Na novela de Benedito Ruy Barbosa, ela vivia a boia-fria Luana, personagem que tinha de lidar com constantes humilhações e com o assédio dos patrões. Pareceu familiar? Pois é. Quase três décadas depois, o quadro ainda se repete nas relações trabalhistas, principalmente nas que envolvem mulheres.
"Apesar de termos tido alguns avanços, estamos vivendo em uma realidade em que a fome e a miséria voltaram com força total. E isso sempre atinge em cheio as mulheres, sobretudo as mais pobres e que sustentam sozinhas famílias inteiras. Mulheres estão sempre mais vulneráveis à pobreza e acabam sofrendo assédio e uma diversidade de violências", diz, em entrevista à Folha de S.Paulo.
Pillar tinha 32 anos à época da primeira exibição da novela e, para viver Luana, passou por uma preparação imersiva para interpretar a moça simples e valente, que após uma tragédia familiar, invade terras em busca de melhores condições.
"Morei em uma casa bem simples durante 15 dias quando pude conviver com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Acordava 4h da manhã para trabalhar, aprendi a cortar cana, era um cotidiano de muito trabalho, em condições precárias", lembra.
Segundo ela, toda essa imersão a fez entender o modo de vida daquelas pessoas, completamente distante da sua realidade. "Acredito que quando a gente se aproxima da vida das pessoas, aprende a amá-las e respeitá-las. Isso foi fundamental para compor a Luana", reforça.
Na trama de Benedito Ruy Barbosa, muitos atores se destacaram, como Antonio Fagundes, na pele do pecuarista Bruno Mezenga. Ele acaba envolvido amorosamente com Luana, cujo passado era misterioso. Paralelo a esse amor estava a rivalidade entre os Mezenga e os Berdinazzi, famílias italianas que viviam em pé de guerra pelo poder das terras, narrativa central da obra.
Além disso, a novela tocou em outros temas relevantes, como a reforma agrária, algo que passou a ser discutido posteriormente entre as famílias brasileiras como peça fundamental na busca por mais igualdade.
Todo esse contexto fez com que "O Rei do Gado" se tornasse um marco na carreira de Patricia Pillar, hoje com mais de 40 anos de trajetória. "O Benedito é um homem que ama o campo e o brasileiro 'comum', então acredito que por isso o público se identifique tanto com seus personagens", finaliza a atriz.