Investimentos
Os clubes da Série A de 2022 gastaram um total de R$ 1,758 bilhão no ano passado com contratação de atletas, categorias de base e infraestrutura. Um aumento de 29% em relação aos R$ 1,358 bilhão investidos em 2021.
Quando coloca-se a lupa sobre esses valores é possível perceber que o grande responsável por isso foi a prioridade pela aquisição de novos atletas nos elencos. O montante destinados às categorias de base e infraestrutura permaneceu praticamente o mesmo de 2021. Confira mais no gráfico abaixo:
O aumento dos gastos com o elenco profissional em 2022 foi puxado por dois times cariocas: Botafogo e Flamengo – 64% do valor incremental veio da dupla. Quase todos os clubes aumentaram os investimentos com o time principal no ano passado, com exceção de Atlético-MG, Bragantino, Grêmio e Palmeiras.
É importante ressaltar, porém, que alguns clubes gastaram além do que podiam. A preocupação por uma melhora no desempenho esportivo no ano é um dos motivos para os dirigentes assumirem mais compromissos financeiros do que o recomendável. Veja o panorama abaixo:
O somatório da dívida dos clubes da elite ultrapassou a casa dos 10 bilhões de reais no último ano. Um aumento de 8,9% em relação aos 9,178 bilhões de 2021. São R$ 3,338 bilhões de passivos onerosos, R$ 3,233 bi de dívidas operacionais e mais R$ 4,147 bilhões em impostos e acordos. Isso tudo descontando os 718 milhões disponíveis em caixa.
O ponto positivo foi um pequeno aumento percentual no alongamento das dívidas. Houve uma redução de dois pontos percentuais das obrigações imediatas, de curto prazo. Confira:
A situação dos débitos de cada clube brasileiro varia bastante. A maioria aumentou o passivo de 2021 para 2022. Apenas Avaí, Coritiba, Cuiabá, Flamengo, Goiás e Juventude fugiram da regra e conseguiram diminuir o quanto cada um deve. Por exemplo, As dívidas do Coxa foram reduzidas graças ao processo de Recuperação Judicial ao qual o clube passou.
Na outra ponta, o Atlético-MG segue com a maior dívida do Brasil: R$ 1,498 bilhões de reais – número que cresceu 14% em 2022. Outro clube com passivos na casa do bilhão é o Corinthians, que viu suas obrigações aumentarem 7% de 2021 para 2022.
Maiores dívidas de 2022
Clube | 2021 (em milhões) | 2022 (em milhões) | Variação | Var. % |
Atlético MG | 1315 | 1498 | 183 | 14% |
Corinthians | 963 | 1029 | 66 | 7% |
Cruzeiro | 723 | 800 | 77 | 11% |
Vasco | 710 | 715 | 5 | 1% |
São Paulo | 632 | 698 | 66 | 10% |
Botafogo | 465 | 614 | 149 | 32% |
Fluminense | 501 | 612 | 110 | 22% |
Internacional | 578 | 604 | 27 | 5% |
Athletico | 450 | 601 | 151 | 34% |
Bragantino | 331 | 526 | 195 | 59% |
Santos | 448 | 482 | 35 | 8% |
Palmeiras | 449 | 462 | 13 | 3% |
Grêmio | 236 | 330 | 94 | 40% |
Flamengo | 450 | 327 | -123 | -27% |
Bahia | 176 | 276 | 100 | 57% |
Coritiba | 225 | 188 | -37 | -16% |
América MG | 101 | 133 | 32 | 32% |
Avai | 96 | 73 | -23 | -24% |
Fortaleza | 43 | 60 | 18 | 42% |
Ceará | 49 | 56 | 6 | 12% |
Juventude | 29 | 24 | -5 | -17% |
Goias | 44 | 24 | -20 | -45% |
Atlético GO | 7 | 12 | 5 | 71% |
Cuiabá | 11 | 3 | -8 | -73% |
Vale destacar que os números acima são feitos com base nos próprios balanços dos clubes, mas analisados com critérios técnicos específicos, como a exclusão da posição de disponibilidades (caixa) da soma total das dívidas. O São Paulo discorda dos valores apresentados e relata que a dívida caiu de R$ 642,4 milhões para R$ 586,5 milhões em 2022.
Os números das SAFs são a soma entre suas dívidas e as dívidas das associações. Especialista em gestão e finanças do esporte, Cesar Grafietti ponderou os riscos desses grandes passivos:
– Alguns clubes precisam de maior atenção ao endividamento. Há riscos de clubes ficarem insustentáveis por conta da necessidade de honrar dívidas. Infelizmente, os exemplos de Botafogo, Cruzeiro e Vasco parecem pouco. Os clubes viraram SAF, e ainda assim mostram como é complexo recuperar a competitividade perdida. Quem não se atentar a isso e acreditar que haverá uma saída mágica pode ter problemas insolúveis.
