O Brasil está entre os países com pior desempenho no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), mostra o relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), nesta terça-feira, 5. O resultado analisa que a aprendizagem dos estudantes brasileiros se manteve baixa e estável desde 2009. Na comparação entre os testes de 2018 e 2022, as pontuações em matemática caíram de 384 para 379 pontos; em leitura, de 413 para 410; e em ciências, de 404 para 403, o que coloca o país na 65ª posição em Matemática, 52ª em Leitura e 62ª em Ciências. Os resultados médios foram quase os mesmos de 2018, com pontuações abaixo da média da OCDE nas três áreas, com variações pequenas, classificadas como insignificantes. Os testes avaliaram estudantes de 15 anos de 81 países ao redor do mundo.
Em matemática, apenas 27% dos alunos brasileiros alcançaram pelo menos o nível 2 de proficiência, significativamente abaixo da média da OCDE que é de 69%, e apenas 1% alcançou os resultados mais altos nessa área (níveis 5 ou 6), sendo que a média da OCDE é de 9%. Em países asiáticos, como Singapura e Japão, o nível 2 foi alcançado por mais de 85% dos alunos. Em leitura, o relatório diz que metade dos alunos brasileiros atingiu pelo menos o nível 2, mas apenas 2% alcançaram as pontuações mais altas nessa área. A porcentagem foi semelhante em ciências, 45% para aqueles que alcançaram pelo menos o nível 2, mas apenas 1% obteve os melhores resultados. Os exames foram aplicados entre abril e maio de 2022 em 606 escolas brasileiras de 420 municípios, nas 27 unidades da Federação, com pouco mais de 14 mil jovens selecionados para participar.
Na América Latina, outros países participantes da pesquisa seguem os mesmo passos do Brasil e se mantém na segunda parte da lista, são eles: Chile (posição 52) seguido pelo Uruguai (53), México (57), Peru (59), Costa Rica (63), Colômbia (64), Brasil (65), Argentina (66) e Panamá (74). Os chilenos são os que possuem o melhor desempenho na América Latina, com 412 pontos, o que o coloca no 52ª lugar em Matemática, 448 (37ª) em Leitura, 444 (43ª) em Ciências. O Paraguai, que participou do teste pela primeira vez, é o país que apresenta o menor índice de aprendizagem do continente. Suas pontuações e colocações foram: 338 (79ª), 373 (68ª) e 368 (74ª), respectivamente. O relatório também comparou os resultados dos alunos brasileiros com os dos seis países com melhor desempenho e os cinco mais populosos. Entre os que ficaram abaixo da média da OCDE (475 pontos) em todas as áreas, o Brasil ficou atrás de Estados Unidos e México, mas superou Indonésia e Filipinas. Os resultados também revelaram que os meninos superaram as meninas em matemática em 8 pontos, enquanto as meninas superaram os meninos em leitura em 17 pontos.
Apesar do desempenho brasileiro, ele não está sozinho entre aqueles que apresentaram um desempenho desfavorável. Isso porque a pontuação dos países ricos em Matemática e Leitura apresentaram a maior queda na história. “Os resultados do Pisa 2022 mostram uma queda no desempenho dos estudantes sem precedentes na história” do estudo, disse a jornalistas a analista de educação da OCDE, Irene Hu. A nova análise mostrou que um em cada quatro adolescentes de 15 aos tem baixo desempenho em Matemática, Leitura e Ciências. Em outras partes do mundo, o rendimento caiu, provocando “uma queda sem precedentes” no resultado geral, uma tendência “preocupante”, segundo o estudo. Alemanha, Islândia, Holanda, Noruega e Polônia, por exemplo, registraram resultados notavelmente mais baixos em matemática.
Ásia ocupa as primeiras posições
Os países da Ásia ficaram com as primeiras colocações do Pisa 2022. Singapura lidera as três matrizes de avaliação, o que, consequentemente, fez com que ficasse com o primeiro lugar na classificação. O país alcançou: 575 pontos em Matemática, 543 pontos em Leitura e 561 em Ciências. “Estes resultados sugerem que, em média, os estudantes singapurenses estão o equivalente a entre três e cinco anos de escolaridade à frente”, disse o relatório. Outros cinco sistemas educacionais asiáticos (Macau, Taiwan, Hong Kong, Japão e Coreia do Sul) são os próximos na classificação em matemática e também obtiveram alta pontuação em leitura e ciências. No teste de ciências, os alunos precisam mostrar conhecimentos de física, ciência e vida na Terra e no Universo, além de noções de iniciativas e explicações científicas. Já em matemática, é necessário formular, aplicar e interpretar a matemática em diferentes contextos, enquanto Leitura é preciso compreender e utilizar textos escritos, e também refletir sobre eles.
Pandemia não foi o problema
Apesar do isolamento e das restrições que foram obrigadas na pandemia de Covid-19, em que teve a necessidade do estudo remoto já que as escolas estavam fechadas, o relatório também mostra que o isolamento não foi o responsável por essas quedas, já era algo que vinha ocorrendo no decorrer dos anos. Apesar de ter contribuído, não foi o único fator. Países como Finlândia, Islândia e Suécia, que chegaram a ocupar as posições mais altas da classificação, enfrentam problemas como “o nível de apoio que os alunos recebem dos professores e funcionários das escolas”, disse a analista de educação da OCDE, Irene Hu. “Os países investiram em educação nos últimos dez anos, mas talvez não de maneira eficiente ou suficiente na qualidade do ensino”, disse Eric Charbonnier, outro analista da OCDE.
Quatro países latino-americanos estão na lanterna: Guatemala (77), El Salvador (78), República Dominicana (79) e Paraguai (80), à frente apenas do último colocado, o Camboja (81). Espanha ocupa a posição número 27 e Estados Unidos, a de 34. Segundo o estudo, as disparidades nos níveis de educação indicam que “o mundo já não está estritamente dividido entre nações ricas e bem educadas e nações pobres e mal educadas”. Embora exista alguma correlação entre gastos e rendimento acadêmico, “a história mostra que os países determinados a construir um sistema educacional de primeira classe podem alcançá-lo mesmo em circunstâncias econômicas adversas”.
Pela primeira vez, a OCDE também analisou, em um estudo separado, a felicidade dos estudantes, utilizando nove aspectos que incluem seu compromisso com a escola, seu bem-estar material, cultural e psicológico, além de sua abertura à diversidade. Este estudo mostrou que em Singapura, Macau e Taiwan, com os melhores resultados em matemática, “muitos alunos relataram ter um grande medo do fracasso e participação limitada em atividades extracurriculares, como esportes”. Já em países como Espanha e Peru, com notas mais baixas no Pisa, os pesquisadores encontraram frequentemente “níveis mais baixos de ansiedade e um maior foco nos esportes” entre os entrevistados.