O consultor do Sebrae-PR Odemir Capello fala da relação das IGs com o turismo - TV Brasil
"A goiaba chega bem na Europa, o pessoal gostou muito da proposta da goiaba lá, que é considerado um produto exótico", ressalta o consultor do Sebrae Paraná Odemir Capello.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) - tanto o nacional quanto os estaduais - tem ajudado a mapear e a implementar as Indicações Geográficas pelo Brasil. Atualmente, já são 92 devidamente reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
A analista de inovação do Sebrae Nacional, Hulda Giesbrecht, explica que 69 são da modalidade indicação de procedência, que tem o registro baseado na reputação da região em produzir determinado produto, e 23 são da modalidade denominação de origem, em que se há uma comprovação por estudo técnico científico das características e qualidades do produto com os fatores naturais e humanos da região. No caso da IG Carlópolis, a goiaba é uma Indicação de Procedência.
As Indicações Geográficas foram reconhecidas a partir da lei da propriedade industrial em 1996. "Você reúne todas as informações de conhecimento tradicional de produção de um produto, toda a história de produção e isso é documentado e levado ao INPI, que reconhece esse registro. A partir daí os produtores que estão instalados nessa área demarcada e que produzem de acordo com o que está definido no caderno de especificações técnicas do produto têm o direito de usar o selo da Indicação Geográfica", afirma Hulda.
De acordo com o diretor de Marca, Desenhos Industriais e Indicações Geográficas do INPI, Felipe Augusto de Oliveira, a IG é o ativo de propriedade intelectual mais sofisticado que existe. "Permite que o produto tenha um diferencial competitivo, principalmente com relação a valor premium que pode ser colocado neste produto no mercado - ou seja, a gente tem uma tendência de elevação, a partir do momento que o produto recebe uma Indicação Geográfica, em torno de 20 a 50%."
Gastronomia e turismo
A estância Pedra do Índio oferece lazer e tem a maior tirolesa do Paraná - TV Brasil
A região denominada norte pioneiro do Paraná, que inclui Carlópolis e Ribeirão Claro, tem a IG da goiaba e também a IG do café, além de uma represa com paisagens naturais que impressionam os visitantes. Em dezembro de 2019, foi instituída por lei como Área Especial de Interesse Turístico e chamada oficialmente de Angra Doce, em comparação à beleza da marítima Angra dos Reis (RJ). Angra Doce, por sua vez, compreende o reservatório da Usina Hidrelétrica de Chavantes e seu entorno, nos estados do Paraná e de São Paulo.
Um dos locais que oferecem atividades de lazer, aventura e contemplação é a Estância Pedra do Índio, em Ribeirão Claro. A gerente administrativa da Estância, Edilaine Faganelli Hernan, descreve a paisagem: "são várias ilhas, ela é bem montanhosa, o que deixa mais bonito e mais parecido com Angra dos Reis".
A Estância também oferece voo de parapente e a maior tirolesa do Paraná, com um quilômetro de extensão e 128 metros de altura. A Pedra do Índio que dá o nome à Estância, é uma pedra que tem o formato do rosto de um índio e foi esculpida por eventos naturais ao longo dos anos.
O consultor do Sebrae Paraná Odemir Capello destaca a relação das Indicações Geográficas com o turismo. "A rota das IGs, nós já estamos pensando nisso, como uma forma também de agregar valor às pequenas propriedades. Na Itália, na região da Emilia Romagna, que tem aproximadamente 400 indicações geográficas, é possível ver os produtos sendo consumidos".
Fatores que diferenciam a goiaba de Carlópolis são a espessura da casca e o tamanho da fruta - Divulgação/Emater-DF
E já existem empreendedores criativos em Carlópolis que aproveitam o potencial turístico-gastronômico da goiaba, do café e da represa em seus negócios.
Bernadete Garcia Ribeiro Dyniewicz é proprietária do Parque Vila do Café, um sítio à beira da represa que pertence à família dela desde a década de 1950 e que hoje é aberto a visitantes, com agendamento. Quitutes de goiaba e de café deixam o passeio dos visitantes ainda mais atrativo. O paisagismo também é destaque no Parque Vila do Café, onde foram plantadas 3 mil mudas de 20 espécies nativas, além do jardim das rosas, com 2 mil pés de rosa. "Com certeza o café e a goiaba estão sendo uma uma mola propulsora do turismo na região. E a gente vê que a situação social da população está melhorando bastante, isso é muito gratificante", observa Bernadete.
Graduado em Tecnologia da Informação (TI) em Curitiba, Rodrigo Amaral largou o trabalho em uma empresa de TI na capital paranaense e voltou a Carlópolis, cidade natal, para ajudar o pai, proprietário do Caldo de Cana Amaral. Ele acreditou no potencial dos produtos com Indicação Geográfica e criou o pastel Romeu e Julieta, recheado de goiabada e queijo, mas com a inusitada massa de café. "Junto com o fornecedor de massa, nós fomos chegar nesse ponto, deu um pouco de trabalho, às vezes ficava muito forte, às vezes muito fraco, até equilibrar mesmo o gosto do café", relembra Rodrigo. Ele já chegou a vender mais de 2 mil pastéis em um final de semana. Antes de criar novos sabores regionais, vendia em torno de 150 no máximo.
O casal Agostinho João Longo e Rosana Menegon Longo decidiu, há dois anos, dar um destino às frutas maduras desperdiçadas em Carlópolis. Eles criaram uma cachaça de goiaba e aproveitam a qualidade dos recursos hídricos da região para garantir o bom destilamento. Rosana explica que a água tem que ser sem cloro e que na casa onde vivem e em que funciona a Cachaçaria G&R a água é da mina. "A gente andava e via um monte de goiaba perdida e daí a gente sabe que o destilado americano é feito com fruta e a goiaba foi o carro chefe porque tem muito açúcar", complementa Agostinho.
Caminhos da Reportagem
O episódio "A goiaba que ganhou o mundo" vai ao ar amanhã (16), às 22 horas, na TV Brasil. Este é o segundo episódio da série especial do Caminhos da Reportagem "Riquezas da nossa terra", que estreou com um programa sobre a cachaça de Paraty. A série é uma parceria com o Sebrae e conta a história de produtos e produtores de localidades de todo o Brasil que conquistaram o reconhecimento de Indicação Geográfica. As equipes de reportagem viveram a experiência, com direito a experimentação dos produtos e muitas aventuras nos locais visitados, além de informação e investigação, características marcantes do Caminhos da Reportagem, programa mais premiado da TV Brasil.
Os outros dez episódios vão mostrar o cacau do sul da Bahia; o vinho, da Campanha Gaúcha; o guaraná de povos indígenas do Amazonas; o queijo marajoara do Pará; o bordado filé das Lagoas Mundaú- Manguaba, de Alagoas; o café da Serra da Mantiqueira, de Minas Gerais e outros produtos que são a cara do Brasil. Todos eles vão levar os telespectadores a conhecer e reconhecer essas riquezas.