O estudo fez ainda uma projeção para avaliar quantos anos cada clube levaria para conseguir acabar com as dívidas, caso as equipes utilizassem 20% das receitas médias anuais do últimos quatro anos (2019 a 2022) para pagá-las.
Atlético-MG (20,9 anos), Cruzeiro (19,9), Botafogo (18,8), Vasco (17,5) e Bragantino (12) são os clubes que levariam mais tempo para concluir a árdua missão de zerar o passivo. Cuiabá (0,2), Atlético-GO (0,8), Goiás (1,2), Flamengo (1,6) e Fortaleza (1,8) seriam os mais rápidos a conseguirem tal feito. Veja a lista completa abaixo:
Para Grafietti, a solução para uma melhor gestão financeira dos clubes passa por uma maior eficiência nos gastos.
– Gastar melhor o pouco que tem. Aumentar as receitas é difícil, então melhorar seu uso é o ideal. E reestruturar as dívidas para que caibam no bolso. Leva tempo, sacrifica a competitividade atual, mas é uma forma de pensar no clube a longo prazo – destacou o sócio da consultoria Convocados.
Os clubes da elite do Brasil arrecadaram um total de R$ 6,915 bilhões em 2022. Número ligeiramente inferior aos R$ 6,939 bi de 2021 e 0,7% maior que 2019 (R$ 6,867 bi), quando se vivia um cenário pré-pandemia.
Houve evolução nas receitas recorrentes (aquelas que não dependem de eventos extraordinários como vendas de atletas). Foram R$ 5,757 bilhões em 2022 contra R$ 5,298 bi de 2019. O aumento da participação das receitas recorrentes indica que houve uma menor presença das cifras com negociação de jogadores. De acordo com o relatório, houve um aumento nas receitas com publicidade (de 11% em 2019 para 19% em 2022) e com o torcedor (14% para 15%). Confira:
Entre os clubes, Flamengo e Corinthians se destacaram com as duas maiores receitas recorrentes da temporada: R$ 1,043 bilhão e R$ 633 milhões, respectivamente. Com bom desempenho na Libertadores e no Brasileirão, o Fortaleza também demonstrou bons números, com aumento de 36% nas cifras (240 milhões de reais).
Ao analisar as receitas totais, o Flamengo segue destoando dos demais clubes. Com R$ 1,170 bilhão arrecadados em 2022, o time carioca teve uma receita de 379 milhões de reais a mais do que o segundo melhor (Palmeiras). Só o Flamengo foi responsável por 16,9% do total acumulado pelos clubes da Série A no ano passado.
Existe uma clara concentração de receitas na elite do Brasil. Flamengo, Palmeiras, Corinthians e São Paulo foram responsáveis por 49% do total arrecadado. Na sequência, um bloco de sete clubes representou 35% das cifras totais: Atlético-MG, Internacional, Bragantino, Fluminense, Santos, Athletico-PR e Fortaleza. Logo, apenas 11 clubes concentram 84% das receitas.
Maiores receitas em 2022
Clube | 2021 (em milhões) | 2022 (em milhões) | Diferença | VAR (%) |
Flamengo | 1115 | 1170 | 56 | 5% |
Palmeiras | 963 | 791 | -173 | -18% |
Corinthians | 534 | 737 | 203 | 38% |
São Paulo | 492 | 661 | 169 | 34% |
Atlético MG | 535 | 422 | -113 | -21% |
Internacional | 404 | 415 | 11 | 3% |
RB Bragantino | 308 | 353 | 45 | 15% |
Fluminense | 342 | 339 | (3) | -1% |
Santos | 394 | 329 | -64 | -16% |
Athletico | 280 | 326 | 46 | 16% |
Grêmio | 492 | 299 | -193 | -39% |
Fortaleza | 180 | 259 | 79 | 44% |
Coritiba | 93 | 164 | 71 | 76% |
Vasco | 197 | 153 | -44 | -22% |
Cruzeiro | 162 | 150 | -12 | -7% |
Ceará | 148 | 150 | 2 | 1% |
America MG | 107 | 149 | 41 | 38% |
Botafogo | 129 | 142 | 13 | 10% |
Cuiaba | 74 | 133 | 59 | 79% |
Bahia | 212 | 107 | -105 | -50% |
Goias | 53 | 107 | 53 | 100% |
Atlético GO | 120 | 100 | -20 | -16% |
Avai | 27 | 92 | 65 | 241% |
Juventude | 72 | 76 | 4 | 5% |