Será uma decisão recheada de coincidências, que vão além das cores dos uniformes. Os treinadores nutrem uma sadia amizade há muitos anos - Dorival Júnior foi pupilo de Felipão no Grêmio, em 1993 -, mas estavam desempregados no início da temporada, os times têm como maestros dois uruguaios, Arrascaeta e Terans, além de xerifões experientes, David Luiz e Thiago Heleno, e atacantes que viraram unanimidade em suas respectivas agremiações, apontados como futuro da seleção brasileira.
Com somente 17 anos, Vitor Roque já é apontado como uma das grandes joias do futebol canarinho. O menino foi responsável por calar La Plata, anotando o gol da vaga às semifinais, de cabeça, nos acréscimos diante do Estudiantes. Depois, fez a diferença contra o Palmeiras, com assistências nos dois jogos e ainda ao causar expulsão de Murilo com seus dribles e magia com a bola nos pés.
Pedro se tornou unanimidade no meio da área, deslocando Gabriel Barbosa para a beirada do campo no Flamengo. Hoje, o clamor no País é para que seja o camisa 9 de Tite na Copa do Mundo do Catar tamanha sua facilidade em se livrar de marcadores e anotar gols, sejam de cabeça ou com toques refinados. Não por acaso é o maior artilheiro do clube em uma única edição da Libertadores, superando até o ídolo Zico, graças a seus 12 gols.
Apesar das similaridades, Flamengo e Athletico-PR se destoam. E a diferença quando a bola rolar no Equador estará na maneira de os times jogarem. Os cariocas carregam mais entrosamento pelo tempo do conjunto - são três anos juntos, apenas com reposição de saídas pontuais -, e abusam da técnica e da velocidade, enquanto os paranaenses se "encontraram" após muitos testes de Felipão e rodagem do elenco e surpreendem pela garra e a facilidade em reviravoltas nas partidas. Não há bola perdida para o clube, retratando bem a virtude vinda de seu experiente comandante de 73 anos.
Além do cobiçado título continental e de passaporte para o Mundial de Clubes, está em jogo uma atrativa premiação financeira a quem erguer o troféu. O campeão da América embolsará US$ 16 milhões (aproximadamente R$ 85 milhões), mais que o dobro para o segundo colocado, que ficará com US$ 6 milhões (em torno de R$ 32 milhões).
Entre tantos candidatos a herói neste sábado, um nome aparece com grande relevância: Gabriel Barbosa. Mesmo jogando fora da área para auxiliar Pedro, o camisa 9 do Flamengo se agiganta em decisões. Foram dele os dois gols na improvável virada sobre o River Plate nos minutos finais na conquista de 2019. Também anotou para empatar a final de 11 meses atrás, contra o Palmeiras, antes de Deyverson ser decisivo ao Palmeiras.
Ainda remoendo aquela derrota, Gabigol espera pela redenção em Guayaquil. "Voltar para casa depois de uma derrota é terrível, doído. Sou um cara sentimental, sinto as partidas, por isso reclamo muito, não escondo o que sinto, e fiquei muito triste (com a perda para o Palmeiras). Mas sabia que teria outra oportunidade e falei logo depois que voltaria. Estamos aqui e espero que agora acabe feliz", afirma, confiante.
Aproveita, ainda, para mandar recado aos torcedores oponentes, que prometem persegui-lo quando receber a bola. "Gosto de pressão. Prefiro jogar no Maracanã, com todo mundo gritando meu nome e me aplaudindo, mas tento usar isso (vaias) de motivação. Espero que vaiem para ser um combustível a mais para mim."
Enquanto Dorival Júnior não esconde a equipe a ser mandada a campo, garantindo que "tudo foi feito com perfeição e agora é preciso comprovar em campo", Felipão despista sobre a escalação do Athletico-PR, com possibilidade de apostar na experiência de Pablo, com Terans mais adiantado, e deixar Vitor Roque como arma para a etapa final, quando o rival já estiver descansado.
"Fomos nos moldando ao longo das partidas e não somos apenas um grupo com 11, 12 jogadores. Quero usar 15, 16 e todos têm condições", valoriza o grupo Felipão, que já disputou um mata-mata contra os cariocas no ano e acabou eliminado, nas quartas de final da Copa do Brasil, com gol decisivo de Pedro. Buscará a vingança sem pregar guerra. "Dentro de campo seremos inimigos enquanto a bola estiver rolando. Depois, somos todos amigos."
A certeza é que Guayaquil celebrará um campeão inédito e também presenciará comemoração de tricampeonato. Felipão quer a terceira taça pessoal em um clube que falhou em sua única decisão até agora por aposentadoria perfeita. Já Dorival Júnior busca a maior conquista da carreira para se eternizar como comandante do terceiro título dos cariocas.