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Cidades mais pobres têm maior queda de vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No intervalo de 2006 a 2020, a vacinação com a primeira dose da tríplice viral, indicada a partir dos 12 meses de idade para prevenir sarampo, caxumba e rubéola, apresentou uma queda anual de 1,2% em todo o país.


A redução geral documentada fez com que, em 2020, menos da metade dos municípios brasileiros, com exceção daqueles da região Sudeste, alcançassem a meta de cobertura de 95%.

A conclusão foi de um estudo publicado nesta terça (1°) na revista Plos Global Public Health. Assinada por autores brasileiros e do Reino Unido, a pesquisa compilou os dados da aplicação do imunizante em 5.565 municípios do Brasil entre 2006 e 2020.

Para chegar às conclusões apresentadas, os cientistas adotaram o IBP (Índice Brasileiro de Privação). Julia Pescarini, pesquisadora associada do Cidacs (Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde) da Fiocruz Bahia e uma das autoras do artigo, explica que o índice considera diferentes indicadores, como renda, composição familiar e posse de bens das pessoas que moram em um domicílio. A partir daí, são agrupados os dados de todo o município e então se chega a uma métrica sobre a privação material da cidade.

No estudo, os municípios foram estratificados em cinco grupos a depender do nível de IBP -por exemplo, havia um agrupamento das cidades com maior nível de privação, enquanto outro dos municípios com menor privação. Então, essa divisão foi comparada com os números de vacinação das cidades.

Os pesquisadores observaram que os locais com menor renda conforme o IBP eram as que tinham a maior cobertura vacinal geral com a tríplice viral. No entanto, esses também foram os municípios que mais apresentaram queda anual na primeira dose do imunizante -a diminuição, como citado anteriormente, foi de 1,6% nessas cidades e de 0,6% entre as mais ricas.

Nacionalmente, sem fazer distinção entre as cidades, a queda da primeira aplicação foi de 1,2% por ano.

"No Brasil todo, a cobertura da vacinação estava diminuindo já faz um tempo, mas estava caindo a uma velocidade um pouco mais baixa até 2014 ou 2015. Depois, ela começa a diminuir num ritmo um pouco mais acelerado e em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, ela cai bastante", resume Pescarini. Entre 2014 e 2019, por exemplo, houve redução de 2,3% a cada ano.

A crise sanitária pode explicar parcialmente a queda na cobertura, já que o cenário excepcional causado pelo Sars-CoV-2 interrompeu muitos serviços de saúde.

Por isso, a menor cobertura com a tríplice viral deve ter outros motivos. Um deles está relacionado a campanhas de vacinação. A pesquisadora afirma que, em meados de 2014, o Ministério da Saúde teve uma queda no orçamento, o que impactou o financiamento das campanhas, importantes para motivar a população a se vacinar.

Ela também menciona que é importante pensar em locais de vacinação modelados para a realidade do público-alvo da vacina. "Se a gente pensar em vacinação infantil, o melhor lugar é na escola", exemplifica. Muitas crianças deixaram de ser vacinadas na pandemia de Covid-19 e, até hoje, não tomaram todas as vacinas.

"Se não fizer isso, daqui a um ou dois anos a gente vai começar a ver vários surtos de todas as doenças que a vacina protege. É um perigo", afirma a pesquisadora.

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