nas cifras (240 milhões de reais).

Ao analisar as receitas totais, o Flamengo segue destoando dos demais clubes. Com R$ 1,170 bilhão arrecadados em 2022, o time carioca teve uma receita de 379 milhões de reais a mais do que o segundo melhor (Palmeiras). Só o Flamengo foi responsável por 16,9% do total acumulado pelos clubes da Série A no ano passado.

Existe uma clara concentração de receitas na elite do Brasil. Flamengo, Palmeiras, Corinthians e São Paulo foram responsáveis por 49% do total arrecadado. Na sequência, um bloco de sete clubes representou 35% das cifras totais: Atlético-MG, Internacional, Bragantino, Fluminense, Santos, Athletico-PR e Fortaleza. Logo, apenas 11 clubes concentram 84% das receitas.

Maiores receitas em 2022

Clube 2021 (em milhões) 2022 (em milhões) Diferença VAR (%)
Flamengo 1115 1170 56 5%
Palmeiras 963 791 -173 -18%
Corinthians 534 737 203 38%
São Paulo 492 661 169 34%
Atlético MG 535 422 -113 -21%
Internacional 404 415 11 3%
RB Bragantino 308 353 45 15%
Fluminense 342 339 (3) -1%
Santos 394 329 -64 -16%
Athletico 280 326 46 16%
Grêmio 492 299 -193 -39%
Fortaleza 180 259 79 44%
Coritiba 93 164 71 76%
Vasco 197 153 -44 -22%
Cruzeiro 162 150 -12 -7%
Ceará 148 150 2 1%
America MG 107 149 41 38%
Botafogo 129 142 13 10%
Cuiaba 74 133 59 79%
Bahia 212 107 -105 -50%
Goias 53 107 53 100%
Atlético GO 120 100 -20 -16%
Avai 27 92 65 241%
Juventude 72 76 4 5%
Fonte: Convocados, Galapagos e OutField

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